PROGRAMA SEMANAL DE RÁDIO DO FMCJS

Dia 1º de maio não é o dia do trabalho, e sim o dia dos trabalhadores e trabalhadoras terem garantido seu direito à dignidade do trabalho. Sua origem foi a decisão de mulheres entrarem em greve por sentirem que o emprego não reconhecia nem garantia a dignidade do que faziam; na verdade, ele era a organização da exploração de seu trabalho, e por isso, negação de sua própria dignidade de pessoas humanas. O trabalho é digno quando as pessoas se sentem realizadas com o que fazem com sua inteligência, criatividade e força física, e felizes porque podem manter a si e sua família pelo reconhecimento do seu esforço criativo.

A decisão da ONU de que dia 22 de abril seja Dia da Mãe Terra foi fruto da proposta dos Povos Originários e de movimentos sociais e governos que desejam que a humanidade reconheça que ela é mãe da vida e não um depósito de recursos que o ser humano teria direito de se apropriar e usar para gerar um aumento de riqueza sem fim. É uma riqueza que, por causa do domínio do sistema capitalista, pode e vai sendo concentrada cada dia mais por poucas pessoas, enquanto a maioria da humanidade passa necessidade.

As pessoas que amam a Mãe Terra estão sofrendo com ela, e mais uma vez, por causa das agressões que ela recebe no bioma Pantanal. Dessa vez, ficamos sabendo que um empresário decidiu jogar veneno de avião numa grande extensão de floresta em área de preservação com o objetivo de secar rapidamente as árvores para facilitar sua queima para plantar capim para mais e mais bois. A análise dos venenos revelou que um deles já foi usado pelos Estados Unidos na guerra que perderam no Vietnã, conhecido como “agente laranja”.

Não foi a primeira vez, mas há poucos dias o ministro de minas e energia foi claro: em minha opinião, o país deve explorar petróleo e gás até quando o Brasil conseguir alcançar IDH à altura do que conseguiram os países industrializados, que hoje podem contribuir muito pouco com a questão ambiental porque se industrializaram muito antes de nós.

Se a gente se relacionar com a Páscoa de Jesus de Nazaré como uma luz para iluminar a vida da humanidade, como se deveria fazer sempre, o que ela revela em 2024: a presença de sinais de que a vida está sendo vitoriosa sobre a morte, ou os sinais de morte são mais intensos e ameaçam a vida?

Tivemos a oportunidade de ver que os filmes policiais não são apenas roteiros para cinema, e sim que suas histórias acontecem na realidade e podem ser assistidas ao vivo. Terminamos sendo envolvidos e, de alguma forma, somos atores de seu roteiro, já que a filmagem demorou seis anos, e teve, num domingo, uma sequência de ações que, já se sabe, não serão as últimas. Foi revelado, por exemplo, que o assassinato da vereadora pelo Rio de Janeiro Danielle Franco foi planejado com os cuidados de um chefe de polícia que garantia absoluta impunidade aos mandantes e executores...

Estamos na semana da Água. Dia 22 é o Dia Mundial da Água. Devia ser um dia de festa e veneração. Afinal, nós mesmos somos mais água do que qualquer outra coisa, e a água é fonte e condição indispensável para todas as formas de vida. É por isso que São Francisco, há 13 séculos, já saudava a água como irmã, e é com ela e o sol que a Terra é nossa Mãe e nos governa. Se a humanidade tivesse vivido de acordo com a consciência e a veneração de São Francisco, o Dia da Água seria só dia de festa.

O Seminário nacional do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental foi encerrado no dia 7 de março, e procuramos viver e trabalhar com esse espírito: encarar a emergência socioambiental de frente, procurando manter firme nossa esperança. Reconhecemos que isso não é fácil, mas o alimento que renova nossa esperança vem das práticas populares que buscam conviver harmoniosamente com a Mãe Terra. São muitas, de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, que se somam com iniciativas de movimentos sociais e entidades que atuam em cidades e no meio rural.

Em quantos lugares do nosso pequeno mundo há pessoas buscando desesperadamente algum alimento para enfrentar a morte por fome? São muitos, infelizmente, mais do que podemos imaginar a partir do lugar em que vivemos.

Precisamos vencer a indiferença diante de todas as formas de violência que matam, a começar, de imediato, diante da matança de 30 mil ou mais crianças, mulheres e homens em Gaza, na Palestina. E para isso, declaramos em alto e bom som que não nos deixamos enganar pelos argumentos dos sionistas, estejam eles no governo de Israel ou em qualquer outro lugar, no governo dos Estados Unidos ou no Brasil, e denunciaremos que a violência não é contra o Hamas, e sim para colocar em prática a decisão de expulsar o povo palestino de sua pátria, prática genocida, com o objetivo de matar as pessoas que seja necessário para tornar impossível a vida deste povo em seu território.

Este foi o grito de Sepé Tiarajú ao ser agredido pelo exército dos Impérios de Portugal e Espanha, em 1756, aplicando o tratado de Madri, imposto como lei que tentava dar legalidade à invasão e roubo de terras dos Povos Indígenas que viviam há séculos em seus territórios. Por sua liderança e coragem, foi caçado e morto, junto com seu povo, pelos invasores, mas é considerado santo e símbolo dos que até hoje lutam pelo direito aos territórios originários.

As comunidades que têm como seu fundamento a busca do Bem Viver promovem espaços de convivência e diálogo sobre a prática e o amor à verdade. A relação entre a palavra, a prece e os atos culturais comunitários e a prática das relações com as pessoas e com todos os seres da Mãe Terra deve demonstrar coerência. Quando essa transparência é rompida, algo sempre possível para seres incompletos, a correção é um convite amoroso em favor da retomada do melhor modo possível de ser pessoa humana. É assim que o Bem Viver vai se tornando real, e não apenas um ideal distante.

Estamos em tempo de carnaval, e em seguida, entraremos no tempo de preparação para a Páscoa. Em lugar da fuga dos desafios que temos para enfrentar, o carnaval pode e deve ser celebração dos avanços na superação dos desafios e na criação de melhores condições de vida. Que seja festa de celebração de nossa capacidade de enfrentar com coragem e decisão tudo que ameaça a vida, e seja igualmente fonte de mais energia para superar o que ainda falta para que possamos viver com segurança e paz.

É sempre bom iniciar com uma boa notícia: Bernardo Arévalo e Karin Herrera, o presidente e a vice eleitos na Guatemala, país amigo da América Central, foram finalmente empossados no cargo que a eles confiaram os povos e comunidades com ampla maioria!

Este é o primeiro programa radiofônico do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental em 2024. Como nos 10 anos anteriores, ele continua “Cuidar da Terra para Salvar a Vida”. Mantido este objetivo, qual a missão do nosso Fórum neste ano?

Por estar sempre atento às mudanças climáticas, engana-se quem acha que sua missão é apresentar dados e prestar atenção aos desastres socioambientais para assustar as pessoas, anunciando que estamos perto de um apocalipse. Não, nossa missão é anunciar, e com insistência, que a humanidade já tem as melhores condições para que todas as pessoas vivam com sua dignidade e direitos garantidos, e que, se um pequeno número de pessoas colocou nossa Casa Comum, a Terra, em perigo de catástrofe socioambiental, a maioria da humanidade pode exigir que se mude tudo que for necessário para que a Mãe Terra recupere seu equilíbrio. 

Viver o Natal deste ano é acolher a mensagem de quem lembramos o nascimento, Jesus de Nazaré, e desejar com todas as forças que o próximo ano seja marcado por avanços em favor da vida. A mensagem é esta: que sejamos pessoas de boa vontade e mobilizemos quem têm boa vontade em favor da vida em plenitude para toda a humanidade e demais seres vivos da Mãe Terra, nossa casa comum.

Na análise da participação governamental do Brasil na COP 28 de Dubai, acertou quem viu nela o “samba da transição energética doida”, como o fez Giovana Girardi na Agência Pública. Afinal, quem apresentou a posição do Brasil sobre o petróleo e outras fontes fósseis: o presidente Lula, a ministra Marina Silva, ou o ministro Alexandre Silveira e o presidente da Petrobrás Jean-Paul Prates? 

Estamos preparando a festa do Natal de Jesus de Nazaré, e muita gente está entrando na febre da compra de presentes, de modo especial para as crianças, presentes que elas receberão do Papai Noel, um velhinho do hemisfério norte.
Pois é, amigas e amigos, os deputados federais e senadores acabaram de dar, no dia 28 de novembro, um estranho e perigoso presente a todos nós e à própria Mãe Terra, um presente que será entregue pra gente de um jeito quase invisível...

Quem não fica indignado diante das imagens e notícias da guerra na minúscula Faixa de Gaza, em que sobrevivem milhões de palestinos? E mais indignado ainda ao ser informado que o número de palestinos mortos já ultrapasse 14 mil, e que seis mil deles são crianças, e quatro mil, mulheres?

Está mais do que provado, pela experiência e por alertas de povos originários e provas de cientistas, que o calor que já ameaça a vida de milhões de brasileiros, bem como a seca que afeta rios e povos da Amazônia e as enchentes intensas no sul do país não são mais eventos naturais. São, com certeza, eventos extremos das mudanças climáticas provocadas por ações humanas. A teimosia de continuar fazendo o que se sabe que agride a natureza está levando a Terra, mãe da vida, a não ter energias para manter o clima em equilíbrio.

Vocês sabem que há pessoas, comunidades e povos que cuidam das nascentes, córregos e rios em todos os biomas do nosso país, de modo muito especial na Caatinga e no Cerrado, um por ser semiárido e seus tempos de chuva serem irregulares, e outro por ser berço das águas de muitas bacias nacionais. Mas é preciso perguntar-nos: todas e todos cuidam da água?  

O que você sente e pensa ao ver imagens com os imensos rios da Amazônia praticamente secos? E ao ver peixes mortos e ouvir pessoas falando das dificuldades para continuar vivendo, o que sente e pensa?

Foi com essas palavras que Valid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina, descreveu o que está acontecendo no conflito entre Israel e a Palestina numa entrevista ao “Bom Dia 247”. Em sua visão, “não existe uma guerra, existe um genocídio promovido por Israel contra o povo palestino”. E como “os veículos de comunicação dominante entraram num modo inédito de demonização de um povo inteiro”, esse é “o primeiro genocídio televisionado da história”.

O que está acontecendo no Oriente Médio é uma nova guerra, ou mais um capítulo de uma guerra nascida no final dos anos 1940? Quando se fala da terrível guerra que está acontecendo entre Israel e o povo palestino sem ter presente que Israel tem conseguido impedir que povo palestino tenha seu território, e exista como nação, desde o primeiro dia que em que foi criado, em 1949, com certeza não se tem condição de entender nada. A ONU destinou a Israel uma parte do território palestino, e desde o primeiro dia, ele nunca parou de ir aumentando o tamanho dele com o uso de violência e de instalação vilas rurais. Com isso, o território em que vivem os palestinos foi diminuindo e, ainda assim, Israel controla as fronteiras com mão de ferro e, na parte chamada Gaza, controla também os serviços de água e energia, bem como o acesso de alimentos.

Organizado pela Articulação pelos Direitos da Natureza, a Mãe Terra, e reconhecido pela ONU, o 2º Fórum Brasileiro dos Direitos da Natureza foi realizado nos dias 6 a 8 deste mês em Ilhéus, Bahia. Como destacado na Mensagem pública, o fundamento do encontro foi o compartilhamento de saberes e a escuta das comunidades  indígenas, tradicionais, acadêmicas, religiosas e da sociedade civil e a reflexão acerca das incidências necessárias em diversos níveis e setores para a garantia dos Direitos da Natureza.

Enquanto insaciáveis senhores de terra astuciam manobras para evitar a aplicação do que a Constituição define sobre os direitos dos povos indígenas, confirmados pela decisão do STF contra o “marco temporal”, a Articulação pelos Direitos da Natureza promoverá nos dias 6 a 8, em Ilhéus, Bahia, o 2º Fórum Brasileiro dos Direitos da Natureza.

O que vocês acham, amigas e amigos, da reação de lideranças do agronegócio à decisão por 9 votos a 2 no Supremo Tribunal Federal contra a tese do “marco temporal”, declarando com todas as letras que os juízes decidiram errado, indo contra a Constituição Federal?

Vimos e ouvimos pessoas que perderam tudo, já que junto com casa, roupas e documentos, pessoas da família partiram antes da hora por causa de ciclones e enchentes em algumas regiões da Terra, declararem que não entendiam o que estava acontecendo e não sabiam o que fazer para continuar vivendo. Em outras regiões, pessoas morreram por causa de um calor acima de 43ºC durante mais de trinta dias, ou por tentarem atravessar o mar em busca de sobrevivência, fugindo de guerras cada dia mais absurdas ou de longos tempos de secas.

O apoio às pessoas e cidades duramente atingidas por chuvas e ventos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina indica o que todas e todos precisamos ter: solidariedade. De maneira ainda mais forte, ela é o consolo que podemos oferecer às famílias que perderam entes queridos, que já são 47, ou que procuram os desaparecidos. 

O Dia do Cerrado, 11 de setembro, precisa ser uma data especial para que lembremos, profundamente agradecidos, do maravilhoso presente que a Mãe Terra, animada pelo Espírito divino, nos deu ao criar e manter vivo e fonte de uma diversidade quase infinita de seres vivos este Bioma. E mais, por nos dar de presente uma vegetação florestal com raízes profundas e um solo que acolhe as águas das chuvas e alimenta os aquíferos, que são grandes depósitos de água que formam e mantém vivos quase todos os grandes rios de nosso país. Por ser um planalto, uma região alta e relativamente plana, ele é o que denominamos “caixa d`água do Brasil”. Ele acolhe, guarda e redistribui as águas geradas pelo grande Bioma Amazônia, que chegam a ele e a outros biomas por meio dos rios voadores. 

Notícias dão conta de um debate entre pessoas com responsabilidade no governo federal, em que entram também governantes da região amazônica, dirigentes da Petrobrás, empresários e empresas de comunicação. Qual o assunto? É sobre a decisão a ser tomada sobre explorar ou não mais petróleo e gás na Amazônia. Como o IBAMA, com total apoio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, negou, e com argumentos técnicos, licença para a Petrobrás avançar nas pesquisas, os que defendem o aumento da exploração afirmam que é um absurdo perder essa oportunidade de negócios, indicando que os ganhos seriam usados para financiar a transição energética. 

É com esse clamor a Deus, conhecido com diferentes nomes, que, mais uma vez, a família de Maria Bernardete Pacífico, líder Quilombola em Simões Filho, perto de Salvador, está enfrentando a dor provocada pelos homens que invadiram sua casa, trancaram os netos nos quartos, e a mataram com uma saraivada de tiros. Mais uma vez, sim, porque em 2017 foi assassinado o seu filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Dino do Quilombo, então candidato a vereador.

É muito bom começar com uma boa notícia. Festejamos a decisão das 22 redes e grupos de coletoras e coletores de sementes de comunidades indígenas, quilombolas, gerazeiros e outras comunidades tradicionais e de pequenos agricultores: eles criaram o Redário, uma rede de redes, envolvendo mais de 1.200 pessoas, a maioria mulheres, diretamente na coleta de sementes e no incentivo ao plantio de árvores típicas de cada biomas de nosso país. A prática amorosa destas pessoas é uma bênção em favor da vida, e a gente precisa agradecer a sua dedicação e seguir seu exemplo. Tomara que o Redário cresça e que nasçam novos redários!

Nós, todas e todos que fazemos parte do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, da Frente por uma nova política energética para o Brasil e do Comitê de Energia Renovável do Semiárido estamos muito felizes. O motivo maior é que a Articulação do Semiárido brasileiro e os movimentos de camponeses sem-terra e pequenos proprietários, articulados pelo MST e pelo MPA, assumiram a luta em favor da adoção pelo governo federal de um amplo programa de produção de energia solar fotovoltaica nos telhados ou nas áreas coletivas das comunidades do Sertão da Caatinga, dos assentamentos de reforma agrária e dos produtores familiares em todo o país...

As informações que o Censo Demográfico está publicando sobre os povos indígenas e quilombolas são muito importantes para quem está atento e assustado com os eventos climáticos extremos que estão acontecendo no Brasil e em todo o mundo, de modo especial o calor muito acima do normal e os incêndios que as pessoas dos países de todo o hemisfério Norte estão enfrentando, levando muitas à morte, e em nosso país, as repetidas enchentes e a temperatura muito acima do normal para o período do inverno, chegando a mais de 5ºC em diversas regiões.

O povo do Rio de Janeiro que olhou para o Cristo Redentor no último dia 22 deve ter lembrado da sabedoria popular, que adverte: “não se deve brincar com o fogo”. Sabem por quê? Por terem visto a projeção nele do Relógio do Clima, indicando que a humanidade só tem 5 anos e 364 dias para evitar que o clima da Terra ultrapasse os 1,5ºC de aquecimento global, e com isso evitar que continuemos avançando no caminho do inferno climático, como lembrou o Secretário Geral da ONU.

Pesquisa da ONU sobre a fome no mundo confirmou que, em 2022, mais de 21 milhões de pessoas no Brasil passavam fome, e mais de 70 milhões viviam em insegurança alimentar. Esse era nosso mapa da fome em 2022: 10% da população na miséria e um terço dela com insegurança alimentar.

Foi realizada mais uma Conferência Nacional da Saúde, evento importante para definir o que deve ser feito em favor da saúde de todas as pessoas. Mas se a gente pensar que a saúde depende só de postos de saúde, hospitais e remédios, estamos enganados. Estudos científicos comprovaram o que sabemos, mas podemos estar esquecendo: praticamente 90% da nossa saúde depende desses fatores: a genética, os nossos comportamentos, as condições econômicas, o nível educacional, as redes sociais de apoio e as características do local em que vivemos.

No mês de junho celebramos alguns santos pobres e amigos dos pobres: Antônio, João Batista, Pedro e Paulo. Nem sempre é lembrado isso nas festas populares, mas foi assim que eles escolheram viver para seguir fielmente e anunciar o Evangelho de Jesus de Nazaré, que se fez um de nós numa família de trabalhadores pobres e deixou claro que veio para que todas as pessoas tenham vida e vida em abundância, e que o caminho para isso é a prática do amor radical como o que ele praticou.

É claro que vocês, amigas e amigos, acompanham a guerra que está acontecendo na Ucrânia. Nos últimos dias, creio que todas e todos fomos enganados por esta notícia: os países da Europa ocidental e os Estados Unidos liberarão 50 bilhões de dólares para a reconstrução da Ucrânia. Bem, se vão reconstruir o que foi destruído pela guerra, deve ser porque a guerra acabou, certo?

A fome é uma tragédia para quem a enfrenta e até é morto por ela, e não podemos deixar de ter clareza que sua existência é um julgamento da humanidade. Como sabemos que há produção de alimentos em quantidade suficiente para que nenhuma pessoa passe fome, quem usa esses alimentos para fazer negócios, e com isso, impede que os pobres tenham acesso a eles, já está julgado e condenado, faltando apenas que isso seja formalizado por um tribunal que julgue a partir do direito inalienável à vida, e não mais por leis de propriedade criadas para defender práticas desumanas, que provocam fome e morte.

Mais uma vez temos a confirmação de que a grande mídia só se mobiliza e gera notícias quando o desastre afeta os mais ricos e o centro do mundo do mercado financeiro, Nova York. Quantas vezes foram mostradas imagens da fumaça que cobriu essa grande e poderosa cidade, mostrando também que ela estava vindo de incêndios no Canadá? Muitas vezes, ao contrário do que acontece todo ano com as cidades da nossa Amazônia, por exemplo, de que pouco se fala. Na verdade, aqui também tivemos muitas imagens e notícias quando a fumaça de queimadas no Cerrado e na Amazônia alcançou a cidade de São Paulo!

É terrível começar o nosso diálogo na Semana do Meio Ambiente com essa constatação: voltamos ao império colonial, comandado agora não pelo poder pretensamente divino de um rei estrangeiro, e sim pelo poder da lei. Em nome de um futuro falsamente apresentado como progresso, estamos, na verdade, aumentando a velocidade da destruição que ameaça o futuro para os seres vivos no planeta Terra.

Trata-se de um presente de Deus e da Mãe Terra, sim, ou será que alguma empresa capitalista ou algum ser humano criou os imensos manguezais e o grande sistema de recifes de corais existentes na foz do Amazonas? E se reconhecemos que não são obra humana, teria a Petrobrás direito de colocar em risco sua existência para extrair petróleo das profundezas de um novo pré-sal?

A mídia destacou nos últimos dias mais um alerta da ONU: dados do IPCC indicam que o El Niño se somará ao que vai se agravando todo dia, e a previsão é a de que haverá nos próximos cinco anos chuvas intensas em algumas áreas e longos períodos com menos chuvas e mais secos em outras, inclusive na Amazônia, e que isso, somado às crescentes emissões de gases de efeito estufa, levará a temperatura global a alcançar o 1.5ºC de aquecimento nos próximos cinco anos. Lembremos que a meta estabelecida nas negociações da COP de Paris era que ações voluntárias de cada um dos países que assinaram o documento conseguissem evitar que se ultrapassasse esse 1.5ºC até o ano de 2050. 

“NUNCA MAIS UM PAÍS SEM NÓS”

Essa decisão dos povos indígenas lembra quanto a democracia de nosso país tem sido e continua limitada. E lembra quanto foi criminosa a colonização, que ao considerar-se quem teria descoberto esse território, desconheceu, negou e só permitiu um caminho para a continuidade de existência dos povos originários que aqui viviam: a escravidão. Isto é, um caminho de negação de sua humanidade. Para os colonizadores, os seres humanos que existiam antes de sua chegada deviam tornar-se domínio seu e de seu rei junto com as terras, as florestas e todos os bens naturais existentes.

O que você sente, amiga e amigo, diante das imagens e notícias do que se deixou acontecer no Território do povo Yanomami? Elas não revelam a existência de pessoas que se relacionam com o ouro como algo de valor absoluto, maior do que a vida dos irmãos e irmãs indígenas, do irmão rio, da irmã água, da irmã floresta, da Mãe de todas as formas de vida, a Terra?

O que é melhor: festejar o trabalho ou os trabalhadores e trabalhadoras? Se a gente pensar um pouco e não ficar preso ao passado e ao presente, creio que o melhor mesmo é festejar os dois. Imaginem, amigas e amigos, que o trabalho é a revelação de que os seres humanos são criadores, inteligentes, artistas, capazes de transformar diferentes tipos de coisas em bens úteis para a vida, capazes de transformar até a si próprios. Existem, por isso, relações profundas entre os diferentes tipos de trabalho e as pessoas que os realizam.

Lembremos de algumas boas notícias recentes: a Alemanha vai fechar as últimas duas usinas nucleares; os países da União Europeia não aceitarão mais o que for produzido em áreas com derrubada de florestas, como a Amazônia, o Cerrado e outros biomas; de cada cem carros que rodam na China, vinte são elétricos, e isso, junto com outras boas práticas, como a recriação de florestas com o programa uma colina verde vale mais do que ouro, diminui a poluição do ar; no Brasil, os vereadores do município de Guajará, em Rondônia, aprovaram a inclusão na Lei Municipal dos direitos do Rio Lajes, e o dia 19 de abril passou a ser Dia dos Povos Indígenas, indicando tempo novo no caminho do reconhecimento e garantia dos direitos da cada um dos povos originários existentes em nosso país.

O Papa Francisco deu o título de Querida Amazônia à sua mensagem assumindo as conclusões do Sínodo da Amazônia, realizado em outubro de 2019. Para celebrarmos, no dia 22, o Dia Mundial da Mãe Terra, sugerimos que cada um e cada uma de nós, ao despertar, saudemos a luz do sol, o oxigênio do ar, as roupas que vestimos e os alimentos com essa saudação: Querida Mãe Terra, obrigado por tudo que nos dás de graça e com muito amor!