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 A Grande Orquestra do Mundo

A Grande Orquestra do Mundo

By A Grande Orquestra do Mundo

Um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.
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Episódio 12 (Inédito) – Fernando Botero, o artista das Figuras Volumosas

A Grande Orquestra do MundoSep 27, 2023

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Episódio 12 (Inédito) – Fernando Botero, o artista das Figuras Volumosas

Episódio 12 (Inédito) – Fernando Botero, o artista das Figuras Volumosas

Neste episódio inédito – o último da temporada - uma homenagem ao pintor e escultor colombiano Fernando Botero, o artista dos volumes superdimensionados. Uma seleção de músicas colombianas acompanhará as pinceladas desse artista que ousou distorcer o mundo para poder enxergá-lo melhor. Música e pintura em conexão, ambas as linguagens tateando os mistérios da condição humana.

Sep 27, 202357:40
Episódio 11 – Edward Hopper, o artista da solidão urbana

Episódio 11 – Edward Hopper, o artista da solidão urbana

Neste episódio, Edward Hopper e o ritmo do jazz andarão juntos para retratar a solidão de uma grande metrópole americana. Música e pintura em conexão, ambas as linguagens tateando os mistérios da condição humana.

Sep 06, 202358:34
Episódio 9 – A arte pecaminosa de Hieronymus Bosch.

Episódio 9 – A arte pecaminosa de Hieronymus Bosch.

O quadro chama-se “O Jardim das Delícias Terrenas” do pintor holandês Hieronymus Bosch. Estamos diante de uma pintura monumental: um grande cosmo habitado por criaturas fantásticas e estranhas, cada uma delas protagonista de um espetáculo próprio. Há um contraste evidente entre o horizonte aberto, amplo e arejado... e o minúsculo dos pequenos afazeres das personagens. Planos narrativos são embaralhados em cenários variados. Em uma primeira leitura, esse circo em forma de mundo pode parecer misterioso e fora de foco. Com um pouco mais de atenção, Bosch nos seduz pelo assombro que provoca. Hieronymus Bosch é o regente de um universo caótico, belamente caótico!

A tela “O Jardim das Delícias Terrenas” foi interpretada de muitas maneiras. Diferente do senso comum, essa não é uma pintura sobre as liberalidades sexuais, ou então uma viagem psicodélica do período medieval. Não se trata de uma fantasia erótica de Bosch, tampouco um ataque herético à igreja. Não estamos diante de uma tela cujo autor é um membro de um obscuro culto em favor do amor livre. O Jardim das Delícias Terrenas é o cristianismo puro e simples. Uma reprodução às avessas – e por isso mesmo pedagógica – do Jardim do Éden. Uma pintura sobre o pecado.

Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade para experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.

  O programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura vai ao ar na Cultura FM às quintas-feiras no horário das 23h, com reprise aos sábados às 9 da manhã.

Jul 28, 202358:39
Episódio 10 – A arte tempestuosa de William Turner.

Episódio 10 – A arte tempestuosa de William Turner.

Turner nasceu no ano de 1775 e morreu em 1851. Neste período, o pintor britânico foi testemunha de uma grande transformação que mudaria para sempre os rumos da história: a revolução industrial. Uma nova era estava sendo criada, alimentada pela ciência e pela invenção tecnológica. A química, a eletricidade, as primeiras pesquisas que desembocariam no surgimento dos equipamentos de computação, novos motores, novas técnicas de engenharia, fábricas para todos os lados, os navios movidos à vapor..., tudo isso redimensionaria a arquitetura das cidades europeias, e, evidentemente, a maneira como os cidadãos se relacionavam com o mundo e com a sociedade.

Quase como um cronista de folhetim, Turner pintou a revolução industrial conforme ela acontecia diante dos olhos de seus contemporâneos... e, nesse processo, criou um novo tipo de arte. Um novo mundo estava sendo forjado e Turner, como nenhum outro artista, emprestou o seu talento para registrar o assombro daquilo que transcorria em tempo real. Os fenômenos da ciência começavam a produzir estalos de inspiração na mente do artista inglês..., faíscas que logo virariam combustão de cores em movimento nas telas do pintor.

Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade para experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.

 

O programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura vai ao ar na Cultura FM às quintas-feiras no horário das 23h, com reprise aos sábados às 9 da manhã. 

Jul 27, 202357:16
Episódio 8 – Salvador Dali, o mestre do surrealismo.

Episódio 8 – Salvador Dali, o mestre do surrealismo.

O que significa enxergar o mundo através de uma perspectiva surrealista? Dormir, e uma vez desconectado da realidade, ativar os nossos melhores pensamentos. Um canal de acesso aos sonhos. São eles, os sonhos, os olhos privilegiados que veem melhor aquilo que a razão em estado de vigília não consegue captar. E junto a isso vem a seguinte reflexão: será que nossos piores pesadelos não nos acometem justamente quando nos gabamos de estarmos despertos? Dormir, sonhar...

O pintor Salvador Dalí era obcecado por Sigmund Freud, o criador da psicanálise. E podemos dizer que desde muito cedo a vida do mestre do surrealismo foi carregada de um enredo – digamos assim – bastante freudiano. A mãe de Dalí deu à luz ao primeiro filho no ano de 1901. Ela batizou o bebê com o nome de “Salvador”. Infelizmente, o menino morreu com apenas 22 meses de vida. Nove meses depois nasceria outro menino, o Salvador que conhecemos, o pintor Salvador Dalí. A mãe o batizou com o mesmo nome do filho anterior, o irmão morto de Dalí. 

Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade para experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.

 O programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura vai ao ar na Cultura FM às quintas-feiras no horário das 23h, com reprise aos sábados às 9 da manhã.  Apresentação: Chico Carvalho.

Jul 12, 202358:03
Episódio 7 – Mark Rothko, o artista do expressionismo abstrato

Episódio 7 – Mark Rothko, o artista do expressionismo abstrato

Mark Rothko é um dos artistas mais célebres de sua geração, um dos principais nomes da arte pictórica do século 20. Pioneiro no expressionismo abstrato e no estilo de pintura batizado de color-field, ou campo de cores, Rothko sobrepõe formas retangulares nas telas, criando faixas horizontais onde as cores são estampadas. O resultado transmite um efeito de vibração, como se a própria luz emanasse dos pigmentos impressos.
Embora um artista renomado e requisitado, ele odiava os museus, que dizia parecerem verdadeiros mausoléus. Arte morta. Sem vida. Tinha o sonho de construir uma capela onde pudesse instalar seus trabalhos... Talvez em um ambiente preparado ele pudesse se comunicar com sinceridade com os espectadores. Afinal, um quadro não é só aquilo que é pregado a uma parede, mas uma parte de uma experiência maior, e, se possível, transformadora.
Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade para experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.

O programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura vai ao ar na Cultura FM às quintas-feiras no horário das 23h, com reprise aos sábados às 9 da manhã.

A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura em episódios semanais.
Apresentação: Chico Carvalho.

Jul 06, 202358:07
Episódio 6 – Katsushika Hokusai, o artista das imagens de um mundo flutuante

Episódio 6 – Katsushika Hokusai, o artista das imagens de um mundo flutuante

Uma ética do espaço, e do tempo. Essa é a maneira como o artista japonês Hokusai desenha as suas imagens, em especial as paisagens. É como se ele canalizasse toda a sua energia criativa para dar conta das formas e dos sons que compõem uma determinada fatia de tempo e de espaço. A moldura da cena é mais importante do que o detalhe. A lógica cartesiana de uma imagem composta por eixos fixos não tem vez nesse tipo de abordagem. A situação retratada não se interessa tanto por reviver um clímax de ação, por um conflito específico..., as personagens não são identificáveis em suas particulares psicologias, em geral, elas são todas diminutas em relação às forças da natureza que as cercam. Há um mundo em movimento dentro de um instante de transição. O que importa em Hokusai é o pôr do sol, a beleza de uma cachoeira, a ferocidade das ondas do mar. Sensações para além de pensamentos e estados emocionais.
Hokusai nasceu em 1760 e fez sua reputação ainda adolescente, pintando retratos de atores do teatro kabuki para xilogravuras. Mais tarde ele deixaria de lado as imagens de celebridade e passaria a se dedicar às paisagens..., e imagens do cotidiano do povo japonês. Essa mudança foi uma verdadeira revolução, e tornou o trabalho de Hokusai mais procurado em todo o Japão.
Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade para experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.

O programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura vai ao ar na Cultura FM às quintas-feiras no horário das 23h, com reprise aos sábados às 9 da manhã.
A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura em episódios semanais.
Apresentação: Chico Carvalho.

Jul 06, 202357:59
Episódio 5 – Edvard Munch, o mestre do Simbolismo

Episódio 5 – Edvard Munch, o mestre do Simbolismo

Estamos nos fiordes de Oslo. Ao fundo, montanhas. Há veleiros ao longe. Dois amigos de Munch caminham atrás dele. O rosto do protagonista parece uma caveira – talvez a representação do tumulto que habita seu estado interior. Só se veem um olhar e uma boca bem aberta, esticada para baixo, retorcida, sugerindo um volumoso grito – um grito tão alto que é capaz de perfurar os nossos tímpanos – um grito jamais ouvido, um grito ancestral, tão doloroso que remonta nossa solidão mais primária. Os olhos estão igualmente assustados e perdidos. Como todo o restante do corpo, não são olhos completos, são esboços de olhos, mais parecidos com orifícios... há neles há mesma força primitiva que vemos na boca aberta. Olhos precários e igualmente sonoros. Tudo parece ser levado por um furacão extraordinário. Um furacão de chamas que incendeiam o céu. A paisagem parece se contorcer de dor.
Edvard Munch nasceu no ano de 1863 na cidade de Loten, na Noruega. Filho do doutor Christian Munch e de sua esposa Laura. Edvard tinha ao todo 3 irmãs: Sophie, Laura e Inga, e mais um irmão de nome Andreas. Mas a vida familiar foi muito difícil. Em 1868, quando Edvard tinha apenas 5 anos de idade, a mãe morreu de tuberculose. Seu pai caiu em profunda depressão. Então, para tomar conta das crianças, a irmã de Christian, Karen, assumiu os afazeres da falecida esposa. A tragédia foi agravada quando em 1877, a irmã de Munch, Sophie, também sucumbiu da mesma doença: tuberculose. Ela tinha somente 15 anos, e Munch, 14.
Paixão e angústia, são duas palavras que resumem o trabalho do pintor norueguês Edvard Munch. Suas figuras parecem suspensas em gestos eloquentes difíceis de expressar em palavras, mas nós os entendemos perfeitamente bem. O mais interessante aqui talvez seja a perda da individualidade manifestada pelo apagamento das expressões do rosto. Munch adora pintar figuras humanas cujas expressões aparecem apagadas, feito máscaras teatrais de alguma ancestralidade perdida... Máscaras sombrias que, se por um lado anulam o indivíduo em sua singularidade, por outro deixam revelar sonhos, aflições, sofrimento... e pesadelos. Sentimentos comuns a todos nós.
Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade para experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.
O programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura vai ao ar na Cultura FM às quintas-feiras no horário das 23h, com reprise aos sábados às 9 da manhã.

Jul 06, 202358:21
Episódio 4 – Claude Monet, o mestre do Impressionismo

Episódio 4 – Claude Monet, o mestre do Impressionismo

França. Estamos no ano de 1890. O cenário é o vilarejo de Giverny em uma tarde de primavera. A centenas de quilômetros dali a classe operária comemora a criação do feriado do dia Primeiro de Maio. O movimento iniciado décadas antes pela Revolução Industrial alterava de forma irreversível os pilares da sociedade. Mas nenhuma agitação parecia perturbar a calmaria do vilarejo de Giverny. O Rio Senna corria ali perto com suas águas preguiçosas, já muito distantes da correnteza apressada do centro urbano de Paris. Neste endereço interiorano existe uma pequena granja, uma construção discreta, quase humilde. Uma edificação que se estivesse no centro de uma partitura musical seria uma pausa em meio aos arpejos da orquestra.
Pense numa paisagem, mas pense sobretudo no Tempo agindo sobre os elementos desta paisagem. Mesmo que fosse possível registrar cada instante daquilo que vemos, estaríamos sempre em descompasso com a dinâmica ininterrupta do escoamento do tempo. Nosso olhar privilegiado é também atingido por essa força que a tudo faz transformar. Assim, uma reprodução fiel desta paisagem não seria a sua cópia, mas a sensação do intervalo entre um instante e outro. Um borrão é mais honesto do que a limpidez das cores em conformidade com as proporções. Se o mundo fosse uma Grande Orquestra seria o Tempo o regente de todas as sinfonias. É por intermédio dele que os naipes dos instrumentos são autorizados a entrar e sair de cena. É o Tempo quem nos indica a incompletude da vida. Do seu compasso nunca estamos indiferentes...
A pintura é incompleta quase a ponto de estar fora de foco. E esse é o grande triunfo do pintor Claude Monet. Não importa que prédios, água e céu se dissolvam em uma paisagem nebulosa. É justamente essa falta de definição que preenche a cena de vida. É justamente por aí que a imaginação do espectador é acionada, sendo ele atraído para a narrativa da pintura como se ela fosse um filme em movimento, como se a imagem estivesse na iminência de avançar para outro quadro.
Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade para experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.

O programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura vai ao ar na Cultura FM às quintas-feiras no horário das 23h, com reprise aos sábados às 9 da manhã.

Jul 06, 202358:24
Episódio 3 – Vincent Van Gogh, o mestre da cores

Episódio 3 – Vincent Van Gogh, o mestre da cores

Paris. Fevereiro do ano de 1888. O frio úmido da capital francesa mistura-se aos vapores do trem recém-chegado na estação. A paisagem melancólica do inverno europeu parece combinar com a fumaça expelida pela chaminé da do comboio – uma mesma massa branca que faz o tempo estacionar em compassos melancólicos. Na plataforma da estação, um homem de ombros largos, cabelos ruivos e barba espessa rompe a imobilidade da cena. Com passos lentos, ele caminha para entrar na composição. O destino é a região da Provença, sul do país, lá onde a promessa é a de dias mais amenos e mais acalentadores... Este poderia ser um personagem qualquer perdido em suas crises pessoais no meio das páginas da história, não se chamasse ele Vincent Van Gogh, o pintor e mestre absoluto das cores.
Van Gogh é conhecido por nós por suas telas luminosas e coloridas. Ele desejava que a pintura funcionasse como uma espécie de evangelho, um canal de acesso a visões intensas. A labuta deprimente e enfadonha do homem comum e sua penosa caminhada pela vida se converteriam num enlace amoroso com a natureza, numa revelação do infinito aqui na terra. Para Van Gogh, a arte tinha uma função religiosa. Um quadro era ele próprio a expressão manifesta de uma revelação.
Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade para experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.
O programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura vai ao ar na Cultura FM às quintas-feiras no horário das 23h, com reprise aos sábados às 9 da manhã.

Jul 06, 202358:04
Episódio 2 – Pablo Picasso, o mestre espanhol do cubismo

Episódio 2 – Pablo Picasso, o mestre espanhol do cubismo

Ano de 1937. Estamos no porto de Le Havre, no noroeste da França, região da Normandia. O clima político na Europa não é dos mais favoráveis, contrastando com o céu azul e a brisa fresca daquela manhã de primavera. Hitler já estava no poder desde 1933 quando uma votação popular alçou o líder nazista ao comando do Estado Alemão. Prevendo o pior, uma fileira de homens e mulheres espera ansiosamente pelo embarque a bordo do Normandie, um luxuoso navio de passageiros que opera rotas transatlânticas. Destino? Fugir para bem longe dos problemas e aportar no outro lado do oceano, nas terras calmas dos Estados Unidos da América.
Mais abaixo, uma escotilha do compartimento de cargas está aberta e funcionários do porto levam para dentro da embarcação enormes placas cuidadosamente embrulhadas com um papel de cor neutra. Poderia ser um carregamento qualquer não fossem aqueles pedaços independentes as peças de um grande mosaico que mudaria a história da pintura. O retrato estilizado e teatral dos efeitos de um bombardeio aéreo ocorrido naquele ano de 1937 em uma aldeia espanhola chamada Guernica. O autor daquela obra perturbadora? O pintor Pablo Picasso.
“Eu não estou interessado em agradar o público. Minhas telas são difíceis demais? Pouco me importa! Que trabalhem também para decifrá-las, se é que há algo escondido nelas para se extrair. De minha parte, desprezo tudo o que a maioria das pessoas deseja encontrar na pintura. Querem beleza? Vão procurar em outro lugar. Querem emoção? Não serei eu a entregá-la a vocês. Quadros com historinhas narrativas, cores agradáveis, graça e proporção? Também não. Que entendam de uma vez por todas: eu não sou uma máquina de fotografia para bater retratos da natureza! As minhas obras são evocações... repito: evocações! Meus olhos estão abertos para uma realidade superior” (Pablo Picasso).
Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade para experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.
O programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura vai ao ar na Cultura FM às quintas-feiras no horário das 23h, com reprise aos sábados às 9 da manhã.

Jul 06, 202358:33
A GRANDE ORQUESTRA DO MUNDO & Os Maestros da Pintura: Episódio 1 – Caravaggio, o mestre do barroco italiano.

A GRANDE ORQUESTRA DO MUNDO & Os Maestros da Pintura: Episódio 1 – Caravaggio, o mestre do barroco italiano.

Roma, século XVI. Após uma noitada de diversões, incluindo orgias com prostitutas e bebedeiras infinitas, um homem avança aos tropeços pelas vielas escuras da cidade italiana. De seu nariz escorre um filete de sangue, abaixo do olho esquerdo um hematoma roxo. São sinais de que aquela figura descomposta acabara de participar de mais uma briga, mais um duelo para o currículo do intrépido rapaz, que seria um rapaz qualquer não fosse ele um gênio das artes. Este é Caravaggio, o polêmico e adorado pintor que revolucionaria a arte das telas ao levar para os quadros à vida sem qualquer embelezamento idealista.
Ao contornar um beco de ruas assentadas por pedras de paralelepípedo, Caravaggio esbarra sem querer em outro homem, dessa vez um sujeito de aspecto sóbrio, sem qualquer resquício de álcool no organismo. O encontrão entre ambos faz com que as partituras de Claudio Monteverdi caiam embaralhadas ao chão. O compositor havia terminado de reger a estreia bem-sucedida de sua ópera A Coroação de Popeia...
Música e pintura são ambas artes dos sentimentos. Se é verdade que trabalham em suportes diferentes: a música é etérea, impermanente, enquanto a pintura é concreta e possui uma matéria exterior que dura para além de nós – ainda assim, música e pintura com seus acordes, timbres, cores, texturas, dinâmicas..., parecem trabalhar para tocar a nossa alma. São artes do espírito, que pouco ou quase nada podem se resumir a uma determinada significação. Possuem técnicas, é verdade, mas são igualmente intuitivas, simbólicas, metafóricas... A música é um quadro cujas figuras estampadas dentro da moldura estão em constante movimento. Um quadro é todo ele uma orquestra coagulada em um instante de tempo.
Quem gosta de música clássica deverá encontrar uma preciosa oportunidade de experimentar a intersecção entre artes compostas por linguagens diversas. Ainda que restritas às suas respectivas ferramentas poéticas: cores, timbres e palavras podem convergir para erguer um entendimento comum sobre a natureza humana. É nesta simbiose entre dramaturgia, música e pintura que o programa A Grande Orquestra do Mundo & Os Maestros da Pintura pretende mergulhar.

Jul 06, 202358:25
Macbeth - Shakespeare

Macbeth - Shakespeare

Um narrador invisível para contar a história de Macbeth, o general escocês, é algo bastante providencial, uma vez que grande parte da trama é acionada por forças misteriosas e invisíveis. Há esse conjunto de bruxas e vozes metafísicas que aparecem em cena para prevenir Macbeth de que um dia ele será rei. Mas como Macbeth, um militar notável, será rei se já existe um rei entronado e dono de uma dinastia que impede a alternância de poder para fora dos limites dos seus descendentes? Hum? Um golpe de estado, ora essa... acampamentos na frente dos quartéis, invasão dos prédios públicos, oração no meio do asfalto e, por que não, linha direta com os ETs...

Não, não... não, acalmem-se, por favor! O nosso caso aqui é de outra ordem – um pouco diferente, mas nem tanto assim, enfim. Toda essa força fascista, em se tratando de Shakespeare, estará concentrada em um único homem: Macbeth. Será ele a engendrar o golpe de estado em questão, o que significa eliminar o rei Duncan, o atual portador da coroa da Escócia, bem como fazer sumir os seus filhos e herdeiros. E é isso o que Macbeth fará, ou tentará fazer. Nossa história começa com um assassinato... e vai terminar com outras tantas mortes. Shakespeare arma uma espiral de pesadelos inescapáveis à condição humana..., sonhos tenebrosos despertados por aqueles que ousam ultrapassar os limites da ambição, e dar crédito a assombrações artificiosas: Macbeeeeeth.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Feb 17, 202358:27
A Tempestade - Shakespeare

A Tempestade - Shakespeare

A Tempestade, a história de Shakespeare sobre o mago Próspero e sua encantada.

Em uma ilha desabitada que pertencia a uma velha bruxa, Próspero, o antigo duque de Milão, provoca uma tempestade sobrenatural que naufraga o navio onde se encontra seu irmão, que lhe usurpou o título real. É o primeiro passo de um projeto de vingança que sofre diversos imprevistos – em parte graças à figura misteriosa de Calibã, um dos personagens mais instigantes do autor. Escravo deformado, filho da bruxa que governara a ilha, seu ódio pelo duque é interpretado pelos críticos contemporâneos à luz da revolta dos povos colonizados. A tempestade evoca tanto discussões extremamente atuais sobre a relação entre os seres humanos e a natureza, que segue misteriosa para os olhos científicos e desencantados do homem ocidental, quanto questões de disputas políticas, desforra e até uma história de amor temperada pela magia, mantendo um movimento constante no enredo e divertindo os leitores de todas as épocas”. – texto de José Francisco Botelho no prefácio da sua tradução para a peça de Shakespeare. Editora Companhia das Letras.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Feb 10, 202358:02
Hamlet, personagem ou ator? – Shakespeare

Hamlet, personagem ou ator? – Shakespeare

- Eu sou um ator, isso sim eu tenho consciência de ser. Converso com vocês daqui, deste meu camarim, deste meu refúgio, daqui de onde consigo enxergar tudo melhor, de onde posso escutar tudo com mais atenção. Daqui a instantes a cortina irá subir e daremos início a mais uma sessão, a mais um espetáculo de Sir William Shakespeare, ao espetáculo mais famoso e consagrado de Sir William Shakespeare.

Eu estou morto... Morri em um duelo de espadas, através da ponta envenenada de uma espada. Era para ser um duelo esportivo, uma disputa como tantas outras, mas graças ao plano arquitetado pelo meu querido tio Cláudio, o bondoso Laertes que desde sempre fora o meu fraterno amigo, feriu-me propositalmente no braço. Ele também morreu. Meu tio morreu. Minha mãe, a rainha... morreu tomando em uma taça o líquido misturado ao mesmo veneno que vitimou a todos nós. Polônio, aquele rato bajulador, está morto... Rosencrantz e Guildenstern igualmente despachados para o país desconhecido de onde até hoje ninguém voltou. Ofélia também está morta, afogada em sua própria ingenuidade pueril. Pobre Ofélia. Enfim... Todos morreram nesta história... Um elenco de defuntos, é o que somos. Mas nada de lamentações, por favor, todos aqui morrem e ressuscitam depois para recontar a mesma fábula. Somos almas penadas: estamos sempre entre lá e cá. Por que a surpresa? Assim são os atores. Morremos a cada final de espetáculo – a cortina desce direto do urdimento para nos ceifar a cabeça bem aqui ó...,Um merecido fim para todos aqueles que se devotam a zombar das contradições do enredo do mundo. Um ofício perigoso esse, senhoras e senhores... só malucos o aceitam.

Todos da corte de Elsinore me tomavam como um sujeito perturbado. Pudera! Como manter-se são num palácio em que sua própria mãe, semanas depois da morte do seu próprio pai, resolve se casar com o seu próprio tio...? É como se os salgadinhos oferecidos no velório fossem aproveitados para o buffet das bodas! Aceita uma coxinha, minha senhora? Está fresquinha, foi servida de antepasto no enterro de vosso marido... Uma festança em cima do caixão de um homem honrado. Que espécie de gente é essa? Que espécie de sujeito é esse meu tio que rouba de uma só vez a mulher do falecido rei e a coroa que ele ostentava há pouco tempo, ele, o seu irmão? E agora a alma penada de meu pai aparece no frio da madrugada, quando estão todos dormindo, para revelar a mim que a morte do rei fora um assassinato cometido por ele, pelo meu tio Cláudio. Como não surtar?

Hamlet é um ator, e também personagem. Nem somente uma coisa, e tampouco outra, mas as duas faces contrárias e complementares ao mesmo tempo. Essa indeterminação de identidades é o que o torna misterioso, e igualmente perigoso, já que é basicamente impossível prever suas reações em um governo que exige de todos a representação de papéis muito bem delimitados. Hamlet não se encaixa em uma cena de psicologias fixas, ele é essencialmente mascarado, anti-psicologizado por uma ideia pura de EU. Por essa razão, Hamlet é libertário e transgressor, uma força que não cansa de emanar a crise e a revolta frente à estagnação de um mundo resignado pelos tratos firmados. Sua resistência em ser uma coisa só é a ambição e o princípio próprios do teatro, onde a regra é subir ao palco para dar conta de transitar em um espaço instável de uma outra vida, uma vida inventada e múltipla que se não é exatamente real, é mais reveladora, porque acessa os mecanismos da consciência através da imaginação.

Feb 10, 202358:04
Péricles - Shakespeare

Péricles - Shakespeare

Há histórias de todos os tipos. Algumas delas são feitas para enganar, outras nos fazem enxergar melhor. Ambas são boas, a princípio. A história que engana nos propicia um providencial hiato das atribulações da vida ordinária, ao passo que as histórias que nos fazem ver com mais acurácia nos permitem um melhor entendimento do personagem que somos neste palco maior da vida. Há também histórias enigmáticas cujo ponto final nunca chega, há outras histórias onde o enigma é o próprio ponto final, caso decifrado. Em As Mil e Uma Noites, Sheherazade adia a conclusão das histórias que conta e assim garante a sobrevida de todos nós, que vivemos somente para aguardar o próximo episódio narrado. Nesta história que acabamos de ouvir, as palavras pareciam funcionar como uma sentença de morte, que foi driblada com outras palavras pela tinta habilidosa de Shakespeare. Seja para encerrar um enredo, ou postergar até o capítulo seguinte – seja para cegar a razão convocando-nos a imaginar, ou para botar sob a luz dos fatos os sonhos imaginados -, as histórias aí estão na ideia de não nos deixar jamais esquecer de que, quer queiramos ou não, somos todos instrumentistas desta Grande Orquestra do Mundo.

Péricles é o príncipe de Tiro, um jovem sedento por aventuras. Ele ruma até a cidade de Antióquia para tentar resolver um enigma cuja solução lhe garantiria a mão da bela filha do rei. Acontece que o enigma traz escondido em suas entrelinhas o pavoroso crime de incesto cometido pelo próprio governante da região. Quem se candidatar a marido da princesa e não conseguir chegar até a resposta do problema é imediatamente condenado à morte. Péricles, com sua juventude e inteligência, descobre a intrincada armadilha proverbial..., e o Rei, temeroso por ser desmascarado publicamente, empreende uma perseguição a Péricles com a ideia de matá-lo. O príncipe de Tiro foge, atravessa mares, naufraga por diversas vezes, se casa com outra mulher, tem uma filha, se perde de ambas e as imagina mortas, sonha, acorda... e termina sua epopeia reavendo os maiores tesouros de sua vida.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Feb 02, 202358:33
Cimbelino - Shakespeare

Cimbelino - Shakespeare

Uma praça de alguma cidadezinha qualquer. Lá está um velho senhor com seu realejo. Ele convida as crianças a solicitar a sorte do dia. O papagaio, tão centenário quanto seu dono, se equilibra precariamente naquela geringonça artesanal. Sua tarefa é conhecida de todos, imutável ao longo das gerações: bicar um papelzinho aleatório da gaveta da máquina e entregá-lo seu dono de barbas brancas. Ao ler o que nele está escrito, o velho senhor pigarreia um pouco e anuncia o início de mais uma história. Uma fábula que só será crível se a audiência souber embaralhar a fantasia com a realidade. A pracinha daquele deserto de cidade – uma cidade que poderia ser qualquer cidade - torna-se um palco, o maior palco do mudo que cabe dentro de um precário realejo acionado por pelas manivelas enferrujadas da imaginação.

A história de hoje não é propriamente uma comédia. Também não é uma tragédia. Um drama, tampouco. É uma história com tudo isso, e mais alguma coisa. O ingrediente que junta tudo talvez seja a inverossimilhança, o total desprezo pelo equilíbrio lógico que deveria erguer uma fábula teatral em seus pilares básicos: a ação, o espaço, e o tempo. E também porque diferente do que acontece na vida, aqui as personagens boas tem um desfecho feliz; as más caem por sua conduta. Cimbelino é um conto moral, provavelmente. E não há problema algum que assim seja. Estamos diante de um Shakespeare já maduro, que já escreveu todas as suas grandes peças de teatro, e que agora se delicia em criar uma verdadeira sinfonia desconcertante.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Dec 16, 202258:28
Noite de Reis - Shakespeare

Noite de Reis - Shakespeare

Shakespeare, oh sábio Shakespeare... sua obra inteira é uma teoria do mundo feito teatro, de nós que aqui estamos inventando existir para tentar convencer a alguém de que de fato existimos. Personagens-humanos e humanos-personagens numa dualidade que não sabe separar o artificial do natural, alma do corpo, forma do conteúdo... o claro e o escuro como complementos um do outro para benefício da compreensão de que é impossível ser uma coisa só. Ah, essa tragicomédia que nos condena a ser vários ao mesmo tempo, ainda que tentemos a todo instante defender uma única e ilibada dignidade.

Era uma vez dois irmãos gêmeos de nome Sebastião e Viola. Ambos maravilhavam a todos pelo fato de que – desde o nascimento – se pareciam tanto um com o outro que, não fosse pela diferença dos trajes que usavam, ninguém poderia distinguir quem era quem. Além de nascerem na mesma hora, os irmãos também estavam unidos numa triste ocasião em que a providência divina resolveu pregar uma peça perigosa. O navio em que os irmãos Sebastião e Viola viajavam deu de e encontro com uma rocha durante uma violenta tempestade, e pouquíssimos passageiros escaparam vivos do naufrágio. Durante a catástrofe, Sebastião e Viola foram separados pela violência das ondas, e alguns relatos afirmavam que o rapaz havia sido visto pela última vez agarrado a um mastro enquanto tentava lutar para não submergir. A partir de então, uma trama recheada de mal-entendidos e disfarces será desenrolada, cujo tema principal é o desejo de encontrar um par romântico que satisfaça os esforços empreendidos.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Dec 15, 202258:42
Bom é o Que Bem Acaba - Shakespeare

Bom é o Que Bem Acaba - Shakespeare

Esta é a vantagem das histórias perdidas no passado e revividas pela voz de um narrador. Quando o tempo se encarrega de dar aos fatos a doce melodia da memória, podemos então contar tudo o que se passou da forma que bem quisermos, surrupiando trechos inteiros, acrescentando cenários inexistentes. Inventar exclamações onde antes não havia, estender compassos para além do acorde final, tudo isso é permitido se o objetivo primeiro e último é satisfazer a imaginação dos ouvintes. Ah, a imaginação, esse músculo invisível que pouco ou nada se presta a separar o que é verdadeiro daquilo que é inventado. Somos todos seres feitos de histórias e por elas vivemos, sempre ansiosos para ouvir o próximo capítulo, sempre adiando o ponto último que decreta o epílogo de nossos dias. Era Uma vez, três pontinhos...

Neste capítulo, vamos acompanhar a história de uma jovem e virtuosa moça chamada Helena que fará de tudo para conquistar o seu amor, o conde de Roussilon. Ambos foram criados debaixo do mesmo teto, sob a tutela da condessa de Roussilon. Ele, um filho legítimo de sua casa, ela, uma agregada à família. Criados como irmãos, o amor veio para romper esse laço parental e criar um abismo de angústias e ansiedades entre os jovens.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Dec 02, 202258:45
A Megera Domada - Shakespeare

A Megera Domada - Shakespeare

Um Prólogo composto por duas cenas se inicia quando Christopher Sly – um mendigo bêbado, é levado desmaiado para o palácio de um lorde rico. Lá ele recebe um belo de um banho, roupas elegantes e, antes de acordar, é colocado na cama. Ao abrir os olhos começa a ser tratado como um nobre que estivera doente e esquecido de sua vida. Dentro desse picadeiro de truques e zombarias, até mesmo um ator se veste de mulher para representar a jovem e bela esposa do mendigo feito galã de novela – A esse ator é dada a orientação de chorar diante daquele a quem deve tratar como marido, e, caso não consiga produzir lágrimas por si mesmo, é aconselhado a enfiar uma cebola descascada no bolso do figurino. Guardem essa informação, atentos ouvintes – Shakespeare sugere uma cebola descascada para produzir a emoção fingida no ator que deve aparentar tristeza

Na nossa história de hoje, há este prólogo que é tocado antes do início da sinfonia. Um prólogo representado por atores que irão contar uma historinha para nos alertar de que a história que virá pela frente será uma outra história representada por outros atores. Quando eu ouço a Nona Sinfonia de Beethoven eu sempre penso no músico que aguarda pacientemente a sua vez de entrar em cena para tocar aquela sua flauta pícolo. Um único músico que espera para representar a sua cena, para reger aquela maravilhosa fanfarra com o timbre alegre da sua flauta pícolo..., e depois ele volta ao silêncio para dar passagem as evoluções sérias e dramáticas da obra. Atentos espectadores, prestem sempre atenção nas flautas pícolo, nos tambores que as acompanham, nestes instrumentos periféricos..., são essas figuras as mais representativas da grandiosidade do teatro de Shakespeare: são pequenas em tamanho, talvez, mas gigantescas na fundação da linguagem de uma arte essencialmente popular. A nossa história de hoje é inteirinha uma fanfarra de coreto.

Enfim, justamente quando toda essa brincadeira é montada para enganar o pobre do mendigo bêbado recém desperto em um berço de ouro, aparece em cena uma Companhia de Teatro pronta para apresentar uma comédia, que será, então, a principal ação da peça de hoje: a farsa A MEGERA DOMADA, uma comédia farsesca sobre Petruchio e Catarina, um casal em pé de guerra.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Nov 25, 202258:29
Como gostais - Shakespeare

Como gostais - Shakespeare

Shakespeare era um homem de seu tempo, e viver entre os séculos XVI e XVII não devia ser nada fácil. Os incessantes conflitos políticos aliados a crises sanitárias que varriam a Europa com toda sorte de pandemias faziam da sobrevivência algo bastante desafiador. Uma pessoa que ultrapassasse os 40 anos de idade com saúde já era uma vencedora. Normalmente se morria muito antes disso. A vida era breve, atribulada e extremamente difícil. Shakespeare sabia de tudo isso, especialmente, sabia que o teatro era um departamento das diversões públicas em que as pessoas tinham a possibilidade de se reunir para celebrar a vida, a resistência de permanecerem vivas a despeito dos regimes tirânicos, das doenças, das fatalidades. Ir ao teatro era um ato público e político. A festa, desde os mais recônditos tempos, tem essa função importantíssima: a de funcionar como uma válvula de escape às dificuldades de um mundo adverso. E não tenham dúvida disso: o teatro de Shakespeare é uma baita festa. E uma festa de caráter popular.

Como Gostais é a única contribuição de Shakespeare para o gênero pastoral, no qual a natureza é o lugar onde prevalece o bem, e a corte é o lugar onde prevalece o mal e a traição. O escritor latino Horácio – que viveu em um século anterior ao nascimento de Cristo – talvez tenha sido o primeiro a fazer essa mesma defesa, cunhando a famosa expressão “fugere urbem”, que traduzido do latim quer dizer: fugir da cidade. Outro famoso nome da filosofia, Jean Jacques Rousseau, organizou sua obra no século XVIII a partir da tese de que a civilização corrompe os costumes do homem, que nasce naturalmente bom. Henry David Thoreau, autor e filósofo americano, produziu – já no século XIX - um texto batizado pelo título Walden, uma reflexão sobre a vida simples cercada pela natureza. Seja como for, parece que Shakespeare – na peça Como Gostais – tornou concreta a mesma ideia de que a confusão das metrópoles afasta o ser humano de sua verdadeira essência.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Nov 24, 202258:53
O Mercador de Veneza – Shakespeare

O Mercador de Veneza – Shakespeare

Há histórias que transitam entre momentos de grande agitação e outros de maré calma. Instantes em que a orquestra toda toca em uníssono em paralelo ao instrumento solo e melancólico. A fábula que vamos contar hoje é cheia de contrários. Poderíamos dizer que é um libelo entre a justiça e a crueldade, ou mesmo entre o interesse mesquinho e as paixões desapegadas. Talvez o que sobra de tudo o que iremos contar é a falta de bom senso e humanidade em um mundo cada vez mais fincado nas cláusulas do comércio, onde as nossas relações interpessoais passam a ser regidas pela ética do status e do dinheiro. Parece atual, não? E é mesmo. Mas também é Shakespeare. Uma prova de que o grande poeta e dramaturgo inglês era dessa espécie de diapasão que afinava suas melodias para que extrapolassem o tempo e o espaço, consciente de que o ser humano nunca é tão diferente assim que não possa ser resumido em um palco de teatro: um terreno ao mesmo tempo reduzido, e igualmente infinito.

Mas nossa história de hoje é recheada de imposturas difíceis de engolir, porque suas linhas são explicitamente antissemitas. Shakespeare certamente não a escreveria se houvesse testemunhado o genocídio do holocausto perpetrado por Hitler. A fábula gira ao redor da relação conflituosa entre Antônio, um mercador de Veneza cristão, e o judeu Shylock, outro comerciante cuja prática de emprestar dinheiro a juros o tornou rico através destas transações. Porém, há uma outra camada maior e que ultrapassa as questões religiosas envolvidas na fábula. O judeu Shylock não é somente um vilão cruel, o cristão Antônio também não se resume a uma ingenuidade inocente. Ambos não são caricaturas, ao contrário, são contraditórios, ou seja, humanos na essência da palavra. E em contrapeso ao aspecto religioso, as personagens desenvolvem seus argumentos em uma arena de embate cujo assunto principal é a justiça – será ela infalível quando se apoia na letra fria da lei? E é sobre este enfoque que vamos tratar este texto shakespeariano. Uma comédia sombria... e também problemática.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Nov 11, 202258:12
Sonho de uma noite de verão - Shakespeare

Sonho de uma noite de verão - Shakespeare

Amigos ouvintes, vocês estão certos de que estão acordados? Às vezes não parece que dormimos e sonhamos – e depois, já de olhos abertos, nos ressentimos daquele período de descanso em que as revelações eram muito mais poderosas do que essas de agora, quando os sentidos racionais se orgulham em dizer: calma! Calma! estamos despertos e plenamente conscientes?

Sonho de Uma Noite de Verão parece ter sido escrita para celebrar a festa da noite de São João. E também, acreditam alguns, foi composta para alegrar as bodas de algum nobre do tempo de Shakespeare. E dentro da peça, 4 casamentos são oficializados em uma mistura alucinada de enredos que se intercalam. Um sonho dentro de um sonho, personagens reais convivem com fadas, elfos e espíritos, histórias que se desdobram dentro de outras histórias – o teatro shakespeariano é uma verdadeira cebola de camadas que vão sendo descascadas diante da audiência. Ou então parecido com aquelas bonecas russas, as matrioskas – uma boneca dentro de outra boneca que contém outra boneca, e outra boneca dentro de oura boneca mais pequenininha... e assim por diante, em uma proporção simétrica que aproxima a menor escala do tamanho original, do modelo de onde partiu. E ao cabo de tudo, quem sobrevive a tantas narrativas enviesadas é mesmo o ator de carne e osso que Shakespeare faz questão de revelar ao público como narrador das suas aventuras.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Nov 04, 202258:50
Trabalhos de amor perdidos - Shakespeare

Trabalhos de amor perdidos - Shakespeare

Tudo é engrenagem em Shakespeare, e é pelo funcionamento deste mecanismo do qual o homem faz parte e age como se pudesse triunfar sobre suas forças que é possível desmascarar a tirania, expor as fragilidades e teimosias que regem nossas paixões. Portanto, é isso que quero dizer quando afirmo que Shakespeare arma arapucas: ele nos coloca diante das engrenagens em ação, não esconde o seu funcionamento, e mostra como suas personagens são presas fáceis ao acreditarem que seu tamanho supera ao do motor que faz girar os urdimentos artificiosos do teatro. Uma bela metáfora para a vida, não acham? E um tremendo manual ético e político também.

É mais ou menos como estar diante de um violinista e vê-lo tocar. Ao mesmo tempo em que nos encantamos com a música, vemos que ele a está operando diante de nós: ficamos enfeitiçados, e também assombrados. Um ator que sobe ao palco para falar as palavras de Shakespeare tem essa mesma responsabilidade: vemos o ator, e vemos a personagem, um diálogo sem simbioses.

Era uma vez um Rei chamado Fernando que governava a região de Navarra. O tempo preciso destes fatos narrados é desconhecido, mas pouco importa. O que interessa saber é que a Navarra de nossa história os prazeres da vida não conheciam impedimentos. E como tudo o que é bom só é eterno enquanto dura, a festa acabou mesmo, ao menos por decreto, e por decisão autocrata promulgada pela voz do próprio Rei Fernando de Navarra. Toda espécie de satisfação dos sentidos estava proibida, incluindo aí a proximidade com mulheres. As únicas paixões permitidas eram aquelas direcionadas ao saber. Este é o mote inicial de Trabalhos de Amor Perdidos, uma trama de reviravoltas em que os próprios arautos da abstinência amorosa serão convencidos do contrário daquilo que pregam.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós. Um programa que mistura palavras e sons, paisagens sonoras e músicas, tudo para fazer ecoar o maior poeta e dramaturgo de todos os tempos.

Oct 28, 202258:39
Muito barulho por nada - Shakespeare

Muito barulho por nada - Shakespeare

Olá amigos ouvintes. Shakespeare está de volta ao rádio. Uma combinação que pode soar absurda, mas essencialmente mais do que coerente. As histórias que Shakespeare contava no palco eram para serem ouvidas – e vistas, é claro – era preciso sair de casa e ir até o teatro para assistir às montagens. Mas uma vez lá dentro, nas dependências do teatro, Shakespeare convocava a audiência a escutar as suas palavras e proceder com a imaginação para que a trama dramática tivesse bom encaminhamento. Tudo porque o teatro shakespeariano era precário, não havia pirotecnica que fizesse subir e descer cenários – e Shakespeare adorava pular de um lugar para o outro, avançar e retroceder no tempo, estacionar em uma pausa e lá ficar até que o solilóquio da personagem ensimesmada se esgotasse em si próprio. Batalhas, guerras e avanços territoriais eram apenas sugeridos: que a plateia escutasse bem o que era proposto – e daí seguisse sozinha pelas alamedas próprias da imaginação. Assim como Shakespeare, o rádio é também precário – abençoadamente precário – sorte nossa! – porque ele é, igualmente, um veículo de escuta. Portanto, vamos recuperar a prática de ouvir histórias – e quem sabe desenvolveremos a capacidade de enxergar melhor. E para benefício do descanso das vistas, que sejam os ouvidos a nos guiar por esse universo fabuloso que compõem os enredos do maior poeta de todos os tempos. E lembrem-se, quando alguém disser que Shakespeare é difícil, hermético e distante da vida das pessoas, retruque com a seguinte resposta: Shakespeare não está acima de ninguém, ele está entre nós, em nós, nos intervalos e recheios dessa massa humana que é feita de angústias e desejos, amores e traições, enfim, todos nós – quer queiramos ou não - somos instrumentistas desta Grande Orquestra do Mundo cujo maestro é Sir William Shakespeare.

No tempo em que se passa a nossa história, duas damas residiam no palácio de Messina: a senhorita Hero, e a senhorita Beatriz. Hero era a filha de Leonato, o governador da cidade, Beatriz, a sua sobrinha. Duas donzelas de gênios bastante distintos, é verdade. Enquanto a senhorita Hero preferia o silêncio e vez por outra era encontrada reclusa meditando sobre a vida... Já Beatriz, ah... quanta diferença!... Só digo que ambas irão se apaixonar, mas até o altar haverá uma sequência tumultuada de quiproquós e desenganos. E não conto mais nada. Curioso? Ouça todo o nosso programa.

Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Oct 21, 202254:13
A Grande Orquestra do Mundo - A comédia dos erros

A Grande Orquestra do Mundo - A comédia dos erros

Alô? Tem alguém aí? Estou falando contigo, atento ouvinte. Tomo-te por tema de minhas invocações, e rogo que me acompanhes nesta travessia pelas ondas do mar. Casei-me em união estável com os sonhos, e agora, depois de sonhá-los todos, já não sei mais se estou dormindo ou desperto. É para isso que preciso de ti, atento ouvinte: para que me digas se o que vejo é mentira ou realidade, se isto que estou ouvindo é mesmo o canto da sereia que a todos enfeitiça com seu timbre sedutor, ou, ao contrário, se tudo não passa de uma melodia riscada pela agulha de alguma vitrola antiga. Oh, meu Deus, que erro dispersa os nossos olhos e fascina nossos ouvidos? Até que haja esclarecido essa incerteza, entreguemo-nos ao encantamento que por ora nos acomete.

Apr 11, 202258:50
A Grande Orquestra do Mundo - Medida Por Medida

A Grande Orquestra do Mundo - Medida Por Medida

Oh, veneráveis ouvintes, meu nome é Bernardino e sou uma personagem de Shakespeare. Uma personagem minúscula nesta comédia que se aproxima. Antes que bocas sujas venham conspurcar o meu caráter, antecipo-me aos detratores e revelo-me sem medo das consequências: sou um prisioneiro condenado à morte, mas que se recusa a morrer. E também me recuso a fugir quando me dão a chance de escapar das grades. Recuso-me simplesmente a obedecer. Querem o meu pescoço? Só depois do almoço, e, como o relógio ainda não bateu meio dia, ainda é cedo demais para separá-lo do corpo uma vez que estômago nenhum pode se satisfazer sem ter boca para mastigar.

Oh, não, morrer de barriga vazia, nem pensar! Só os imbecis decidem morrer antes do almoço. E quando me pedem para morrer de tardezinha? Ah, não morro, não. Definitivamente não é o momento de escalar os umbrais da eternidade neste lusco-fusco que não se decide se ainda é dia ou se já é noite. Seria uma entrada pavorosa no Undiscovered Country de Hamlet, no país das almas penadas, uma vez que não saberia responder a qual turno pertenço. Ah, veneráveis ouvintes, eu não obedeço. E não obedeço nem mesmo a Shakespeare, já que neste colóquio eu me faço de protagonista, coisa que não o sou nas páginas dramáticas ou quando emprestam minhas palavras para torná-las audíveis no palco do teatro. Sou minúsculo, pequenininho, apareço só em uma cena lá no meio da trama, poucos me notam, e, no entanto, é nesta miudeza que reside a minha esperteza, pois é mais fácil esgueirar de lá para cá sem a vigilância dos refletores apontados para o nosso nariz. E nas sombras faço o meu território. Daqui de onde não conseguem me enxergar direito é onde consigo eu enxergar melhor. Dito isto, junto minha agilidade com à generosidade do rádio que não poupa esforços no quesito imaginação. Eu, Bernardino, um condenado à morte, faço-me rei.

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Apr 07, 202258:07
A Grande Orquestra do Mundo - As alegres comadres de Windsor

A Grande Orquestra do Mundo - As alegres comadres de Windsor

Conta uma velha tradição que um caçador de nome Herne – outrora um antigo guarda da floresta de Windsor – retorna no inverno à mesma floresta por volta da meia noite...

O Caçador Herne, então, anda em torno de um carvalho, uma enorme árvore em meio a tantas outras que compõem a mata fechada. Herne está vestido na cabeça com grandes chifres de cervo, peito nu e calça de cetim justa ao corpo com rendas pendendo nas laterais das pernas. Os pés estão descalços. O silêncio da noite é ensurdecedor, só interrompido pelo canto soturno da coruja, e o coro abafado dos grilos ao longe. Ao primeiro sinal da neve, quando o primeiro floco desce do céu em piruetas imprecisas, lá aparece Herne para o seu itinerário em volta do carvalho, bem no centro da floresta de Windsor. Herne, então, devasta as árvores a sua volta, ataca o gado, faz com que a vaca leiteira dê sangue e sacode uma corrente do modo mais sinistro e terrível. Já ouviram falar a respeito desse espírito e vocês sabem muito bem que os velhos supersticiosos e crédulos receberam e transmitiram como verdadeira à nossa geração essa assombrosa história de Herne, o caçador. E ainda há muita gente que tem medo de passar durante a noite perto do carvalho de Herne, com medo de encontrá-lo por lá em seu itinerário destruidor.

Pois bem, aqui está a nossa ideia: Falstaff, o glutão namoradeiro, deverá encontrar-se conosco perto do carvalho e, aproveitando-nos da lenda do caçador Herne, lhe pregaremos uma peça para ensiná-lo a não se meter com a mulher dos outros. Faremos a história ser reencenada escapulindo do terreno fértil da imaginação para o palco concreto da realidade e, com um pouco de artificialismo e engenhosidades calculadas, o teatro que ergueremos servirá de armadilha à força de sugestão deste gordo pançudo, tomando por verídico o que nunca pôde ser provado, revivendo fantasmas em suas danças sinistras. E assim, com um baita susto, acreditamos que redimiremos os pecados de Falstaff com uma bela gargalhada.

Parece que Shakespeare escreveu As Alegres Comadres de Windsor em somente duas semanas a partir de uma encomenda feita pela própria Rainha Elizabeth que desejava ver o popular personagem Falstaff uma vez mais, dessa vez apaixonado e metido em outras tantas confusões – Falstaff, vamos lembrar, estivera presente na peça Henrique IV como o amigo inseparável do príncipe Hal, que mais tarde assumiria o trono da Inglaterra como Henrique V. Shakespeare, que não era bobo nem nada, vendo que a figura do pançudo e espirituoso Falstaff despertava interesse em todos – até da rainha – escreve uma peça – agora uma comédia - para satisfazer os ânimos da audiência, e colocar como protagonista uma personagem carregada de vícios nada louváveis. O riso na comédia serve justamente para purgar as atitudes que não se encaixam nos comportamentos adequados de um certo agrupamento social.

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Apr 06, 202258:28
A Grande Orquestra - Os dois cavalheiros de Verona

A Grande Orquestra - Os dois cavalheiros de Verona

Oh, céus, o homem seria perfeito se fosse constante! Este único defeito é a origem de todas as suas faltas e o arrasta para todos os pecados. Mas fiquem tranquilos, diferente das histórias contadas ontem, a que vamos ouvir agora não faz revezar reis e rainhas no ponto alto do poder, não haverá uma disputa sangrenta entre nobres e religiosos pelo antepasto mais suculento, de juízes corruptos nós já estamos saturados de encontrá-los por aqui mesmo, em nossa triste realidade, o povo não sofrerá as mazelas típicas daqueles que tiveram o azar de não nascer com o sangue azul correndo nas veias. Não, não, o carnaval de outrora – essa gincana maluca da ambição humana -, cederá espaço para melodias mais leves, cantigas à beira de um remanso, talvez, serestas no sopé de um balcão onde lá em cima a donzela surgirá para ser celebrada pelo amante apaixonado; e quando o céu escurecer será apenas um pretexto para tudo terminar mais adiante sem nuvem alguma tapando o brilho do sol. Shakespeare escreveu histórias para nos entreter, são comédias românticas, comédias fantásticas, onde o compromisso é acompanhar um enredo cheio de encruzilhadas cujo único objetivo é juntar os pombinhos enamorados antes do cerrar definitivo das cortinas. Não me peçam qualquer condescendência a esse respeito, estou aqui apenas como narrador de uma fábula agradável, porque de cinza já basta o mundo e as personagens que nele habitam. Por aqui será diferente. Tingiremos de cores a história destes dois cavalheiros de Verona que, vejam só, se apaixonam pela mesma mulher.

Essa é a história de dois amigos de Verona, Proteu e Valentino, que partem para Milão. Um deles deixa para trás uma jovem enamorada, Júlia. O outro se apaixona na nova cidade. Mas o primeiro – e já comprometido com a pombinha de Verona – também cai de amores pela mesma mulher que enfeitiçara o amigo. Ela é Sílvia, a filha do Duque, e que está prometida em casamento para outro homem de nome Túrio. Descobrimos agora que Sílvia, a filha do Duque, corresponde ao amor proibido de Valentino. Mas, pelas artimanhas de Proteu – o colega de Valentino que também deseja para si os lábios de Sílvia – um plano de fuga entre os dois é soprado aos ouvidos do pai da moça. Enquanto isso, a donzela abandonada, aquela outra de Verona, resolve se disfarçar de homem para correr atrás de seu namorado vadio. Oh, pobrezinha...

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Apr 05, 202258:07
A Grande Orquestra do Mundo - Cortejo carnavalesco

A Grande Orquestra do Mundo - Cortejo carnavalesco

Neste programa que encerra a série de dramaturgias de cunho histórico, reunimos as principais personagens desta trajetória em um enorme desfile de carnaval, tudo para provar que Shakespeare é antes de qualquer coisa um contador de histórias que abusa dos recursos artificiosos para erguer suas figuras em palcos instáveis. Shakespeare é do povo e pertence ao povo, e cada uma das cenas que constrói se equipara às alas carnavalescas que se sucedem na cadência do samba enredo. Um caminho repleto de som e cores registrado pela potência da palavra colocada na boca do ator.

 Uma das principais características de Shakespeare é que em suas sinfonias mirabolantes de reis que perdem a cabeça e outros que assumem o lugar vago do trono, a síntese algo imperativo. Meses, anos, estações climáticas são resumidas em cenas curtas. Frases definem a passagem do tempo sem precisar que o tempo real seja vivenciado. Cenários mudam sem que cenários reais precisem ser trocados. Uma palavra do ator basta para combinar com a audiência esse trânsito amalucado: Agora estamos na corte inglesa, agora não mais! Nos campos da França, é onde viemos parar. Nesta Grande Orquestra do Mundo, Shakespeare também é Vivaldi: maravilhosamente rocambolesco. Miraculosamente sintético.

 Shakespeare e seu castelo de cartas forjado pela figura de reis, nobres, bispos e gente comum, personagens que compõe o fantástico cordão carnavalesco cujo samba enredo traz sempre o bordão do poder e da ambição como tema principais. Nesta Grande Orquestra do Mundo, o verbo é o grande solista sob a regência do maior dramaturgo de todos os tempos.

 E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Apr 04, 202256:35
A Grande Orquestra do Mundo - Henrique VIII

A Grande Orquestra do Mundo - Henrique VIII

Esta é uma história sobre o poder e sobre a luta pelo poder. Uma disputa sobre quem tem o direito ao melhor lugar na pista de dança neste baile ininterrupto cujo maestro é Sir William Shakespeare. No exato instante, é o ardiloso Cardeal Wolsey quem figura no centro da festa com sua sapatilha ligeira e gingado sedutor, vejam só que rapidez nos movimentos, que perícia diplomática, que espetáculo de performance ao fazer do Rei Henrique VIII um aliado e amigo de primeira ordem!

Shakespeare é safado! Ele está de com um olho em você e o outro na banda, pronto para acelerar o andamento para temperar com mais pimenta o balé todo. Nesta Grande Pista de Dança do Mundo onde suas figuras são convocadas a desfilar, ele sabe que para haver teatro é necessário depositar uma bela duma casca de banana no caminho dos seus dançarinos, bem lá, no centro do palco, e tudo diante do espectador que é convocado a ser cúmplice e testemunha da queda que virá depois de um rodopio magnífico.

Eu sou o Duque de Buckingham, o leal amigo do rei. E como bom servidor público só estou esperando o momento certo para interromper essa festa dançante, apanhar o microfone da banda e botar a boca no trombone: O CARDEAL WOLSEY É UM VIGARISTA! Mas, enquanto isso, vamos mexer o esqueleto. O Cardeal Wolsey é um falso religioso, isso no mínimo, e um conspirador nato. Mas é também minúsculo, porque sua maldade tem ambições domésticas. Jamais chegaria aos pés dum Iago, Ricardo III, jamais! Esse desgraçado espalhou a notícia de que eu almejo o lugar do rei, uma vez que na ausência de herdeiros de sangue o posto máximo da coroa da Inglaterra caberia a mim..., eu que sempre fui fiel ao magnânimo Henrique. Wolsey canalha! O meu ritmo preferido é o bolero.

Esta é a história destes dançarinos em seus instantes de evolução na pista de dança até que uma casca de banana interromperá suas performances. Todos eles irão dar com o nariz no chão, exceto o Rei Henrique que será poupado por Shakespeare nesta que é a peça em que ele mais tece elogios à monarquia. Mas não o critiquemos. Nesta altura do campeonato Shakespeare já estava aposentado, Henrique VIII é a última contribuição de Shakespeare à dramaturgia. Ele já tinha escrito Hamlet, Rei Lear, Romeu e Julieta, Otelo, MacBeth... para que o sujeito iria querer arrumar problemas com o poder oficial de seu tempo? Melhor atirar confetes para o alto mesmo, oh sábio Shakespeare.

Olá, o meu nome é Henry Wolsey, o arrogante Cardeal de York – o arrogante eu deixo coloco na conta dos meus detratores. Eu sou o anfitrião desta festa. Uma bela comemoração às conquistas que me são imputadas em razão de um proveitoso acordo de paz firmado entre França e Inglaterra. Proveitoso para mim, evidentemente, para mim e para minha conta bancária que, com a graça de Deus, dobrou de dividendos. O próximo passo agora é fazer o Rei Henrique despachar aquela Rainha Espanhola, que além de espanhola, não foi capaz de gerar um herdeiro para o magnânimo. Ele deve se casar com outra, com uma francesa, aí então as coisas ficariam perfeitas para o erário público... e para mim também, evidentemente. Deus está no comando. Sou cardeal, mas não sou santo. E o meu ritmo preferido... é o tango!

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Apr 03, 202256:07
A Grande Orquestra do Mundo - Ricardo III

A Grande Orquestra do Mundo - Ricardo III

Ricardo III é um ator. Um hipócrita. Repare que a raiz é essa mesma: o que é um ator senão um fingidor? Aquele que se traveste de máscaras para convencer a audiência de que ele é Romeu, Don Juan, João Grilo? E é este exercício de cinismo que preenche toda a estrutura dessa deslumbrante e assustadora personagem. Shakespeare opera pelo registro da farsa: ele mostra para a plateia o ator em seu camarim – mostra o nosso Ricardo III se preparando para entrar em cena antes do início do espetáculo quando o espetáculo já começou – e logo na sequência lá está ele em ação, todo paramentado para enganar as personagens em cima do palco através do mais rasteiro melodrama. Ele mente dizendo para nós: vejam como estou mentindo! O espectador não é só cúmplice das tramoias deste tirano vigarista, como é o seu interlocutor direto.

Shakespeare é um inventor de sinfonias humanas, suas personagens são figuras falantes. Nestes tempos de repetições e barulhos infinitos, é interessante recorrer a ele com calma. Essa desaceleração forçada pode render bons frutos, principalmente porque a palavra colocada no palco teatral é analógica, artesanal, e ela tem essa espetacular capacidade de refletir a imagem de quem somos no cotidiano distraído da vida.

É o ano de 1477. Ricardo, Duque de Glócester, ambiciona tornar-se Rei da Inglaterra - ele que havia com suas próprias mãos assassinado Henrique VI, o antigo dono da coroa, e, desta forma, recuperado para a casa dos York uma dinastia surrupiada pelos Lancaster desde o golpe de estado que subtraiu Ricardo II do trono. Lembre-se de que toda essa pendenga é o enredo central de um conflito entre famílias intitulado Guerra das Rosas: Rosas Vermelhas de um lado, os Lancaster, e Rosas Brancas de outro, os York. E dá-lhe cabeças sendo decapitadas e voando de lá para cá. Um verdadeiro carnaval de cartas empilhadas: cai um rei de espadas, sobe um rei de ouros, damas de paus em confronto com valetes de copas... e assim sucessivamente até chegar onde estamos.

Enfim, antes a briga era entre York e Lancaster, agora é entre York e York, uma prova de que para a estupidez humana não há cor de uniforme que impeça o time de entrar em campo. E o capitão desse escrete miraculoso é Ricardo, o tirano sanguinário. Ele que vai se casar com a viúva do homem que matou (e depois com uma sobrinha!), arrumar alianças com milicianos assassinos e reunir uma corte de paus-mandados – incluindo falsos bispos – que formam ao seu redor uma rede de segurança que o impedirá de cair, ou assim ele pensa, porque o fim de todo tirano, já diz a história, é um só. Mas o fato a se considerar é reconhecer que o tal do centrão político, atento ouvinte, também é uma invenção de Shakespeare. Esse balaio de gente de terno e gravata que sustenta os mais absurdos desvarios a título de nos convencer de que tiranos assassinos estão a serviço do bem comum. Atual, não?

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Apr 02, 202258:08
A Grande Orquestra do Mundo - Henrique VI - Parte 3

A Grande Orquestra do Mundo - Henrique VI - Parte 3

Uma das principais características de Shakespeare é que em suas sinfonias mirabolantes de reis que perdem a cabeça e outros que assumem o lugar vago do trono, a síntese algo imperativo. Meses, anos, estações climáticas são resumidas em cenas curtas. Frases definem a passagem do tempo sem precisar que o tempo real seja vivenciado. Cenários mudam sem que cenários reais precisem ser trocados. Uma palavra do ator basta para combinar com a audiência esse trânsito amalucado: Agora estamos na corte inglesa, agora não mais! Nos campos da França, é onde viemos parar. Nesta Grande Orquestra do Mundo, Shakespeare é Vivaldi: maravilhosamente rocambolesco. Miraculosamente sintético.

Neste episódio, Shakespeare nos apresenta uma das figuras mais escabrosas da sua dramaturgia, e também de todo o repertório dos palcos teatrais ao longo dos tempos; ainda não será o protagonista que veremos se tornar muito em breve, mas já desponta com toda a sua malignidade transbordada em solilóquios direcionados à plateia. Um tirano que veio ao mundo deformado e ávido pelo poder a qualquer custo. Estamos falando dele: o Duque de Glócester, Ricardo, futuramente o Rei da Inglaterra, o mais facínora de todos: Ricardo III.

Estamos no século XV. Cenário: Inglaterra e França. Esta é uma história de rivalidades entre York e Lancaster, mais um capítulo da chamada Guerra das Rosas que será desenrolado em cenas cada vez mais sangrentas e que culminará com o fim de Henrique VI, o rei fraco e religioso, entronado ainda criança, pouco hábil para assuntos da governança, casado por descuido com uma mulher mais corajosa que ele próprio. Esta é uma história que põe fim à dinastia dos Lancaster no poder, fazendo ascender ao trono real Eduardo IV da família York.

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Apr 01, 202258:10
A Grande Orquestra do Mundo - Henrique VI - Parte 2

A Grande Orquestra do Mundo - Henrique VI - Parte 2

Uma das principais características de Shakespeare é que em suas sinfonias mirabolantes de reis que perdem a cabeça e outros que assumem o lugar vago do trono, a síntese algo imperativo. Meses, anos, estações climáticas são resumidas em cenas curtas. Frases definem a passagem do tempo sem precisar que o tempo real seja vivenciado. Cenários mudam sem que cenários reais precisem ser trocados. Uma palavra do ator basta para combinar com a audiência esse trânsito amalucado: Agora estamos na corte inglesa, agora não mais! Nos campos da França, é onde viemos parar. Nesta Grande Orquestra do Mundo, Shakespeare é Vivaldi: maravilhosamente rocambolesco. Miraculosamente sintético.

Esta é a segunda parte da história do reinado de Henrique VI, um rei relapso e dado às preces religiosas, ausente das rédeas do serviço público. De um lado os Lancaster, casa à qual pertence o Rei Henrique VI, do outro lado a casa dos York – Rosas Vermelhas contra Rosas Brancas. Todos atrás da coroa da Inglaterra neste estupendo grande prêmio teatral. Foi dada a largada.

A segunda parte desta trilogia mostra a conspiração armada contra o nobre Glócester – o Protetor do Rei – e os esforços da casa dos York em recuperar o trono da Inglaterra que por direito – não houvesse sido o golpe de estado encampado por Henrique de Bolinbroke no passado – seria deles, dos York, dos representantes da Rosa Branca! Eis que aparecem galopando o Duque de Buckingham e o Cardeal de Beauford que no passado fora o vigarista Bispo de Winchester, ambos entrando no páreo contra Glócester. Na raia vizinha despontam Salisbury, Warick e York, que embora seja York está a serviço do rei que é de Lancáster, mas só até o momento que lhe convier e for dada a chance dele próprio ceifar a cabeça do magnânimo. Beauford, Buckingham, Somerset e Suffolk de um lado contra Glócester. Salisburu, Warwick e York do outro lado a favor de Glócester neste Grande Prêmio das Guerras das Rosas cujo vencedor sairá com o cocuruto cravejado pelo ouro da coroa da Inglaterra

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Mar 31, 202258:18
A Grande Orquestra do Mundo - Henrique VI - Parte 1

A Grande Orquestra do Mundo - Henrique VI - Parte 1

Com a morte de Henrique V as coisas começam a degringolar. Como Henrique VI ainda é um bebê na ocasião da sucessão, a coroa passa a não ter dono. Os franceses recuperam os territórios perdidos, o Delfim é empossado novamente como Rei da França e Talbot, um grande general inglês, sofre sucessivas derrotas. Conspirações e inúmeros pretendentes à herói surgem agora de tudo quanto e lado, e Shakespeare mais uma vez repete seu mantra: depois de um momento de glória, vem a tempestade. Para o Bardo Inglês, nada é íntegro demais que não possa ser corrompido. Feito um brinquedo em que se empilham blocos de madeira, uma peça mal encaixada e todo o edifício desmorona num segundo.

As guerras civis que aconteceram na Inglaterra intermitentemente por quase cem anos ficaram conhecidas como Guerra das Rosas. Os Lancaster e os York eram os Capuletos e Montecchios da Inglaterra Medieval, algo como o time do Palmeiras versus o time do Corinthians, ambos de chuteiras e gola elisabetana no pescoço atrás da taça do campeonato. A rivalidade de 100 anos de ambas as famílias, York e Lancaster, era uma coisa parecida ao que acontece com adversários esportistas - ao invés no caneco, o trono da Inglaterra, e muito lobby e negociatas rolando nos bastidores. O nome ‘Guerra das Rosas’ deve-se ao símbolo dos brasões dos Lancaster, que é feito de rosas vermelhas, e dos York, que é representado por rosas brancas. Como no campo de futebol, também nesta contenda entre famílias havia uniformes!

De uma maneira menos poética e mais direta, Shakespeare nos alerta de que em um Estado fraco com um governante covarde o que impera são as milícias internas, fazendo brotar a corrupção responsável por destruir o país por dentro.

No território francês o destaque fica para Joana D’Arc, que Shakespeare desenha como uma figura controversa: ao mesmo tempo uma bruxa e prostituta, e também exímia guerreira de coragem exemplar. Para a satisfação da rainha Elisabeth, uma fiel espectadora dos espetáculos de Shakespeare, o exército inglês – ainda que reduzido e fragilizado por disputas internas – prevalece, dando sobrevida ao rei para a sequência da história. Joana D’Arc tem o destino que conhecemos: presa e conduzida para ser queimada viva na fogueira.

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Mar 30, 202255:47
A Grande Orquestra do Mundo - Henrique V

A Grande Orquestra do Mundo - Henrique V

Shakespeare e seu castelo de cartas forjado pela figura de reis, nobres, bispos e gente comum, personagens que compõe o fantástico cordão carnavalesco cujo samba enredo traz sempre o bordão do poder e da ambição como tema principais. Henrique V figurou na história como um grande e luminoso rei, mas não isento de seu lado vicioso e afetado pelo ego. Como um eminente homem público, o peso de suas palavras soube convocar o brio das tropas inglesas para vencer a França. Nesta Grande Orquestra do Mundo, o verbo é o grande solista sob a regência do maior dramaturgo de todos os tempos.

Esta é a história de um Rei carismático e corajoso de nome Henrique V, no passado um vadio inveterado, fiel parceiro de esbórnia do glutão Sir John Falstaff, agora um monarca respeitável que confirma sua valentia ao enfrentar o exército francês no front de batalha. Um rei também controverso, porque é ele próprio quem acaba decretando a morte do antigo colega de noitada ao condená-lo à prisão. Sua hipocrisia enquanto monarca parece mais aceitável do que aquela que ostentava enquanto príncipe herdeiro, uma vez que na condição de rei ele prova ser um grande conquistador. Ele consolida a popularidade dos ingleses, faz a França capitular com uma força militar de menor tamanho que a do inimigo, e ainda consegue se casar com a Princesa Catarina, filha do Rei Carlos da França, inaugurando um período de paz dentro e fora das fronteiras.

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Mar 28, 202258:01
A Grande Orquestra do Mundo - Continuamos com Henrique IV

A Grande Orquestra do Mundo - Continuamos com Henrique IV

Esta é a continuidade da história de Henrique IV, Rei da Inglaterra, que no passado empreendeu um golpe de estado para roubar a coroa do Rei Ricardo II, o soberano da ocasião, e que depois de subir ao trono sofreu com antigos aliados, aquela espécie de nobreza que rasteja nos bastidores das negociatas políticas – bajuladores e empreendedores que mandam em tudo sem arriscar o nariz nos holofotes da evidência pública -, fato que resultou em uma guerra civil interna para destituí-lo do lugar que haviam garantido a ele.

Esta é a maravilhosa continuidade do castelo de cartas Shakespeariano onde o Rei está sempre a perigo. Este enorme edifício precário que faz ora ascender e ora cair uma infinidade de figuras emblemáticas, todas sustentadas pela articulação política de tantas outras figuras especialmente tarimbadas para agir na surdina da negociata pública. Esta é a história de Sir John Falstaff, um pançudo de inteligência cética que enfrenta o autoritarismo do poder pelas beiradas, na heresia típica da personagem cômica. Esta é a parte final da história do Rei Henrique IV e da decisiva conversão do vadio Príncipe Hal no futuro soberano de nome Henrique V... Sai Henrique, entra Henrique.

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo a cada um de nós.

Mar 27, 202258:58
A Grande Orquestra do Mundo - Henrique IV

A Grande Orquestra do Mundo - Henrique IV

Henrique IV, também conhecido como Henrique de Bolingbroke, foi o rei da Inglaterra entre os anos 1399 e 1413, ano de sua morte.

A peça histórica Henrique IV de Shakespeare inicia com dois problemas: um de ordem familiar: o rei reclama da libertinagem de seu filho, o Príncipe Hal, que vive na esbórnia ao lado do glutão Falstaff, pouco se importando com os assuntos relativos à corte - ele o compara a Hotspur, a quem tece elogios pela bravura; e ainda há um segundo problema de ordem militar: Hotspur em uma investida bélica fizera alguns reféns mas recusa a lhes conceder a liberdade antes que o rei patrocine o resgate do nobre Mortimer, aliado de Hotspur. O rei rejeita a proposta e já na primeira cena da peça temos o argumento para o desenvolvimento da conspiração contra o Rei Henrique IV. Shakespeare, embora hábil em misturar histórias e pular de cenário para cenário, sempre economiza tempo quando o assunto é apresentar-nos logo de cara o conflito da trama.

Esta é a história de Henrique IV, no passado o valente Henrique Bolinbroke que mediante a uma conspiração de nobres deu conta de passar a rasteira no Rei Ricardo II e abocanhar a coroa de suas mãos. Hoje entronado, é agora ele quem sofre nas mãos daqueles que o colocaram no poder: de conspirador a vítima de conspiração, mostrando que em um processo político, por mais que as alianças sejam bem-feitas, haverá sempre aquele que saia insatisfeito, o que para Shakespeare já é mais do que suficiente para fazer crescer um novo movimento que culminará com uma nova dança das cadeiras.

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo de cada um de nós.

Mar 26, 202256:22
A Grande Orquestra do Mundo - Ricardo II

A Grande Orquestra do Mundo - Ricardo II

Ricardo II governou a Inglaterra de 1377 a 1399, subindo ao poder quando tinha apenas 10 anos de idade. A peça de Shakespeare começa no último ano de seu reinado, numa altura em que todos estavam insatisfeitos com a administração da coroa. Nos registros históricos, Ricardo II é retratado como um rei fraco e caprichoso – e até mesmo louco -, cujo maior feito foi rechear a corte de bajuladores e protegidos. Shakespeare, no entanto, parece mostrar certa simpatia com seu Ricardo, tornando-o uma figura controversa ao dotá-lo de certa qualidade reflexiva. Qualquer semelhança com Hamlet não é mera coincidência.

Esta é a história de um rei que abdica da sua condição de monarca sem demonstrar grandes resistências. Ao invés de ser arrancado do trono por alguma espécie de conspiração criminosa, esse rei é manso: um rei consciente da sua impotência e que estabelece com as outras personagens um diálogo sobre a trágica condição do papel que é forçado a desempenhar.

E este é um programa que tenta comprovar que Shakespeare é o grande decifrador da alma humana. Seja na Inglaterra elisabetana ou no Brasil de hoje, ele permanece sempre vivo, bastante próximo de cada um de nós.

Mar 25, 202256:50
A Grande Orquestra do Mundo - A vida e morte do Rei João

A Grande Orquestra do Mundo - A vida e morte do Rei João

A GRANDE ORQUESTRA DO MUNDO dá início à jornada das peças históricas de Shakespeare. Um enredo que contrapõe um rei frágil em meio a negociatas pela herança da coroa britânica.

Mar 24, 202255:41