às 4h20 na net

É falso que o que nos une enquanto seres humanos seja mais do que aquilo que nos separa. Para além de tudo o resto, entre duas pessoas há sempre um ego de distância (pelo menos). E seja ele maior ou menor, um ego é sempre um ego. O que é? Motivo para ouvirem.

Postar é fácil, difícil é tornarmo-nos trendsetters de forma orgânica, descomplexada e enquanto somos exatamente aquilo que parecemos ser: nós mesmos. Em teoria, parece fácil. Mas nas redes sociais da nossa convidada, é só incrível.

E ela sabe - aliás, está fartinha de saber - que não vai mudar o mundo. Esse é o papel das histórias. É por isso, e assim, que nos conta a sua: entre prosas urbanas e considerações cómico-trágicas sobre a vida em geral. Não como se a sua dependesse disso, mas como se quem a segue nas redes não esperasse outra coisa.

Já trabalhou na NIT e foi aí que fotografou quase tudo e todos. Quando sentiu a oportunidade de fotografar sozinha, por si, não deu só um pequeno passo em frente. Tomou balanço e pensou “é agora: levanta-te e voa”. E voou. Vejam-na a planear, conceber, dirigir e fotografar campanhas para marcas; aqui, no Reino Unido ou nos Estados Unidos. E ainda bem que escolheu as imagens; porque se tivesse escolhido pôr a vida num filme, só visto.

Insiste em ser real, mesmo num mundo cada vez mais surreal. Ousa escrever-nos sobre tudo, mas sobretudo sobre tudo aquilo que nós - não somos capazes de dizer. Amor, desamor, sexo, igualdade de género, menstruação, emancipação feminina e todos os elefantes-brancos que deixamos desarrumados pela sala. Ela expõe quase tudo o que lhe faz confusão: e habitualmente, daí surgem convites para criar uma ou outra exposição.

Daqui sente-se que sente muito, mesmo que se sinta a mais ou quase sempre mais cansada que o normal. E se pensarmos que pensa tão bem como fotografa, podemos dizer que tem um portfólio de vida muito bem pensado. Melhor que ninguém, ela sabe bem que se não pensarmos por nós, alguém decerto pensará.

É uma sorte ouvirem isto. O nosso convidado esteve a braços com uma mononucleose, esteve de cama e esteve mesmo, mesmo na merda. Mas não tendo batido a bota, teve a amabilidade de vir fazer sapateado ao nosso humilde podcast.

Não se lembra de um dia na infância em que não tenha chafurdado forte e feio na internet, como gente grande. É lá que estuda merdas, que aprende merdas e que descobre merdas. Não é de estranhar que ache o mundo real uma merda.

Depois de fazer o belíssimo jingle que podem escutar antes e depois destas miseráveis introduções, declaramo-lo oficialmente Engenheiro de Som do 4h20: fica a dúvida se tal conta como currículo ou se vai direto para cadastro.

Trabalha a meias com a Câmara de Lisboa e tem uma carreira paralela como músico: canta a solo, toca nos Ciclo Preparatório e como qualquer artista que se preze, vive e embebeda-se no Bairro Alto. Nem podia ser de outra maneira.

Bebe quase tudo, apesar de gostar especialmente de vinho: de preferência francês e se possível de Bordéus. Mas ao contrário do vinho, não envelhece bem. Aliás, nem sequer envelhece: usa as mesmas expressões desde os 5 anos e toda a gente sabe que é o impropério que nos mantém jovens.

Trata a nossa Meg por Forte e é ágil a definir alcunhas para os colegas. Mas guardou o melhor nome artístico para si. Músicos deste mundo, convosco, Vidente Macedo.

Os tesouros deste episódio:

É um tipo educado, humilde, inteligente e extremamente sagaz. Mesmo que nem sempre tenha algo a dizer, provavelmente já pensou sobre o assunto umas 200 vezes, de trás para a frente, em slow motion e num plano contra-picado: isto enquanto imaginou 43 desfechos possíveis. Não se deixem enganar: é tão alérgico à falta de noção como a convidada anterior, apenas é mais subtil.

Nasceu em Aveiro e nasceu do Benfica, o que por si, nos mostra que Deus não dorme: e que sempre que gentilmente nos dá com uma mão, sorrateiramente nos tira com a outra.

É um homem simples: quando vê um thumbnail com a Scarlet Johansson, clica. Quem somos nós para julgar? Há mais: não é só um tipo alto de olhos azuis que escolhe  criteriosamente a cultura que consome. Também é daquelas pessoas que monta os móveis no mesmo dia em que os compra e, não satisfeito, os vai encerar de seguida. Lá está Deus outra vez com esta mania de dar e tirar.

Escreveu para o Shifter e acha que toda a gente deveria dar uma oportunidade a Better Call Saul sob pena de estarmos a perder a série da nossa vida. Deve ser o único publicitário português sub-30 que não tem tatuagens, não fuma e acha a publicidade um ritual estúpido e ignóbil, geralmente praticado por ateus que se acham deuses e malta genericamente depressiva. 

Se o virem na rua, perguntem-lhe se preferia um Yorgos Lanthimos cego, um Mick Jenkins mudo ou que o Jonas nunca tivesse jogado no Benfica. Malta que nasceu do Tejo para cima, convosco, Miguel Mestre e tudo o que ele tem para ensinar.

Os tesouros deste episódio:

Há dois fenómenos especialmente presentes nas nossas vidas atribuladas: as coisas que só vistas, porque contadas ninguém acreditaria e as pessoas que se não existissem, teriam de ser inventadas. Como facilmente se prevê, a nossa próxima convidada faz parte do 2º lote.

Nascida, criada e perdida em Belém, debruça-se insistentemente sobre o sentido da vida e não se cansa de o procurar nas suas próprias redes sociais.

Sabe bem que o mundo não vai lá somente com vídeos de 15 segundos ou frases com 120 caracteres, mesmo que sejam divinais. Mas é tão católica que chega a rezar diariamente: para que toda a falta de noção tenha a validade de uma InstaStory.

Entre escrever para marcas, trabalhar no Lux, desfilar no ModaLisboa e ser mãe de uma cadela com mais coração que ela, ainda arranja tempo para conjugar peças de vestuário que ninguém compraria nos saldos, nem mesmo numa loja vintage-retro de roupa usada em terceira mão.

Sim, é ela a rainha dos outfits que não lembram ao menino Jesus. Não julguem: versátil é aquele que está vestido para qualquer ocasião, mesmo que seja um funeral.

Viúvos, viúvas e pessoas desprovidas de noção, convosco, Filipa Cysneiros Dornellas, provavelmente a 1ª e última pessoa com 3 nomes sonantes a marcar presença no nosso podcast.

Os tesouros desde episódio:

Entre jerricãs de combustível e o mundo digital, o nosso próximo convidado tem um vasto leque de hobbies, mas primeiro fala de quase tudo mesmo que se defina como um especialista em nada e em coisa nenhuma.

Mas nós garantimos que está aqui um expert em comes e bebes. Entre jantares organizados pelas mães dos outros - benditas mães - e uma epopeia em que se propõe a sair do digital para conversar com malta e experimentar cervejas, com ele ninguém passa fome e decerto ninguém morre à sede.

Disse-nos que “ter ideias” não é bem a cena dele, apesar de manter um portfólio atual, aprumado e carregadinho delas. E mesmo que não se iniba na hora de passar à dança, prefere passeios em cima de uma tábua com 4 rodas ou corridas numa das inúmeras provas em que já participou.

Se o faz rápida ou lentamente, não sabemos. Mas lente a lente e de analógica erguida, lá vai capturando petiscos, cervejas, half pipes, néons e pessoas. Muitas pessoas, não fosse ele um miúdo cheio de gente.

Trabalha em Digital & Brand Activation e mesmo tendo o próprio talento como certeza, permanecerá para sempre a dúvida sobre se o seu nome leva - ou não - acento agudo.

Malta bacana, convosco, Rúben Pardal.

Os tesouros desde episódio:

Ela é serena. Tão serena que chega a irritar, tal é a calma com que trata tudo e todos. É uma pessoa de certezas, embora o olhar penetrante deixe dúvidas: nunca sabemos se nos ouve enquanto pesa cada palavra ou se está a planear o nosso homicídio com pompa e circunstância.

Lê como se não houvesse amanhã, o que à data de hoje, é bem mais do que os livros consumidos pelos autores deste podcast. Em 3 vidas.

Gosta de pensar que tem na cabeça um corretor autográfico (perdão, ortográfico) de elevada precisão e sempre que testemunha alguém a ferir gravemente a gramática, intervém na esperança vã de a salvar.

Anda de mota quase sempre e as últimas quedas têm servido para lembrar que a única coisa mais importante que subir na vida, é tentar não cair na estrada.

Todos os dias vai nadar. É Head of Social e isso obriga-a a fazer mergulho livre na maior fossa a céu aberto da humanidade: as redes sociais.

Internautas e aspirantes a influencers, convosco, Vera Monteiro.

Os tesouros desde episódio:

Não acredita em piadas fáceis, mas facilmente se ri à gargalhada dos variados fenómenos sociais que o rodeiam. É um pensador mas desengane-se quem acha que dedica mais tempo a refletir do que a fazer acontecer. Depois de Ateliers, blogues, clubes de leitura, cursos off e online e de um Tumblr icónico, lançou um livro.

Foi, quase de certeza, uma das primeiras pessoas a abordar com franqueza um dos maiores flagelos portugueses: as básicas.

Mesmo tendo-se em boa conta, tem ar de quem liga pouco a cultos de personalidade desmedidos, mas pelo menos para nós, merece a distinção cool de ídolo urbano.

É copywriter, anda de transportes públicos e tenta não levar a vida demasiado a sério: de onde estamos sentados, isso até parece fácil.

Para já, não se excitem: há muita pérola para descobrir aqui mas provavelmente nunca saberão se ele algum dia prometeu ser chunga forever.

Crianças, adolescentes e 3ªidade, convosco, Alexandre Couto.

Os tesouros desde episódio:

Mais uma semana, mais uma voltinha. Por incrível que pareça, estamos a chegar ao fim da linha e ninguém ficará mais aterrorizado do que nós próprios com a ideia de uma linha que se extingue. É o que é.

Mas pedimo-vos um momento para a breve contemplação do embate promovido neste episódio: capitalismo VS feminismo. Sim, porque ninguém se devia calar perante a pink tax aplicada a artigos de beleza para meninas e mulheres. Ainda acerca de mulheres: sabiam que há podcasts muito melhores que o nosso? Bom dia! É obvious, né? Vai, Marcela Ceribelli!

E a pressa com que andamos sempre? Corre para aqui, despacha-te ali e faz aquele sprint para chegar a tempo sabe-se lá onde. Preenchemos Timesaver, enchemos a agenda como se fosse a mala do carro e saímos. E se conseguíssemos fazer Mais. Devagar? O Slow J é que tinha razão: “eu não sou lento, eu só ostento a minha lentidão”.

Notas finais mas nem por isso menos pertinentes: registem as patentes das coisas boas que têm nas vossas vidas e aprendam a pensar.

Os tesouros #9:

O dia foi improvavelmente longo e estávamos muito, muito, muito cansados, maltinha. Para além do calor ridículo, ou talvez por isso mesmo, a Meg abanava de forma esquizofrénica um exemplar do “Carta de Um Filósofo a Um Jovem Publicitário”, qual leque.

Há fenómenos musicais a fazer o que querem de multidões e um reality show que está no ar há mais de 17 temporadas. Mas será que estes conteúdos carecem de credibilidade? Suspeitamos que sim, mas ela jorra abundantemente de um certo side hustle projetado para os próximos 30 anos de Nova Iorque.

E plantam-se árvores na internet? Plantam. Com ecosia, ou côdea, ou é córnea. Ah! E há protagonistas de filmes de ação para lá do Keanu Reeves (infelizmente), por isso refletimos sobre alguém que escala durante horas e dias e meses e para quem fazê-lo é a forma mais livre e eficaz de viver.

Os tesouros #8:

Os tesouros #5:

1. (Meg) Breathing Exercises (Google)

Os tesouros #4:

Os tesouros #3:

às 4h20 na net é um podcast sobre o que há de valor na internet.