Skip to main content
Instituto Claro

Instituto Claro

By Instituto Claro

Podcast do Instituto Claro tem como missão aliar as tecnologias da informação e da comunicação à educação e ao desenvolvimento social. A organização é o resultado da união realizada em setembro de 2013 entre o Instituto Embratel e o antigo Instituto Claro.
Available on
Castbox Logo
Google Podcasts Logo
Pocket Casts Logo
RadioPublic Logo
Spotify Logo
Currently playing episode

“Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá” traz a desigualdade social do início do século XX

Instituto ClaroMay 07, 2024

00:00
08:02
“Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá” traz a desigualdade social do início do século XX

“Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá” traz a desigualdade social do início do século XX

Livro de Lima Barreto, exigido no vestibular da Unicamp, também apresenta crítica ao racismo

 O livro “Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá”, de Lima Barreto, está entre as obras obrigatórias do vestibular da Unicamp em 2025. Nela, o autor rompe com as convenções do realismo do século XIX que ainda imperavam nos romances daquela época.

Narrado por Augusto Machado, um funcionário público negro, o livro tece a biografia do personagem Gonzaga de Sá. Por meio dela, transparece o comportamento da alta sociedade do Rio de Janeiro do começo do século XX, além dos diversos problemas sociais que afligiam o próprio Lima Barreto.

“O Lima Barreto é e sempre foi um autor considerado periférico. Um homem que viveu nos subúrbios do Rio de Janeiro [RJ], que sempre se sentiu vítima de preconceito étnico, sempre se achou desprezado pelos seus colegas e sempre lutou muito contra o privilégio de determinados autores brancos, muitas vezes no julgamento dele, sem tanto talento, sem tanta coisa a dizer. Sendo assim, é compreensível que o principal tema de sua obra seja a denúncia do preconceito racial e a luta por um consequente reconhecimento social”, resume o professor de literatura brasileira do Sistema Anglo de Ensino Maurício Soares Filho.

Nesse podcast, Soares Filho traz dicas para quem está se preparando para o vestibular e aponta possíveis abordagens que podem ser feitas no exame.

“O que me parece que o Lima Barreto contribui muito claramente na leitura, na formação de um jovem leitor, num processo de desmontar as origens dos preconceitos. Ao investigarmos e compreendermos os movimentos em torno desse processo, que aqui nesse caso envolvem principalmente uma esperada modernização do Rio de Janeiro nessa passagem do Império para a República. E a abolição da escravatura, quer dizer, olhar para isso numa tentativa de compreender como chegamos até aqui, como chegamos nesse Brasil racista, machista, classista, em que ainda estamos no século XXI”, explica.

Precursor do Modernismo

Outro aspecto da obra que pode ser tema no vestibular da Unicamp, segundo Maurício soares Filho, é o fato de o livro não se enquadrar em um único gênero literário. Para o professor, ao ser publicado em 1919, a obra antecipa uma das características do Modernismo de 1922.

“Nós sabemos que o livro se chama “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”, e esse título sugere uma biografia. Acontece que os próprios interlocutores acabam entendendo que poderia ser um romance, uma vez que o próprio biógrafo acaba aparecendo, muitas vezes, mais do que o biografado. Quando nós percebemos que os doze capítulos são mais episódicos do que lineares, quase independentes, e poderiam até mudar de lugar dentro da organização do livro, a gente cogita chamar essa obra de um livro de contos. E considerando o fato de o enredo, dos acontecimentos serem menos relevantes ou considerados com menos importância, menos ênfase do que as reflexões propostas pelo autor, aí talvez pudéssemos dizer que, na verdade, estamos diante de um livro de ensaios”, contextualiza.

Crédito da imagem: Augusto Malta – Acervo da Light

May 07, 202408:02
Livro traz relatos de crianças sobre violência para debater direitos da infância

Livro traz relatos de crianças sobre violência para debater direitos da infância

Histórias apontam como os conflitos nas favelas da Maré (RJ) dificultam o acesso à escola e ao lazer

 

O livro infantojuvenil “Eu devia estar na escola” foi idealizado a partir de 1,5 mil cartas escritas por crianças moradoras do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), e endereçadas às autoridades brasileiras para retratar as consequências da violência no conjunto de 16 favelas.

“Essas crianças, toda vez que tem operação policial, elas não têm aula. Elas têm muitas aulas perdidas no ano letivo”, explica a professora, pesquisadora sobre literatura infantil e coautora da obra Ananda Luz.

“Tem uma frase que foi parar no livro, de uma das crianças, que diz assim: ‘Como é que a gente vai fazer para realizar os sonhos se a gente perde tanta aula?’ E isso me toca muito, porque essas crianças sabem que a educação seria um caminho para melhorar de vida. E, ao mesmo tempo, a escola é cancelada com frequência por causa de tiroteios, por causa de operação policial”, conta a jornalista e coautora do livro Isabel Malzoni.

Organizado em conjunto com a ONG Redes da Maré, a obra é composta por desenhos e cartas de crianças, que desde muito cedo, precisam lutar por seus direitos segundo as autoras.

“Eu li todas, e elas têm esse desejo em comum, que é o desejo de ir à escola, uma particularidade muito forte. Porque essa escola, com frequência, é fechada por causa dos tiroteios, por causa das operações. Então esse desejo é um desejo que aparece para todos”, afirma Malzoni.

“Quando a violência tira a escola dessas crianças, ela tira também a possibilidade de ela construir outros mundos. Criança que está com o uniforme da escola deveria estar blindada, deveria estar circulando segura pela cidade”, completa Luz.

Crédito da imagem: Editora Caixote – divulgação

Apr 24, 202407:60
Como o texto teatral ajuda na fluência leitora das crianças?

Como o texto teatral ajuda na fluência leitora das crianças?

Estimular a interpretação dramática em voz alta facilita a compreensão dos alunos

O texto teatral é uma forma de trabalhar a fluência leitora de estudantes nos anos iniciais do ensino fundamental. É o que acredita a doutora em educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora de projetos no Instituto Avisa Lá Renata Frauendorf.

Para a educadora, a prática social originada a partir da leitura dramática tem características que motivam o desenvolvimento de competências para melhorar a compreensão e o sentido do que se lê.

“A fluência leitora tem essa relação com a intencionalidade da leitura, e ela vai se construir na relação com o outro e tantos outros. Não é só a fluência oral, que é ler rápido e compreender, mas também a fluência semântica, que está nesse lugar da constituição dos sentidos”, analisa.

Frauendorf ressalta que, para estudantes dos terceiro, quarto e quinto anos do ensino fundamental, a proposta não é encenar a peça, mas estimular a leitura dramática com o grupo.

“O trabalho com o texto teatral coloca os estudantes nesse lugar de realizar a leitura em voz alta para os outros, que dependem dele para compreender aquela história que eles estão contando e que está organizada com o texto teatral”, explica.

O texto teatral se organiza em cenas e diálogos. A educadora ressalta outra particularidade que torna ainda mais interessante a leitura em voz alta desse estilo de texto: as rubricas.

“É uma informação que vem entre parênteses. E essa informação é determinante para você compreender a ação, o jeito daquele personagem, por exemplo, responder a uma pergunta. Então, a inferência e a antecipação são colocadas o tempo todo em jogo, porque se eu não considero o que está de informação entre parênteses, eu dificilmente vou compreender [o conteúdo] no contexto geral”, argumenta Frauendorf.

A docente aponta ainda no podcast como a leitura dramática se torna uma prática inclusiva em sala de aula e traz dicas de textos teatrais para trabalhar em sala de aula com alunos dos anos iniciais do ensino fundamental.

Crédito da imagem: FatCamera – Getty Images

Apr 23, 202408:07
Jogo online ajuda crianças a identificar e eliminar focos de dengue

Jogo online ajuda crianças a identificar e eliminar focos de dengue

Professores indicam o game para trabalhar a prevenção da doença com os alunos

Diante do crescente número de casos de dengue divulgados pelo Ministério da Saúde no início de 2024, o portal de jogos virtuais Ludo Educativo está relançando o game “Contra a Dengue 3 – No Mundo Digital” para contribuir com a conscientização sobre as medidas de combate à proliferação do mosquito Aedes aegypti.

“Depois de jogar uma ou duas vezes, porque é um jogo interativo, a criança fica na cabeça dela que ela tem que combater o mosquito e sabe claramente os locais onde o mosquito cria e porque cria naqueles locais”, explica o diretor do Centro para o Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF/Fapesp) e professor titular do departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Elson Longo.

A versão 3 do jogo da série “Contra a Dengue”, lançada em março de 2024, a destemida protagonista Sophia embarca no mundo digital, junto com seus irmãos mais velhos. Na aventura, estudantes aprendem a combater, além da dengue, o vírus Chikungunya e o vírus Zika, todos transmitidos pelo Aedes aegypti.

Longo afirma que todos os jogos disponíveis no portal Ludo Educativo recebem orientação de equipe pedagógica.

“Com a repetição, fica na cabeça da criança o tempo todo: ‘Como eu posso viver com esse mosquito?’. ‘Eu tenho que acabar com ele e acabar com os focos’. A criança joga e vai falar com o pai que sabe como eliminar o mosquito da dengue”.

“Contra a Dengue 3” na sala de aula

Para a bióloga e professora do Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran) Perla Loureiro de Almeida, o “Contra a Dengue 3” é de fácil entendimento para alunos dos primeiros anos do ensino fundamental. A docente indica fazer uma introdução sobre o que é a dengue antes de apresentar o jogo à turma.

“Iniciando com o aluno do terceiro ano do ensino fundamental, o professor pode fazer questionamentos básicos, um trabalho primário de orientação sobre o mosquito, avaliar com os alunos se algum familiar já esteve doente? Então, os alunos vão promover esses relatos dentro da sala de aula”, explica.

No podcast, a professora traz outros caminhos a serem trabalhados, como os conhecimentos sobre a dentificação do mosquito causador da doença e dos possíveis locais de proliferação do Aedes aegypti. Almeida também aponta como o jogo educativo é introduzido nesse aprendizado.

“O jogo vai entrar como um feedback, porque se o aluno já obteve todas as informações, consegue trabalhar as suas habilidades referentes a essas informações: sobre todo o processo de dengue, forma de transmissão, forma de prevenção. O jogo é uma forma de o professor avaliar se o aluno realmente conseguiu obter essa informação, esses conceitos importantes para a sua formação”, conclui.


Crédito da Imagem: tela de uma das fases do jogo "Contra a Dengue 3" – reprodução

Apr 16, 202407:60
Indígenas produzem filmes retratando os diferentes povos originários

Indígenas produzem filmes retratando os diferentes povos originários

A variedade de costumes é explicitada a partir das vivências das comunidades

Em 2004, a partir do programa “Pontos de Cultura Indígena” foi criado o portal “Índios Online”. A proposta era reunir os saberes e a luta de alguns dos povos indígenas oriundos de Alagoas, Bahia e Pernambuco.

“E eu fui convidado para fazer parte dessa rede de comunicação, onde a gente tinha um chat para conversar com as pessoas, e a gente publicava matérias escritas pra divulgar nossa cultura, nossa situação, falar um pouquinho dos povos indígenas do Brasil, como eles realmente são”, conta o produtor cultural, cineasta e comunicador Alexandre Pankararu.

Ao perceber a importância de indígenas terem suas realidades retratadas em conteúdos desenvolvidos pelos próprios povos, Pankararu juntou-se à também produtora audiovisual Graci Guarani e, em 2014, criaram a Olhar da Alma Filmes, produtora de conteúdos originais de cineastas indígenas.

“Isso é pela importância de nós escrevermos a nossa própria história e contar a de nossos antepassados, porque entendemos que um povo sem história não existe”, afirma o cineasta.

Segundo Pankararu, é fundamental que a história e a cultura indígenas sejam mostradas pelos próprios povos originários.  “Eu percebi a importância de a gente contar a nossa realidade do nosso jeito para que ela seja transmitida por quem a vive. Isso nos possibilitou mostrar como nós vivemos de verdade, o que sofremos de verdade”, revela.

Diversidade dos povos originários

De acordo com os dados do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, o Brasil conta com mais de 266 povos indígenas, em todo o território nacional. Apesar de cada povo ter suas especificidades, segundo Alexandre Pankararu, há um pensamento comum entre todos eles.

“Sempre lutamos pela sobrevivência, direito à natureza, a importância da natureza para a nossa sobrevivência. Então nós temos essa preocupação, não só o povo Pankararu, mas todos os povos indígenas do Brasil. Vocês vão poder perceber que onde tem a maior quantidade de matas e recursos naturais preservados são em territórios indígenas, então, para isso continuar, precisamos garantir o nosso território”, conclui.

Crédito da imagem: Olhar da Alma Filmes – divulgação

Apr 10, 202407:40
Unicamp 2025: “Prosas seguidas de Odes Mínimas” trata temas do cotidiano com ironia

Unicamp 2025: “Prosas seguidas de Odes Mínimas” trata temas do cotidiano com ironia

No livro, José Paulo Paes aborda com humor a morte, a família e suas experiências pessoais

 

Vinte textos em prosa poética e treze poemas, chamados de odes mínimas, compõem o livro “Prosas seguidas de Odes Mínimas”, lançado no início dos anos 1990 por José Paulo Paes. Novidade na lista da Unicamp em 2025, a obra traz uma visão crítica da vida, adquirida pelo poeta com a maturidade.

“José Paulo Paes usa de poucas palavras para conseguir grandes efeitos poéticos. Então, embora os poemas sejam muito breves, em sua maioria eles exploram profundidades filosóficas, humor e ironia”, analisa o professor de literatura do Curso Anglo São Paulo Paulo Oliveira.

A obra tem forte influência do Modernismo. “Tanto que um importante protagonista deste movimento, que foi Oswald de Andrade, é citado nominalmente em um poema “Prosa para Miramar”.

Justamente porque Oswald de Andrade caracterizou sua obra pela brevidade, pela concisão”, analisa o professor do Anglo.

Estilo epigramático

Oliveira explica que o estilo oswaldiano inspirou Paes a adotar um estilo epigramático. “Epigrama é uma forma concisa de se expressar poeticamente. A origem desse tipo de texto remonta à Grécia antiga, às inscrições feitas em monumentos, medalhas ou túmulos. Por falta de espaço, as palavras tinham que ser muito breves. Pois bem, José Paulo Paes é um poeta epigramático. Ele se vale da concisão, da brevidade. Isso implica dizer que ele é avesso a todo o tipo de enfeite desnecessário, a um preciosismo vocabular”, explica.

O professor ressalta que é importante o vestibulando estar atento à ironia do poeta, principalmente na segunda parte do livro, dedicada às “odes mínimas”.

“Se eu falo ‘ode à minha perna esquerda’, seria um canto, um poema dedicado à minha perna esquerda, que implica certo louvor. Mas, na pena de José Paulo Paes [que precisou ser amputada] nem sempre esses poemas, essas odes, terão o caráter celebrativo de exaltação. Muitas vezes essas odes têm um caráter irônico ou mesmo crítico”, revela.

De acordo com Oliveira, além da presença constante do humor, é preciso estar atento também às sutilezas da obra, outra característica de José Paulo Paes. Crédito da imagem: Hobo_018 – Getty Images

Apr 09, 202408:02
Manifesto Pau-Brasil ajuda a ensinar língua portuguesa, literatura e artes

Manifesto Pau-Brasil ajuda a ensinar língua portuguesa, literatura e artes

Para especialista, texto de Oswald de Andrade estimula os alunos a refletirem sobre cultura brasileira

Em março de 1924, o escritor Oswald de Andrade publicou no jornal “Correio da Manhã” o “Manifesto Pau-Brasil”.

O texto de um dos principais representantes da primeira fase do Modernismo brasileiro propõe uma arte de acordo com a realidade e com a cultura popular.

“O Manifesto Pau-Brasil foi um movimento de derrubada mesmo, de um padrão, de um modelo.

Então a gente pode dizer que essa é a primeira grande contribuição: diminuir ou erradicar ao máximo a influência estrangeira, buscando assim uma expressão artística mais autêntica, mais original”, explica o professor de língua portuguesa e literatura Claudio Caus.

Caus afirma que o assunto é tratado geralmente no 3º ano do ensino médio, e os poemas de Oswald de Andrade são bastante solicitados em vestibulares.

Para o professor, essa é uma oportunidade para se trabalhar com redações baseadas na escrita criativa como forma de aumentar a autoestima de adolescentes e jovens em relação ao próprio texto.

“Mostrar que eles [alunos] têm expressão, que eles podem utilizar a linguagem que eles conseguiram dominar até então. Valorizar o que eles já possuem e, ao mesmo tempo, também mostrar que eles podem aprender mais de maneira lúdica, estimulando a criatividade. Então, a possibilidade que a gente tiver de usar esses autores para experimentar formas e vocabulários diferentes, além das próprias temáticas, é de uma riqueza inestimável”, defende.

Inicialmente voltado à estrutura do texto poético, o “Manifesto Pau-Brasil” rompe com a influência estrangeira ao valorizar um jeito de falar e escrever percebido também na construção do texto. Caus explica que o professor pode abordar o manifesto também nas aulas de língua portuguesa por meio dos poemas de Oswald de Andrade.

“O nível de síntese que eles alcançam, de reflexão que eles provocam e de provocações que eles fazem é de fato mais apreciável para as aulas de literatura brasileira, também as aulas de gramática, em que a gente pode refletir também sobre as variedades linguísticas”, aponta o docente.

Em artes, Claudio Caus indica abordar os quadros “Morro da Favela” e “No Carnaval do Rio” da artista plástica brasileira Tarsila do Amaral, uma vez que essas obras apresentam grande influências dos ideais do manifesto.

“[Os quadros remetem a] essa diversidade, miscigenação, riqueza cultural popular, com referências ao cubismo, mas, ao mesmo tempo, quebrando um pouco daquilo que se entende por cubismo, com cores muito fortes, bem coloridas, retratando aí a brasilidade”, analisa o especialista.

Crédito da imagem: Quadro “Morro da Favela”, de Tarsila do Amaral – Reprodução

Mar 26, 202407:53
Série “Luz” apresenta os saberes da cultura indígena ao público infantojuvenil

Série “Luz” apresenta os saberes da cultura indígena ao público infantojuvenil

A relação sustentável com a natureza e a valorização da coletividade são temas presentes na obra

Criada por uma família Kaingang, a estudante aventureira Luz embarca em uma jornada em busca de suas raízes ao lado do amigo Vaga-lume. “Ela [Luz] simboliza a interseção entre alguns universos. Ela é uma menina não indígena e foi adotada por uma comunidade indígena, Kaingang, e ela cresce ali até o seu aniversário de 9 anos, quando descobre informações sobre o seu passado e resolve seguir numa jornada de autodescobrimento e de entender mais sobre as suas origens”, resume o diretor-geral da série, Thiago Teitelroit.

Por meio da saga de Luz, crianças e adolescentes entram em contato com o jeito de viver do povo Kaingang. “Os saberes e a cultura indígena eclodem na série naturalmente, tanto nas relações afetivas quanto nos detalhes, no fazer do dia a dia, o artesanato.

Aqueles saberes e aquela cultura são apresentados confortando conflitos internos e externos da própria personagem”, explica Teitelroit.

O diretor destaca os saberes e costumes indígenas que aparecem na série. “A relação sustentável, a relação bem-sucedida que eles têm com o entorno, com o meio ambiente. A convivência, o cuidado, o olhar para o grupo, o olhar para a natureza em volta, cuidado com todo um ecossistema, que vai além deles”, aponta.

Na entrevista, Teitelroit também comenta algumas cenas em que a cultura e os saberes indígenas são apresentados. Ele afirma que isso acontece principalmente a partir da relação de Luz com a avó e com os colegas da escola em que vai estudar. 

“Cenas da Luz com o Joca [parceiro da protagonista] e com as outras crianças, quando todo mundo se pinta e se divide em dois grupos, o grupo do Kamé e o grupo dos Kairús, são alguns exemplos. Muitas cenas da avó com a Luz são muito pautadas na afirmação dos preceitos, dos ensinamentos e da cultura indígena”, cita o diretor.

Crédito das imagens: Aline Arruda – Divulgacão / Netflix

Mar 20, 202407:56
Músicas de Tom Jobim ajudam a ensinar conteúdos de ecologia e meio ambiente

Músicas de Tom Jobim ajudam a ensinar conteúdos de ecologia e meio ambiente

Professores sugerem abordagens interdisciplinares em ciências, geografia, biologia e literatura

O compositor e maestro Tom Jobim dedicou parte de seu reportório às canções de temática ecológica e do meio ambiente. Segundo a professora de música e artes da rede municipal de São Paulo (SP) Juliana Neves, o artista tinha um amor pela fauna e flora brasileira que foi retratado em várias canções, como em “Águas de março”. “Por exemplo, ‘É pau, é pedra, é o fim do caminho’ representa como as águas são implacáveis. Essa enxurrada pode causar impactos ambientais. E isso se liga à ação humana com o passar do tempo”, explica.

A professora indica trabalhar a canção de maneira interdisciplinar em diferentes etapas dos ensinos fundamental e médio, fazendo a intersecção entre língua portuguesa e literatura para interpretar o significado da música. Além disso, Neves sugere incluir na estratégia pedagógica as disciplinas de ciências, geografia e biologia.

“Nas ciências, o sol, a lua, como as mudanças climáticas afetam o globo terrestre. Em geografia, a demografia do continente brasileiro, suas regiões temperadas tropicais, a redução da biodiversidade, o desmatamento, a poluição”, analisa.

De acordo com a professora, é possível abordar o conteúdo também em ciências sociais. “[Pode-se trabalhar] consumo sustentável, a economia dos ecossistemas, da biodiversidade e a conscientização da população, combate à corrupção, sustentabilidade, proteção ambiental e exigências de políticas públicas”, sugere Neves.

Além de “Águas de março”, músicas como “Chovendo na roseira”, “O boto”, “Borzeguim” e “Passarim” também podem ser úteis para ensinar conteúdos de ecologia em sala.

O professor da Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila) Gabriel Rezende propõe atividade para estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental. “Tem canções também ligadas a uma natureza animada, mágica ou mística, como “O boto”. Os seres naturais conversam, pensam sobre a ação humana, criam histórias entre si”, explica.

Nessa podcast, os professores entrevistados também destacam outras abordagens possíveis com a canção “Águas de março”. “[A música] é muito rica em imagens, meio ‘claro-escuro’, digamos assim. A força expressiva está no contraste e como a poesia dá unidade a esses contrastes, a ênfase no verbo ser”, indica Rezende.

“Daí vem a conscientização para a importância da preservação do meio ambiente, da reciclagem, do descarte de lixo de forma correta, a reivindicação por políticas públicas e melhorias de infraestrutura. Então, a música ‘Águas de março’ tem sim um grande significado sobre o funcionamento da natureza”, complementa Neves.

Crédito da imagem: Walter Firmo – Exposição coleção Walter Firmo – Luz em corpo e Alma

Mar 19, 202408:04
Fuvest 2025: romance “Água Funda” aborda cultura caipira e desigualdade social

Fuvest 2025: romance “Água Funda” aborda cultura caipira e desigualdade social

Obra debate também o racismo e as transformações na sociedade brasileira do início do século XX

“Água Funda” é um romance escrito por Ruth Guimarães, uma das primeiras escritoras afro-brasileiras a alcançar reconhecimento na literatura nacional. Publicado em 1946, o livro aborda questões como racismo, preconceito e a luta por identidade em uma sociedade marcada pela desigualdade racial.

Segundo o professor, autor de materiais para o sistema Anglo de ensino e mestre em literatura brasileira pela Universidade de São Paulo (USP) Maurício Soares Filho, “Água Funda” contribui para a representatividade e visibilidade da cultura afro-brasileira na literatura nacional.

“Essa discussão a respeito das questões sociais, da exploração do trabalho, da busca pelo lucro desenfreada, independente das condições do trabalhador, isso constitui uma das grandes vantagens, dos pontos positivos do livro.

É essa mistura tão fluída, os causos populares da linguagem, da discussão sobre as crenças populares em relação ao folclore, das questões sociais”, analisa.

A história se passa em uma fazenda em São Paulo, onde a protagonista, uma mulher negra chamada Água Funda, luta contra as adversidades da vida e enfrenta o preconceito racial e a discriminação. Além de abordar a desigualdade, o livro também explora temas como espiritualidade, tradições africanas e a conexão com a natureza.

Nascida em Cachoeira Paulista (SP), Ruth Guimarães vive até os 18 anos entre o Vale do Paraíba, no paulista, e o Sul de Minas Gerais.

“Considerando a idade que ela tinha, a pouca formação, o lugar específico em que ela vivia, quer dizer, longe de um grande centro, com poucas relações que transcendessem aquele espaço, e, ainda assim, com todas essas limitações, ela se revela uma autora de muitas qualidades”, explica Filho.

O contato com lendas é uma das marcas que Ruth Guimarães leva para a literatura. Em “Água Funda”, o personagem Joca sai em busca da Mãe do Ouro, figura folclórica conhecida nessa região.

“A Mãe de Ouro é capaz de se transformar numa bela mulher, é capaz de se transformar numa bola de fogo e enfeitiça qualquer um que olhar para ela quando ela estiver ali na proteção dos bens”, apresenta o professor.

No podcast, Maurício Soares Filho aponta ainda alguns recursos estilísticos do livro, como a valorização da linguagem e da cultura caipira.

O professor aborda também a importância da escolha da obra para o vestibular da Fuvest. “A hegemonia branca do pensamento e da cultura acabou. Ela não nos satisfaz mais. Ela está, no mínimo, precisando urgentemente dividir espaço com a cultura negra, com todo esse universo indígena. Eu preciso ampliar a minha percepção do que é ser brasileiro, do que se fala aqui, quais são os temas que nos são caros. Acho que ‘Água Funda’ contribui nesse sentido, conclui Filho.

Crédito da imagem: Pintura de fazenda de café do Vale do Paraíba – José Rosael / Hélio Nobre – Museu Paulista da USP

Mar 12, 202407:56
Legado de Frida Kahlo inspira mulheres e comunidade LGBTQIAP+ na busca por direitos

Legado de Frida Kahlo inspira mulheres e comunidade LGBTQIAP+ na busca por direitos

Para especialista, obra da pintora mexicana denuncia a violência contra populações marginalizadas

Uma artista que retratou em sua obra o próprio sofrimento e paixões para denunciar a violência contra mulheres e minorias sociais. Esse é um aspecto que merece destaque na obra de Frida Kahlo, falecida em 13 de julho de 1954, na opinião da pós-doutora em estudos da mulher pela Univesidad Autónoma Metropolitana de Xochimilco (no México) e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC – RS) Edla Eggert.

Na entrevista para este episódio do podcast do Instituto Claro, a pesquisadora faz paralelos entre pinturas de Frida e acontecimentos que envolvem a luta por igualdade das mulheres e da comunidade LGBTQIAP+. Eggert cita o quadro “Unos cuantos piquetitos” (1935) – “Alguns pequenos cortes” –, no qual afirma ser possível discutir a violência doméstica.

“Inclusive a gente traduz isso na famosa frase, ‘Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher’. A gente transforma essa representação numa grande discussão que eleva tanto o campo jurídico ao campo sociopolítico; como é que a gente no espaço, por exemplo, onde eu trabalho, com o que eu trabalho, os espaços formais ou não-formais, ensinam essa subserviência, essa condição de naturalizar a violência”, explica.

De acordo com a pesquisadora, outra obra que se manifesta contra a violência é “O veado ferido” (1946). “Esse veado ‘sangrante’, essa violência para com toda a comunidade LGBTQIAP+. Hoje em dia tem nesse quadro uma referência muito simbólica. Então ela vai do caminho, desde a mulher morta pela tradição e violência patriarcal até chegar no ‘veadito’. Assim como tem a fraternidade tem a sororidade entre as mulheres, não mais como a disputa e sim como cumplicidades”, analisa.

Segundo Eggert, a obra de Frida Kahlo é uma forma de fortalecer espaços de fragilidade. “A forma como ela não faz o buço, ela está pouco se lixando para o formato do que é o feminino, o feminino patriarcal, o feminino do desejo do outro. A Frida é assim um ícone para as comunidades marginais [marginalizadas], porque ela vai produzindo, esteticamente, o belo de como eu me coloco com o meu corpo”, finaliza a especialista.

Crédito da imagem: Pintura a óleo de Frida Kahlo – TASCHEN

Mar 06, 202407:07
Criminalização do bullying e do cyberbullying reforça combate à violência nas escolas

Criminalização do bullying e do cyberbullying reforça combate à violência nas escolas

Para especialista, Lei 14.811/2024 ajuda educadores e responsáveis a criar ambientes mais seguros

A Lei 14.811/2024 altera o Código Penal e torna crime a prática de intimidação sistemática de pessoas, conhecida como bullying, incluindo a praticada por meios virtuais, o chamado cyberbullying.

Segundo a advogada especializada em direito e segurança digital e autora do livro “Crianças e Adolescentes no Mundo Digital” Alessandra Borelli, a internet pode agravar ainda mais o problema.

“O bullying é aquela prática reiterada, persistente e intencional. O cyberbullying é tudo isso, porém, agravado a uma potência máxima, porque acontece em um ambiente digital, onde o poder de perpetuidade, disseminação e alcance é muito maior”, explica.

Pela nova legislação, a pessoa que pratica bullying está sujeita a multa. E aquela que cometer o cyberbullying pode ter uma pena de dois a quatro anos de reclusão e multa se a conduta não constituir crime mais grave. Para Borelli, ao estipular punições, a medida deve, acima de tudo, ampliar a conscientização sobre essas práticas nos ambientes escolares.

“Elas [as escolas] estão considerando a realização de mais e de novas campanhas sobre o assunto no decorrer do ano [2024]. Então, acho que aqui a gente já teve um ganho. A criação de canais de denúncias anônimas também é uma prática, uma providência muito importante e relevante, que pode coibir esse tipo de situação no ambiente escolar”, avalia a advogada.

Borelli traz ainda dicas de como familiares e professores podem identificar sinais de que uma criança está sofrendo com esse tipo de violência. A especialista escreveu uma cartilha que explica o que são e como prevenir o bullying e o cyberbullying.

Clique no botão acima e ouça a íntegra da entrevista.


Crédito da imagem: Roque de Sá – Agência Senado


Feb 20, 202407:35
Educação física: apenas 40,6% das escolas públicas têm quadras e materiais adequados

Educação física: apenas 40,6% das escolas públicas têm quadras e materiais adequados

Especialista comenta dados do censo escolar e a importância da disciplina para o pensamento crítico

Dados do Censo Escolar da Educação Básica divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontam problemas em relação à estrutura para prática desportiva. De acordo com relatório divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), escolas que possuem quadras e materiais adequados para as aulas de educação física somam apenas 40,6% das instituições de educação básica no Brasil.

“Às vezes ele [professor] tem um local de prática, mas não tem bola, bambolê, cone, corda, não tem condições. Tem a quadra só, não tem rede, não tem nada. Então, 27% das escolas brasileiras não tem nem material e nem espaço. E isso é grave, porque o professor de educação física ou o pedagogo sem espaço e sem material não consegue organizar o conhecimento, o conteúdo no currículo”, avalia a professora de educação física e doutora em ciência do movimento humano Cassia Damiani.

A especialista lamenta a falta de valorização das aulas de educação física escolar. Para Damiani, isso compromete as habilidades físico-motoras e prejudicam as evoluções cognitiva e socioemocional de crianças e jovens.

“Se nos faltar o acesso a esse leque imenso de dança, jogos, ritmo, esporte, se nos faltar isso na infância e na adolescência, nós teremos dificuldade de sistematizar teoricamente o nosso pensamento, porque o nosso psiquismo necessita de várias relações e aproximações, tanto com os seres humanos, porque é assim que nós nos tornamos humano, quanto com o meio. E a prática, principalmente essa de aprendizagem na idade escolar, é que faz a mediação disso”, aponta.

O relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que analisa os dados do censo escolar, destaca a importância de se valorizar as aulas de educação física. Segundo o documento, “considera-se que a melhoria da infraestrutura nas escolas é uma das maneiras de fortalecer o papel do poder público e fomentar as práticas esportivas para crianças e adolescentes em idade escolar”.

Damiani ressalta que o acesso à cultura corporal é uma responsabilidade do poder público. “É dever do Estado cumprir com a determinação de educar as crianças e adolescentes, desde a tenra idade até o ensino médio”, analisa.

Clique no botão acima e assista à íntegra da entrevista.

Feb 13, 202407:57
Livro “Um defeito de cor” leva luta abolicionista e antirracista para o carnaval

Livro “Um defeito de cor” leva luta abolicionista e antirracista para o carnaval

Enredo da Portela é inspirado em obra de Ana Maria Gonçalves e narra a saga de Luísa Mahin

A tradição da Portela de criar sambas-enredo com base em obras literárias tem início em 1966, quando a escola levou para a Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, uma composição inspirada no livro “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manoel Antônio de Almeida.

Em 2024, a escolha da azul e branco carioca recai sobre um clássico da literatura contemporânea, “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves, lançado em 2006.

“Significa ficcionalmente trazer para o público brasileiro que a história da população negra brasileira não começa nos navios escravagistas, ela é anterior a isso. Foi um erro de rota para que essas pessoas chegassem aqui. Agora todo mundo tinha vida, tinha história, tinha família, tinha afeto do outro lado. Não por acaso ela [Portela] começa essa saga dessa mulher a partir do território africano”, explica a professora de literatura da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Fernanda Felisberto.

A perspectiva feminina para o período da escravidão é um dos pontos fortes do livro que conta a saga de Kehinde. Chamada no Brasil de Luísa Mahin, ela foi “laçada” aos oito anos de idade em Daomé, na África, e colocada em um navio negreiro com a irmã gêmea e a avó para serem escravizadas no Brasil.

No enredo da Portela, Kehinde recebe uma carta do filho Luís Gama, na qual o advogado, jornalista e patrono da abolição da escravidão no Brasil valoriza o legado deixado pela mãe narrado no livro.

“Quando ela chega aqui no Brasil, ela é recepcionada por outras mulheres, e são essas mulheres que, dentro da saga da Kehinde, também vão apresentá-la à espiritualidade. É como a Kehinde acaba resgatando sua ancestralidade através da sua reconexão com a espiritualidade”, conta o carnavalesco da Portela André Rodrigues.

“Como essa mulher forte e empoderada e movimentando outras mulheres, movimentando a sociedade e articulando algumas revoltas importantes para a busca da liberdade do povo preto no Brasil. Então, a gente propõe uma coroação a essa mulher como essa rainha das revoltas, que participou da Revolta dos Malês, participou da Cemiterada e era alguém que sonhava com um país mais justo e com o seu povo mais livre”, completa o também carnavalesco da Portela Antônio Gonzaga.

Direito à memória

Para Fernanda Felisberto, que pesquisa as experiências de escrita de autoria negra brasileira e a diáspora africana, a importância de levar um enredo baseado no livro “Um defeito de cor” é garantir o direito à memória.

“Teve dor, teve subtração, violência, tortura, mas também teve resistência. Teve luta, teve formação de uma nação. Esse livro rasura a história oficial, porque esse livro vem trazendo a participação negra ativa, as maneiras de organização, as maneiras de professar sua fé, tudo isso daí é o direito à memória. Se a gente tem memória, ninguém vai contar para nós como nós somos, o que somos”, analisa Felisberto.

Feb 08, 202408:10
“A Vida não é Útil”: Ailton Krenak denuncia a autodestruição da humanidade

“A Vida não é Útil”: Ailton Krenak denuncia a autodestruição da humanidade

Livro do líder indígena integra lista da Unicamp e critica consumismo e devastação ambiental

Lançado em agosto de 2020, o livro “A vida não é útil” traz reflexões do filósofo, escritor e líder indígena Ailton Krenak. A obra reúne cinco textos escritos principalmente no início da pandemia de covid-19 que tratam de tendências destrutivas da civilização, como consumismo desenfreado e devastação ambiental.

“A escolha que a humanidade fez com a industrialização e com a supervalorização da tecnologia, da técnica, esse caminho é o caminho que vai levar a gente à destruição. Esse é o resumo da minha parábola. Se a gente não parar com essa fissura pela tecnologia, pelo moderno, pelo novo, nós vamos acabar explodindo o planeta para nós, os humanos, porque o planeta vai continuar existindo para ele mesmo”, afirma Krenak em entrevista ao Instituto Claro.

A vida não é útil

A principal crítica do autor é à ideia de que “tempo é dinheiro”. “Isso, para o Krenak, é o grande crime que se institui. Então, ele fala o tempo não é dinheiro, o tempo é a vida, é a gente respirando, é a gente fruindo. É a gente se integrando à natureza. E essa é a mensagem final que ele nos deixa nesses cinco textos dele”, avalia o professor de literatura do curso Anglo Vestibulares Fernando Marcílio.

Krenak defende que os povos da floresta sejam ouvidos para que se tenha um mundo diferente, não no amanhã, mas no tempo presente. Ele exalta o exemplo de indígenas, quilombolas e alguns povos ribeirinhos que consomem o que a natureza proporciona a eles e fazem jus ao pensamento de que “a vida não é útil”.

“A vida não tem que ter utilidade. Ela não é alguma coisa utilitária. Se você vive, o dom maior da vida é ela mesma. É intrínseco. A vida não tem que produzir coisas para ela ter sentido. Se não, nós íamos achar que só as pessoas que acumularam prestígio e riqueza é que viveram”, resume Krenak.

Em 2025, a obra entrará na lista do vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo Fernando Marcílio, um dos objetivos da instituição é estimular os estudantes a terem contato com as várias formas do pensamento humano. Em “A vida não é útil”, a leitura permite que se entenda a filosofia dos povos da floresta.

“O Krenak traz uma coisa muito interessante que é a forma. Lembrando que não são textos escritos, na verdade, são textos falados por ele, então tem uma marca de oralidade muito clara, são transcrições de fala dele. Mas também se explica porque isso é parte da cultura indígena. Ancestralmente, ela não é escrita, ela é ágrafa, ela é transmitida oralmente. O Krenak gosta dessa oralidade também como forma de resgatar a cultura indígena”, analisa Marcílio.

Feb 06, 202408:05
Cordão de girassol é essencial para identificar pessoas com deficiências ocultas

Cordão de girassol é essencial para identificar pessoas com deficiências ocultas

Viviane Pitta de Azevedo utiliza o colar e defende maior divulgação para conscientizar a sociedade

Em julho de 2023, a Lei nº 14.624 alterou o Estatuto da Pessoa com Deficiência e instituiu o uso do cordão de fita com desenhos de girassóis como símbolo nacional para identificação de pessoas com deficiências ocultas.

O acessório é feito com um tecido verde e, segundo a integrante da Comissão de Inclusão e Pertencimento do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo Viviane Pitta Salgado de Azevedo, proporciona segurança e conforto para quem o usa.

“Ele [o girassol] é um símbolo de resiliência, por isso que ele entrou como o símbolo de deficiências ocultas, e representa a solidariedade e compreensão.

Mas tenho que ainda explicar para as pessoas, porque infelizmente a política de divulgação do colar de girassol não abrangeu o tanto que deveria atingir na sociedade”, lamenta Azevedo, que tem uma doença rara não visível – stiff person syndrome, a síndrome da pessoa rígida – e utiliza o cordão de girassol.

“As pessoas olham para o indivíduo e não conseguem ver aquela doença aparente, ela não vê aquilo na apresentação da pessoa. Ela pode ser: doenças raras, pode ser vinda de pessoas neurodivergentes, que estão dentro do aspecto do TEA [transtorno do espectro autista], pessoas com transtorno de ansiedade, transtorno de humor”, explica.

Para Azevedo, é necessária uma grande campanha para que as pessoas entendam o que é e para que serve o cordão de girassol. “Eu acho que a gente tinha que ter mais força por parte do governo e por parte dos veículos de comunicação de divulgarem isso, essa importância do colar. Uma divulgação em massa em transporte público, em metrô seria sensacional”, analisa.

Azevedo aponta que essa carência e a facilidade de encontrar o acessório livremente em diversos tipos de comércio estimulam quem não precisa a comprar o cordão como simples adorno e suporte para crachá.

“Ele [cordão de girassol] é vendido em camelô, loja de papelaria, sem critério nenhum de bloqueio, a qualquer pessoa. Muita gente vai atrás da beleza, então acaba comprando, e aí invalidando as pessoas que realmente precisam daquilo”, alerta.

Clique no botão acima e ouça a íntegra da entrevista.  

Jan 24, 202407:51
Conheça 3 histórias em quadrinhos para ensinar matemática

Conheça 3 histórias em quadrinhos para ensinar matemática

Abordagem interdisciplinar trabalha os conteúdos associando-os a aspectos da cultura local

O trabalho de conclusão de curso “Um estudo inicial do uso de HQs na aula de matemática” foi desenvolvida pelo professor Davison Renan Abreu de Sousa para a Faculdade de Matemática da Universidade Federal do Pará (UFPA) e propões a criação de três histórias em quadrinhos para ensinar a disciplina em sala de aula.

Orientado pelo mestre em matemática João Batista do Nascimento, o trabalho do docente propõe uma atividade interdisciplinar para o desenvolvimento de histórias em quadrinhos com finalidade didática.

“Se você quer aplicar essa nossa proposta na escola, você vai desenvolver o conteúdo de matemática junto com o professor de linguagem e o professor de arte, portanto os alunos vão produzir ‘um’ HQ – história em quadrinhos – baseado no seu conteúdo dessas aulas e buscando relacionar com fatos da cultura”, explica.

Matemática e cultura local

Os quadrinhos criados por Sousa abordam conceitos da matemática presentes no dia a dia da escola: sistema de numeração; análise combinatória e teorema de Pitágoras.

“Para criação das HQs, a gente tentou utilizar algum exemplo cultural da nossa região. Então a gente procurou situações culturais na nossa região e tentou encontrar o melhor conteúdo possível que se encaixasse com essas histórias”, explica o professor.

Para o orientador do estudo, as histórias em quadrinhos criadas podem servir como inspiração para docentes incentivarem seus alunos a desenvolverem novas revistinhas que associem a cultura e costumes da comunidade com a matemática.

“O quadrinho precisa de uma história de fundo, ter uma construção textual para envolver na história, não é só a matemática. Com um problema que envolve a comunidade, a escola, o HQ faz essa junção das coisas: o conhecimento matemático ajudando ou intervindo naquele problema”, argumenta Nascimento.

No podcast, Sousa apresenta as três HQs criadas para a pesquisa, materiais que os professores podem baixar para utilização em sala de aula: “Pajé e Curupira”“Caranguejo” e “Visagem” e suas respectivas orientações.

Clique no botão acima e ouça a entrevista. 

Jan 23, 202407:60
Músicas de Gilberto Gil ajudam a abordar a desigualdade social em sala de aula

Músicas de Gilberto Gil ajudam a abordar a desigualdade social em sala de aula

Sociólogo e professor sugerem atividades a partir de composições como “A novidade” e “Procissão”

O tema desigualdade é tratado por vários artistas da música brasileira. Gilberto Gil aborda as diferenças sociais em sua obra desde o início da carreira, em meados dos anos 1960.

“’Roda’ e ‘Procissão’ são o ponto de abertura de Gilberto Gil dentro da música profissionalmente. É o primeiro disco, a primeira produção dele, e nós estamos no processo histórico de ditadura. É nesse contexto que Gilberto Gil, jovem, vem e faz uma obra chamada “Louvação”, em que o autor, percebendo-se dentro da chamada classe média brasileira, assume o discurso dos chamados dominados”, analisa o doutor em educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Cleonilton Souza.

O artista baiano volta ao tema novamente, destacando-se outras duas músicas que criou nos anos 1980, no período da reabertura política no país.

“’A novidade’ e ‘Nos Barracos da Cidade’ têm uma questão em comum: como reagir à ‘sereia’ e ao ‘tubarão’, seres marinhos com que nós, humanos, podemos nos deparar como metáforas da desigualdade? Se temos, como diz o verso, ‘De um lado esse carnaval, de outro a fome total’, não há igualdade de oportunidade e de tratamento”, avalia o jornalista e sociólogo Mario Luis Grangeia, autor do livro “Os Paralamas do Sucesso – Selvagem?” no qual aborda o tema.

Nesse podcast, os entrevistados trazem algumas sugestões de como a obra de Gil pode ser utilizada de forma didática para debater e gerar interesse pelo tema da desigualdade social. “Então seria apaixonante pegar uma música como ‘A novidade’ e fazer todo esse jogo: ver a questão da letra, ver a questão da melodia, para depois ir ao temático”, sugere Souza.

Clique no botão acima e ouça outras análises das músicas e como usá-las em sala de aula.

Crédito da imagem: Hallit / Divulgação

Jan 19, 202408:02
Projeto Teatro Cego promove inclusão com apresentações sensoriais

Projeto Teatro Cego promove inclusão com apresentações sensoriais

Iniciativa realiza as encenações no escuro para estimular igualmente os sentidos dos espectadores

O Teatro Cego é um formato teatral que chegou ao Brasil em 2012. As peças da companhia acontecem completamente no escuro e com a plateia no palco, perto do elenco. O diretor do grupo, Paulo Palado, afirma que teve contato com o estilo a partir de experiência pioneira em Córdoba (Argentina), em 1990.

“Uma pessoa cega vem aqui, ela senta e ela assiste em completa igualdade com qualquer pessoa. Não tem nenhum elemento cênico, nenhum elemento teatral que ela perca por ela não estar enxergando, pelo contrário”, afirma.

As apresentações convidam a plateia a “renunciar à visão”, para que a compreensão da trama aconteça por meio dos outros sentidos. Audição, olfato, paladar e tato são estimulados pelo uso de aromas, música e sensações táteis.

“Eles colocam a gente em cena, porque a gente fica no palco, a gente vê todos os movimentos, todos os ‘andados’, a gente sente a vibração deles ali no palco; a gente participa da cena sem estar. É um negócio indescritível isso que eu estou sentindo”, comenta o radialista Diego Barreto da Silva, deficiente visual que assistiu à peça “Clarear”, uma das quatro montagens do Teatro Cego.

Universo de sensações

No dia em que a produção do Instituto Claro gravou esse episódio, Silva esteve acompanhado de dois amigos: o também radialista e deficiente visual Gabriel da Silva Câmara e da vendedora Maria Clara Aparecida da Silva, que ficou fascinada pelo espetáculo.  

“Foi uma experiência surreal. Para a gente, que enxerga, poder entrar nesse outro mundo é muito, muito interessante. A gente está próximo, a gente vê e vivencia isso: entrar no mundo de quem é cego, digamos assim”, comenta a vendedora, que é namorada de Câmara. “Eu consegui, pelo menos por 45 minutos, entrar no mundo dele, consegui ver a forma que ele enxerga o mundo”, completa.

A advogada Andréa Araújo conta que viveu uma “experiência indescritível”. “Porque talvez se nós enxergássemos o que está acontecendo, nós não teríamos tanta sensibilidade, porque aflora, as coisas vão aflorando. Com a visão, às vezes você perde detalhes que, sem a visão, você consegue detectar: sabores, cheiros, barulhos, música. É impressionante. É uma experiência singular”, confessa.

Clique no botão acima e ouça essa experiência com o Teatro Cego.

Jan 10, 202408:04
Livro usa a gramática de forma lúdica para ensinar palavras compostas

Livro usa a gramática de forma lúdica para ensinar palavras compostas

Obra traz atividades e brincadeiras que podem ajudar o professor no processo de alfabetização

A série de livros “Brincando com a Gramática” tem o objetivo de tornar o processo de alfabetização mais divertido. O primeiro livro lançado, “Juntinhas e Abraçadinhas”, trata das palavras compostas: quando duas ou mais palavras se juntam para significar uma coisa só.

“Nesse primeiro livro, eu fiz ‘quase-haikais’, porque o haikai tem as 17 sílabas. E eu chamo de ‘quase-haikais’ porque alguns têm as 17 sílabas e outros não, mas eles respeitam mais ou menos a estrutura do haikai, e são poemas curtinhos que brincam com as palavras compostas, como ‘o cata-vento soprou o tempo’, ‘o guarda-chuva choveu na luva’”, explica o contador de histórias, escritor e idealizador da coleção Giba Pedroza.   

Aprender brincando

No final do livro há uma série de atividades para serem desenvolvidas em sala de aula para que as crianças continuem a aprender ao brincar com as palavras compostas.

“Tem uma atividade que é buscar palavras que não estão no livro e tentar criar poemas com elas também: ‘Que tal escrever seu próprio poema para cada uma delas?’. Tem as palavras que estão no livro, mas que não ganharam poemas. Algumas palavras a gente colocou soltas só para que elas figurassem no livro”, conta Pedroza.

No áudio, o autor compartilha outras brincadeiras com palavras compostas que estão no livro e são indicadas para a utilização em sala com os alunos dos primeiros anos do ensino fundamental.

Clique no botão acima e ouça a íntegra da entrevista.

Jan 09, 202407:50
Construções adaptadas e soluções “verdes” ajudam a enfrentar o calor extremo

Construções adaptadas e soluções “verdes” ajudam a enfrentar o calor extremo

Especialista afirma que falta de planejamento contribui para o uso indiscriminado do ar-condicionado

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê que a onda de calor que atinge as regiões Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Sul do Brasil deve continuar até maio de 2024.  

As temperaturas – pelo menos 5 graus acima da média – têm feito crescer a procura por aquisição de ar-condicionado. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), as buscas pelo aparelho, em outubro de 2023, aumentaram 177% em relação ao mês anterior.  

Apesar do alívio proporcionado pelo ar-condicionado, o item é prejudicial ao meio ambiente, já que consome muita energia elétrica para manter temperaturas mais amenas.

“Toda fonte de utilização de energia produz aquecimento, inclusive porque efeito estufa é justamente parte de produção de energia de CO², então, de fato, é inevitável. Muitas vezes, o próprio processo construtivo não contribui para reduzir a temperatura. Isso faz com que esse ar-condicionado seja utilizado até muitas vezes de uma forma indiscriminada”, avalia o professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Roberto Jacobi.

Além de contribuir para o aquecimento global, o ar-condicionado é acessível a apenas uma pequena parcela da população brasileira. A maior parte das pessoas, entretanto, não tem condições de adquirir qualquer aparelho de refrigeração, o que caracteriza a chamada “pobreza climática”.

“As pessoas que têm automóveis, em geral, vão ter ar-condicionado dentro de automóveis e vão se deslocar com menor, muito menor efeito. Agora, [para] quem está nos transportes públicos – e se esses transportes públicos não cuidam efetivamente de ter melhores condições, tanto para a temperaturas elevadas no calor como as temperaturas no frio – é inevitável isso”, analisa Jacobi.

O especialista explica a diferença de acesso a condições que amenizem o calor. “Eu acho que é importante destacar que as pessoas de baixa renda moram em moradias muito precarizadas, com pouca ventilação, com pouca capacidade de entrar mais ar fresco, o que não é o caso das pessoas que moram em prédios verticalizados, ou em moradias de família de maior renda”, aponta.

Soluções baseadas na natureza

Jacobi defende que é preciso pensar em diminuir os efeitos das ondas de calor extremo de forma sustentável e inclusiva, uma vez que é também uma questão de saúde pública.

“É um tema que realmente precisa ser mais explorado por aqueles que estão mais diretamente vinculados às técnicas construtivas, que com certeza isso tem possibilidade concreta. Como se deve observar, por exemplo, nas regiões nas quais as temperaturas sempre foram mais elevadas, em regiões desérticas, onde as construções têm possibilitado a sobrevivência das pessoas, apesar das altas temperaturas”, analisa Jacobi.

Segundo o especialista, as construções devem contemplar telhados verdes, nos quais o crescimento da vegetação acontece sobre o telhado de uma construção, e janelas que permitam uma maior entrada de ar.

“Quanto mais as cidades forem ‘verdes’ maiores serão as condições de se proteger dos eventos extremos; também maior será a capacidade de uma normalização dos efeitos da chuva. Parque linear e proteção de várzea, renaturalização dos rios, tudo isso representa efetivamente uma melhoria na qualidade de vida das pessoas”, conclui Jacobi.

Dec 27, 202308:03
Minhas férias: uma mensagem de fim de ano repleta de imaginação e criatividade

Minhas férias: uma mensagem de fim de ano repleta de imaginação e criatividade

Audiodrama é inspirado em crônica do músico e escritor Reynaldo Bessa

A tradicional mensagem de fim de ano do Instituto Claro navega, em 2023, pela crônica inédita do escritor e músico Reynaldo Bessa. Em “Minhas férias”, a história oscila entre a dor de não ter e a imaginação capaz de transportar cada pessoa a viagens únicas.

“Quando a professora me pediu para escrever sobre algo que eu tinha – ou que ela achava que eu tivesse, sei lá por que –, foi o momento decisivo para eu entender que eu poderia escrever sobre algo que eu não tinha. E isso é literatura. Fui saber muito depois”, explica o autor em depoimento ao final da narração da história.

Na crônica, o menino conta que tirou zero duas vezes, em dois anos seguidos, porque não fez a redação pedida pela professora, mas quando decidiu escrever o seu texto de “minhas férias”, queria mostrar uma história diferente de tudo o que já havia sido contado.

O podcast tem a locução de Walkíria Brit e o violão do próprio Reynaldo Bessa. A gravação foi realizada na produtora Zanzar, com produção executiva de Andre Minnassian e produção sonora e mixagem de Caio Zan e Marcelo Abud.

Clique no botão acima e descubra a magia de uma viagem inesquecível.

Dec 19, 202306:06
Especialistas explicam os conceitos de antissemitismo e islamofobia

Especialistas explicam os conceitos de antissemitismo e islamofobia

Verbetes integram o “Dicionário das Relações Étnico-Raciais Contemporâneas”, lançado em setembro

O “Dicionário das Relações Étnico-Raciais Contemporâneas” foi lançado em setembro de 2023 e aborda a discriminação, os racismos e as relações étnicas no Brasil em de 55 verbetes. Neste podcast, você acompanha as definições de antissemitismo e islamofobia.

O primeiro termo é apresentado pela historiadora, mestra em sociologia e integrante do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos (Niej) Milleni Freitas Rocha. De acordo com a especialista, o antissemitismo pode ser caracterizado em duas vertentes.

“O antissemitismo da antiguidade pode ser visto como esse preconceito ou essa tentativa de conversão dos judeus ao cristianismo. Então, existia a caracterização dos judeus como um grupo religioso. Não como povo, não como nação, até porque a atividade não tinha muita cidade de nação. Os judeus eram vistos como um grupo religioso e que, nesse sentido, eles deviam ser convertidos ao cristianismo. E havia essa ideia de que esse antissemitismo era, na verdade, um antijudaísmo”, explica.

“A partir da modernidade, os judeus começam a ser vistos como um grupo, um povo, uma nação sem território e, em certo sentido, eles acabam, na década de [1930], na Alemanha nazista, eles ganham esse caráter de uma raça inferior. Então, o antissemitismo na modernidade, ele passa a configurar uma perseguição aos judeus a partir da ideia de que eles são perigosos para o mundo, que eles são conspiradores”, completa Rocha.

A segunda expressão é explicada pela antropóloga, professora e coordenadora do Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes (Gracias) Francirosy Campos Barbosa. Segundo a docente, a islamofobia “é o medo do islã, medo dos muçulmanos”.

“Mas a gente tem alguns pontos que acaba definindo como bases islamofóbicas. Seria a xenofobia, que sempre incide da ideia de que você tem medo do diferente, você tem medo do outro, da ideia de que esse outro vai ocupar o seu lugar na sociedade. Então isso acontece com muita frequência na Europa, nos Estados Unidos e que tem crescido também no Brasil”, argumenta.

“Essa base islamofóbica, a gente considera como a intolerância religiosa, grupos religiosos que acabam enfrentando, nesse espaço público, o islã. E aí o racismo religioso ou a racialização. É muito claro a gente ver isso, principalmente nas mulheres muçulmanas que passam a usar o lenço e, a partir do momento que você usa o lenço, você passa a estar racializada”, exemplifica Barbosa.

Clique no botão acima e ouça a íntegra das explicações das duas especialistas.

Dec 13, 202306:54
“Spelling Words” com gamificação ajuda no aprendizado de inglês

“Spelling Words” com gamificação ajuda no aprendizado de inglês

Professora explica que ensinar soletração de palavras por meio de jogos amplia o interesse dos alunos

“Spelling Words” são atividades de soletração de palavras nas aulas de inglês. Entre outros benefícios, ajudam na memorização e na compreensão dos sons de letras e palavras. Para a professora da rede estadual de ensino de São Paulo Rafaela Malaquias, essas atividades podem ser utilizadas em aulas para estimular a gamificação.

“Ele [‘spelling words’] pode ser sim considerado gamificação se nós colocarmos mais elementos dinâmicos, que nós deixemos os nossos alunos participarem mais e brinquemos com isso, deixemos também de uma forma mais leve”, explica.

No áudio, a professora apresenta jogos de soletração para diferentes tapas da educação básica, desde os primeiros anos do ensino fundamental até o ensino médio.

“Eu gosto de fazer, por exemplo, um ‘hot potato’ – uma batata quente. A gente começa com um aluno escolhendo quem vai responder jogando a ‘hot potato’ para quem vai responder, e esse que vai responder, ele é desafiado com uma palavra; se ele acertar, ele pode escolher quem vai ser o próximo”, detalha a docente.

Gamificação em Speeling Words

Malaquias aposta na gamificação para tornar as aulas mais dinâmicas e dar protagonismo aos estudantes. Para a professora, jogos baseados em speeling words vão além da simples memorização de palavras.

“Meu objetivo não é só que eles memorizem as palavras, mas que eles revejam palavras do vocabulário que nós já estudamos, que eles aumentem o vocabulário, que eles pratiquem a habilidade do listening [praticar a audição das palavras em inglês], que eles escutem e que eles consigam reproduzir esses sons, porque nós trabalhamos também muito com a fonética. O ensino, principalmente hoje na rede pública, ele é muito voltado para a oralidade”, conclui.

Clique no botão acima e ouça a íntegra do podcast.

Dec 12, 202307:55
Tirinhas de Carlos Ruas podem ser usadas em sala de aula

Tirinhas de Carlos Ruas podem ser usadas em sala de aula

Professores contam como trabalham o material do livro “O melhor de um sábado qualquer” com a turma

A coletânea “O melhor de um sábado qualquer” reúne 200 tirinhas da série criada pelo quadrinista e designer gráfico Carlos Ruas, que dedicou um capítulo do livro a quadrinhos que podem ser usados didaticamente pelos professores para ensinar conteúdos de várias disciplinas.

“Eu acho que a tirinha é essa forma de estender a mão, trazer o conteúdo para o nível do aluno, no sentido do conteúdo que ele gosta de ler, e a tirinha traz diversão, traz entretenimento e traz conhecimento. A tirinha não vai explicar a matéria inteira, mas a intenção da tirinha é despertar interesse”, afirma Ruas.

Tirinhas didáticas na internet

Em 2019, o cartunista aproveitou o interesse de professoras e professores para o uso das tirinhas em sala de aula e as reuniu no site Um sábado qualquer.

Motivado pela entrevista ao Instituto Claro, Ruas atualizou o conteúdo, que agora está separado e disponibilizado agora por temáticas, como: aprendizado, biologia, ciências, diversidade religiosa, filosofia e matemática.  

“As tirinhas do Carlos Ruas são muito usadas nas minhas aulas, principalmente nas aulas mais expositivas, algumas até mesmo para gerar debates, porque ele aborda a religião de uma forma muito respeitosa. Então, mostro tirinhas, por exemplo, a evolução do pensamento do Carlos Ruas sobre as religiões de matriz africana”, revela o professor de filosofia e sociologia na Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha (Efaserra), em Caxias do Sul (RS), Patric de Oliveira Peres.

Os personagens criados por Carlos Ruas são destaques no livro. Em uma das tirinhas da obra, o protagonista Deus, triste por não conseguir atingir a perfeição com suas criações, procura ajuda de Freud. Outros personagens importantes na história da humanidade, como Einstein, Nietzsche, Darwin, Zeus e Odin, também aparecem nas tirinhas.

“Eu comecei a desenhar Einstein para falar de física, Nietzsche para falar de filosofia, eu comecei a desenhar Darwin para falar de biologia, e por aí vai. Dez anos já se passaram, e passando conhecimento, educando, passando experiência ao próximo”, conclui o quadrinista.

Clique no botão acima e ouça a íntegra do podcast.

Dec 05, 202308:02
“Mussum, o Filmis” leva ao público experiência de aquilombamento cultural

“Mussum, o Filmis” leva ao público experiência de aquilombamento cultural

Especialista explica conceito simbólico de paz, fuga e luta dos quilombos nas organizações sociais

O filme sobre o humorista Mussum narra a trajetória de vida de Antônio Carlos Bernardes Gomes para além do artista nacionalmente conhecido. A cinebiografia “Mussum, o Filmis” mostra desde a infância pobre, a relação com a escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, passando pelo sucesso com o grupo Os Originais do Samba até os bastidores e reproduções de quadros do programa “Os Trapalhões”.

Segundo a mestra em cultura e sociedade pelo Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Stéfane Souto, o filme é considerado uma experiência de aquilombamento cultural.

“O conceito de aquilombamento tem origem no trabalho de pesquisa realizado pela historiadora sergipana Beatriz Nascimento, no final da década de 80. Beatriz Nascimento foi a primeira intelectual brasileira a defender o sentido simbólico do quilombo, demonstrando que os sentidos de fuga, paz e luta que constituíam os quilombos durante o regime escravocrata permanecem nas organizações sociais formadas pelas pessoas negras até os dias atuais. O campo da cultura tem sido hoje um dos principais meios de expressão do aquilombamento, por meio de iniciativas como espaços culturais, atividades formativas, eventos e produtos culturais criados por e para pessoas negras”, explica a pesquisadora.

Aquilombamento em ‘Mussum, o Filmis’

No longa, a trajetória do comediante e sambista é realizada por equipe e elenco majoritariamente negros. Além disso, o filme leva às telas outros importantes nomes da cultura brasileira, como Grande Otelo (Nando Cunha), Alcione (Clarice Paixão), Jorge Ben (Ícaro Silva), Cartola (Flávio Bauraqui), Garrincha (Wilson Simoninha), Nilton da Mangueira (Mussunzinho), Milton Carneiro (Marcello Picchi) e Elza Soares (Larissa Luz).

“É um filme preto, de um diretor preto, com elenco e equipe majoritariamente pretos. Isso foi uma escolha. Eu tive essa escolha. Esse é o lugar que aos poucos a gente está conseguindo conquistar, integrando com esse olhar de dentro para fora”, resume o diretor de “Mussum, o Filmis”, Silvio Guindane.

No áudio, você acompanha as entrevistas com Stéfane Souto e Silvio Guindane e ainda trechos do filme em que Ailton Graça, que interpreta o protagonista, revive uma das visitas de Mussum à escola de samba mirim e projeto social Mangueira do Amanhã.

Clique o botão acima e ouça a íntegra do podcast.

Nov 22, 202307:59
Livro propõe diálogos feministas e antirracistas com crianças e adolescentes

Livro propõe diálogos feministas e antirracistas com crianças e adolescentes

Obra de Bianca Santana aborda questões sociais, trabalhos domésticos e liberdade religiosa

O livro "Diálogos feministas e antirracistas (e nada fáceis) com as crianças" foi escrito pela jornalista Bianca Santana e ilustrado por Tainan Rocha. A ideia de abordar o feminismo e o antirracismo com o público infantojuvenil veio das conversas francas e generosas da escritora com os filhos.

“As crianças, [os] adolescentes, sabem o que está acontecendo no mundo ao redor. Então, tratar sobre feminismo e antirracismo é um modo de dialogar com crianças e adolescentes sobre o que está acontecendo, já que eles estão aqui nesse mundo, e também de a gente convidar todo mundo para as transformações necessárias”, afirma a mestra em educação pela Universidade de São Paulo (USP).  

Conhecida por tratar de questões de raça e gênero para o público adulto, como escritora e nas redes sociais, Santana destina sua obra a esse novo público.

“A gente não pode fugir da profundidade que as crianças também merecem e desejam, mas sem deixar de acolher as crianças, sem abrir a possibilidade de mais conversas. Então, tratar das questões de raça e gênero para as crianças é muito importante, não só contar e informar, mas também acolher nessa certeza de que um dia o futuro vai ser diferente, de que um dia o presente vai ser diferente, que é o nosso futuro, e que isso depende de todo mundo, pessoas adultas e crianças também”, analisa a autora.

Ampliando o debate

Segurança, sistema prisional, política, educação e pautas sociais, como machismo e racismo, têm espaço no livro. No áudio, além de revelar outros detalhes da obra, Bianca Santana lê um dos diálogos do livro e explica a importância das ilustrações de Tainan Rocha para a compressão dos temas debatidos.

“A forma como ele ilustra amplia muito as possibilidades de conversa. Então, não é que ele desenha exatamente o que está escrito, e a gente tem a mesma informação em duas linguagens diferentes, a linguagem verbal e a linguagem visual. Muitas vezes, o desenho dele traz mais camadas de informação, de questionamento, de dúvida, que convidam para mais e mais diálogos”, explica Santana.

Clique no botão acima e ouça a íntegra da entrevista.

Nov 21, 202308:07
Filme “Meu nome é Gal” ajuda a ensinar sobre a ditadura no Brasil

Filme “Meu nome é Gal” ajuda a ensinar sobre a ditadura no Brasil

Historiadores citam cenas que abordam o cenário cultural e político da época

O filme “Meu nome é Gal” retrata parte da trajetória da cantora brasileira Gal Costa e vai do momento em que a então jovem artista viaja de Salvador (BA) ao Rio de Janeiro (SP) para investir na carreira até o momento em que a intérprete se torna uma das vozes da Tropicália, movimento cultural brasileiro que envolveu a música e outras formas de arte, como cinema, teatro e poesia.

De acordo com o doutor em história política e bens culturais pela Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor na secretaria municipal de educação do Rio de Janeiro Felipe Castanho Ribeiro, o filme tem elementos que podem ser usados pedagogicamente.

“Falar sobre o filme ‘Meu Nome é Gal’ não é apenas pensar no filme que retrata a vida de uma das cantoras mais brilhantes que o nosso país já teve, mas também é um filme que retrata a ditadura civil-militar a partir do ano de 1964. E o filme tem algumas passagens boas que podem ser trabalhadas em sala de aula. É possível contextualizar como a questão cultural era tratada, assim como a própria repressão do período”, explica.

A arte é uma forma de mobilizar e sensibilizar estudantes para o assunto, argumenta a historiadora e coordenadora da área de memória, verdade e justiça do Instituto Vladimir Herzog, Gabrielle Abreu.

“E tematicamente falando, o filme biográfico da Gal ensina aspectos importantes da história da ditadura militar, como a importância da cultura naquele contexto, a resistência que artistas de diferentes áreas de atuação empreenderam contra o regime militar; o quanto essas expressões artísticas também foram afetadas pelas políticas repressivas”, contextualiza.

“É superimportante essas retratações, essas representações midiáticas do período, sobretudo essas que são ligadas a grandes personalidades públicas, porque elas ajudam a conferir uma certa materialidade àquele fato histórico. Nos ajuda a compreender mais o período, porque de alguma forma nos aproxima daquela narrativa”, completa a historiadora.

Clique no botão acima e assista à íntegra do podcast.

Nov 14, 202307:59
Novo Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência mantém investimentos em políticas públicas

Novo Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência mantém investimentos em políticas públicas

Especialista aponta, entretanto, a necessidade de mudança no comportamento da sociedade com as PCDs

Elaborado entre maio e setembro de 2023, o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência Ministério foi anunciado pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania com o nome “Viver sem Limite II”.

Segundo o professor da Universidade de Brasília e coordenador do Observatório de Deficiências, do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da UnB Everton Luis Pereira o documento traz avanços como o compromisso no investimento público em políticas que garantam os direitos das pessoas com deficiência.

“Pegando só do ‘Viver sem Limite I’ até agora, a gente já tem 11 anos. Tem um conjunto de normas aí construídas ao longo desses anos e que impactam, sem dúvida alguma, de forma substancial, a vida das pessoas com deficiência e de todos nós, porque mudando a vida desse grupo, a gente também se transforma”, avalia.

Apesar das conquistas, o educador aponta as barreiras existentes para a implementação efetiva dos direitos da pessoa com deficiência.

“Primeiro é colocar em prática tudo o que a gente já construiu enquanto sociedade. Mas o segundo desafio é a transformação social, porque não adianta só a gente investir em política pública, em leis, se a gente não mudar a forma como a gente olha para esses sujeitos”, alerta Pereira.

Quatro eixos

O novo plano é estruturado em quatro eixos:

1)   Gestão inclusiva e participativa;

2)   Enfrentamento à violência e ao capacitismo;

3)   Acessibilidade e tecnologia assistiva; e

4)   Acesso a direitos.

Pereira analisa a importância de cada eixo para a garantia dos direitos da pessoa com deficiência. Clique no botão acima a ouça os detalhes.

Nov 08, 202308:05
Acesso dos alunos ao ChatGPT deve ser feito com a mediação do professor

Acesso dos alunos ao ChatGPT deve ser feito com a mediação do professor

Especialista defende que escola utilize a inteligência artificial para estimular senso crítico dos jovens

O ChatGPT é uma ferramenta de inteligência artificial que permite a interação com o usuário de maneira semelhante a uma conversa, além de oferecer a criação de textos e conteúdos variados.

Segundo o professor de sociologia e coordenador do Observatório da Inovação do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) Glauco Arbix, os educadores precisam estar atentos a essa nova realidade proporcionada pela tecnologia.

“Acho fundamental que a gente aproveite aquilo que tem de positivo nesse conjunto de ferramentas que a inteligência artificial oferece para a gente melhorar aquilo que a gente faz, ou seja, educar, e nessa interação entre aluno e professor”, explica.

O professor explica que o ChatGPT utiliza a tecnologia machine learning, conceito de aprendizagem de máquina que se dá a partir da utilização de um banco de dados gigantesco – a web – para gerar respostas em texto.

Segundo Arbix, os professores precisam conhecer as ferramentas de inteligência artificial para mediar o acesso que os jovens fazem de ferramentas como o ChatGPT.

“Quando a gente põe a tecnologia nas mãos dos alunos, o que nós estamos dizendo é: ‘Faça bom uso dela, não asfixie as suas capacidades, pelo contrário, aumente’. É para isso que serve o ChatGPT, para aumentar a sua capacidade, para que você seja melhor do que quando você começou a fazer a sua atividade em sala de aula ou fora da sala de aula, a sua lição de casa”, afirma.

O sociólogo alerta, entretanto, para os perigos do uso indiscriminado dessa ferramenta e a necessidade de um comportamento ético em relação aos resultados apresentados por ela.

“Ele [ChatGPT] foi feito para encadear as palavras, a partir de um oceano de dados, de informações, milhares e milhares de arquivos que constituem esse banco de dados; e ele foi feito para oferecer uma redação coerente, gramaticalmente precisa, correta. Não quer dizer que aquilo que ele esteja falando seja verdadeiro. Quando ele não encontra nos dados uma resposta, ele forja uma”, argumenta.

Arbix defende que os professores utilizem a tecnologia para estimular os alunos a desenvolverem sua capacidade analítica.  

“Esse tipo de atividade, eu acredito que melhora o sistema educacional. Ele coloca o aluno já num patamar diferente – já está diante de um texto estruturado – e obriga o aluno a superar aquilo que ele recebeu. Por isso que eu acredito que tem um trabalho formador que cabe aos professores, às professoras, exatamente desenvolver. Os alunos têm que superar o seu estágio”, conclui.

Ouça a íntegra do podcast clicando no botão acima.

Nov 07, 202307:53
Como trabalhar com a neurodiversidade em sala de aula

Como trabalhar com a neurodiversidade em sala de aula

Psicopedagoga defende capacitação dos professores e integração com a família do aluno neurodivergente

Neurodiversidade é o conceito que define os diferentes padrões mentais. Dentro dessa concepção estão os indivíduos neurotípicos – que apresentam desenvolvimento considerado “típico” ou previsto – e os neurodivergentes, pessoas que manifestam um funcionamento neurocognitivo fora da média esperada.  

A psicopedagoga Jéssica Chaves explica que a neurodiversidade contempla especificamente a comunicação e o aspecto social, a relação entre pares. “A dislexia, o TDAH – déficit de atenção e hiperatividade –, tem também o autismo, que está dentro de um espectro, além de outras. A deficiência intelectual também abrange as pessoas neurodivergentes”, enumera.

Para a especialista, professoras e professores têm de receber formação constante para saber como incluí-los. No entanto, essa capacitação acaba sendo realizada nas especializações.

“Junto com uma formação continuada, o que funciona muito é você ter parceria com a família e com uma equipe terapêutica caso essa criança já esteja no processo. Caso não, você [pode] contar com a família, partilhar as observações ali dentro da sala de aula, colocar em debate e, juntos, chegar ao consenso, buscar um diagnóstico, um tratamento adequado e, principalmente, respeitar a individualidade, a necessidade de cada um deles”, sinaliza Chaves.

Neste podcast, você também acompanha um exemplo vivido pela psicopedagoga em sala de aula. A professora explica como conseguiu acolher e reintegrar uma criança que reagiu agressivamente com a turma com a qual estudava. Clique e ouça agora.

Oct 24, 202308:07
Base Nacional Comum de Formação prejudica a capacitação docente

Base Nacional Comum de Formação prejudica a capacitação docente

Educadoras defendem o retorno à resolução de 2015 para qualificação integrada e ampla dos professores

O Ministério da Educação (MEC) finalizou a minuta do relatório sobre a formação de docentes. O documento é resultado do Grupo de Trabalho (GT) criado para propor políticas de melhoria na formação inicial de professoras e professores.

Entre os tópicos está a revogação das resoluções do Conselho Nacional de Educação n° 02/2019 e nº 01/2020, que correspondem à Base Nacional Comum de Formação de Professores e de Formação Continuada de Professores (BNC-Formação).

“É uma proposta de formação que traz uma concepção pragmática, tecnicista de formação de professores. Ela é centrada numa matriz de competências e habilidades que acabam por padronizar e esvaziar o currículo da formação de professores”, analise a professora e atual presidente da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (Anfope), Suzane Gonçalves.

Retorno à resolução de 2015

O sumário do relatório do MEC propõe o retorno às diretrizes da Resolução CNE nº 2/2015, que, segundo a doutora em educação e professora aposentada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Helena de Freitas trouxe avanços importantes para a formação inicial e continuada de professoras e professores.

“A ‘2015’ permite que formemos todos os licenciados de uma forma mais ampla, cientificamente sólida, referenciada, principalmente na dimensão das ciências pedagógicas de como o professor entende o seu trabalho docente na escola pública”, argumenta a professora.

Para as educadoras, apesar de constar no sumário do relatório do Ministério da Educação, é preocupante que ainda não haja uma data definida para a revogação da Base Nacional Comum de Formação de Professores e de Formação Continuada de Professores (BNC-Formação).

Gonçalves defende a publicação imediata da resolução de 2015 para que o Conselho Nacional de Educação as proposições do Grupo de Trabalho. A expectativa é de que essa revogação e consequente retorno à resolução CNE 2/2015 aconteça até dezembro de 2023.

Oct 17, 202307:59
"As Aventuras de Dorinha" ajuda nas atividades de escrita na escola

"As Aventuras de Dorinha" ajuda nas atividades de escrita na escola

Para autor do livro, história estimula os alunos a escrevem cartas e a se aproximarem dos idosos

Escrito por Cláudio Thebas, a obra narra a rotina de uma idosa que mora sozinha e passa a maior parte do tempo limpando a casa.

O desafio de conseguir preencher as horas vagas se transformou numa aventura na qual Dorinha passa a entender que contemplar o mundo ao redor e viver o ócio são, também, uma grande aventura.

Segundo o educador, escritor e autor do livro, Cláudio Thebas, a protagonista é capaz de aproximar gerações.

“A criança, ao entrar em contato com o universo desta pessoa solitária que é a Dorinha, pode começar a perceber os estados dos idosos que estão à sua volta. Como será que está a minha avó? Como será que está esse meu avô? Então talvez ela se aproxime desse idoso ao perceber a condição em que a Dorinha vive”, explica.

Nessa viagem para o interior de si mesma, Dorinha começa a escrever uma longa carta em que registra cada som, cada momento, cada tom azul do céu. É assim que passa a preencher as horas.

“Ela se transforma nessa aventureira do mundo, da delicadeza, do encontro, aventureira da paisagem. Acho que o silêncio e o ócio são que nos convidam a entrar em contato com a vida”, filosofa o autor.

Cartas para Dorinha

Thebas recebeu cartas escritas por crianças e por mulheres adultas a partir de atividades propostas por escolas.

“Os adultos escreveram cartas, muitas mulheres retratando o quanto que a Dorinha retrata a vida delas de alguma forma. E as crianças escrevem cartas não para o Cláudio autor, escrevem cartas para Dorinha. É uma lindeza ver. Todas elas convidam a Dorinha para: ‘Vem comer com a gente’, ‘Vem aqui na biblioteca’”, explica.

O escritor vê essa iniciativa como inspiração para atividades com o livro em sala de aula.

“Eu tenho a convicção de que é um grande material de trabalho para as escolas. Será que as crianças escrevem cartas? Já escreveram cartas? E se as crianças conversassem com seus avós, com seus pais, sobre cartas? E se essas crianças escrevessem cartas umas para as outras? Uma caixinha de correio, é infinita a possibilidade”, sugere.

Oct 10, 202308:01
Tarifa zero no transporte público diminui desigualdades, afirma especialista

Tarifa zero no transporte público diminui desigualdades, afirma especialista

A tarifa zero no transporte público já existe em mais de 80 cidades brasileiras, como Maricá (RJ), Vargem Grande Paulista (SP) e Caucaia (CE). A iniciativa contribui para o debate sobre um possível Sistema Único de Mobilidade (SUM).

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 25/2023, de autoria da deputada federal Luiza Erundina (PSOL/SP), estabelece o transporte como direito social e a criação de um sistema que viabilize a implementação da gratuidade no transporte público em todo o território nacional.

“A gente precisa avançar no sentido de que quem não tem dinheiro para pagar passagem tem que ter a possibilidade de se transportar pela cidade e acessar oportunidade, porque transporte é sobre oportunidade. É sobre conseguir enfrentar as desigualdades, sair da barreira da vulnerabilidade”, afirma a pesquisadora em mobilidade urbana formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Rafaela Albergaria.

Mobilidade social

A especialista afirma que as cidades que aplicam a gratuidade no transporte como direito universal conquista avanços sociais em outras áreas. Para Albergaria, o trem e o metrô também são importantes em uma implantação do Sistema Único de Mobilidade para ampliar oportunidades.

“Uma pessoa que está desempregada, aqui na cidade do Rio de Janeiro [RJ], ela precisa ter R$ 17,10 no bolso, por dia, para procurar emprego – valor de dois bilhetes únicos, da ida e da volta. Não pode uma pessoa que está desempregada não conseguir sair da vulnerabilidade porque ela precisa ter o dinheiro da passagem”, argumenta a pesquisadora.

Albergaria traz um exemplo da mudança gerada pela implementação da tarifa zero em Formosa (Goiás). A partir dos resultados obtidos lá e em outras dezenas de municípios, ela conclui:

“Se o SUS, se a saúde é algo que é entendido como essencial e garantido pelo Estado para que as pessoas tenham acesso a ele, e se para a gente poder acessar uma emergência, a gente precisa se deslocar por transporte, essa política também precisa ser implementada como direito universal”.

Sep 28, 202307:56
Livro infantil sobre Elza Soares ajuda na educação antirracista

Livro infantil sobre Elza Soares ajuda na educação antirracista

Autora Nina Rizzi afirma que a obra permite ensinar temas sociais às crianças de forma lúdica

 

“Elza: a voz do milênio” é a biografia de Elza Soares destinada ao público infantil. Com texto de Nina Rizzi e desenhos feitos por Edson Ikê, o livro começa com fatos da difícil vida da artista e vai até ela se tornar uma estrela.


“É uma história do povo brasileiro, uma história de música, de alegria que vale a pena ser contada. Eu gostaria que, quando fui criança, tivesse lido mais histórias que representassem o meu mundo”, declara a professora e autora da obra Nina Rizzi.


Ser mulher não é fácil. Preta, então...

Levar a biografia de Elza à sala de aula é uma forma de estimular uma educação antirracista segundo Rizzi.


“Era uma mulher consciente de sua raça, e isso é muito importante (...), você saber quem você é no mundo, saber contra o que você está lutando (...). Quando ela fala que ninguém ia tirar ela de um palco pelo fato de ela ser negra. Então, isso aconteceu muitas vezes, mas ela não deixava de cantar. Ela simplesmente desobedecia, né?”, cita a escritora.

O livro passa por lutos parentais, pela ditadura, pelos relacionamentos conturbados até o sucesso da cantora. Toda essa trajetória permite que as crianças conheçam o contexto político-social do país, desde a infância na favela da Moça Bonita, no Rio de Janeiro da década de 1930, até a morte de Elza em janeiro de 2022.

Além de Nina Rizzi, o podcast conta com o depoimento do ilustrador Edson Ikê, que descreve uma das passagens da biografia: a apresentação de Elza Soares no programa “Calouros em Desfile”, apresentado por Ary Barroso em 1953.

Sep 27, 202308:02
Projeto utiliza livro didático para desenvolver a interpretação crítica de textos

Projeto utiliza livro didático para desenvolver a interpretação crítica de textos

Objetivo é estimular o senso crítico dos alunos do 4º e 5º anos do ensino fundamental 

“Aprender a estudar textos” é uma iniciativa da ONG Laboratório de Educação que destaca a importância do livro didático na ampliação da capacidade de interpretação de textos pelas crianças após a alfabetização.  

O objetivo é auxiliar os docentes de 4º e 5º anos do ensino fundamental na utilização da linguagem dos textos das disciplinas como ferramenta para ensinar os alunos a conhecerem o mundo por meio da leitura. 

“Aprender história ou aprender ciências exige aprender também qual a linguagem que se usa para representar os conceitos abstratos que passam a fazer parte do repertório de conhecimentos que a criança deve ter acesso através da leitura”, explica a mestre pela Faculdade de Educação de Harvard (EUA) Nicole Paulet.

Os textos didáticos são informativos e exigem que a criança exerça a capacidade de interpretação a respeito dos assuntos tratados em cada disciplina.

“Tem o conteúdo específico que está em pauta, mas tem o como esse conteúdo está sendo apresentado no texto. E na medida em que ela [criança] entende essa interrelação entre essas duas coisas, ela tem muito mais capacidade de compreensão, porque os textos, eles têm muitas coisas subentendidas”, avalia a doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP) Beatriz Cardoso.

 

Inspiração

Até o início de 2023, a equipe do “Aprender a estudar textos” contou com a colaboração e supervisão da educadora Ana Teberosky, falecida em março. Ela se dedicou à aprendizagem da linguagem a partir de uma perspectiva multidisciplinar.

 

“Essa macroestrutura que a professora Ana Teberosky cunhou tem como objetivo criar um contexto para que as crianças possam estabelecer diferentes relações com o texto: que as crianças pensem, comentem, antecipem, ouçam, registrem, anotem, manipulem, escrevam categorias. Tem toda uma série de ações ativas das crianças, que estão estruturadas em torno da situação de leitura”, conclui Paulet.

Sep 19, 202308:06
Videocast criado por pessoas com deficiência debate o capacitismo

Videocast criado por pessoas com deficiência debate o capacitismo

Benedita Casé e Pedro Henrique França criticam o estereótipo de

‘incapaz’ vigente na sociedade

A série de videocasts PCDPOD, apresentada por Benedita Casé e Pedro Henrique França, profissionais do audiovisual e com deficiência, foi criada para combater o capacitismo manifestado na forma de preconceito à aptidão das PCDs.

Com episódios semanais lançados toda quinta-feira, de 3 de agosto a 21 de setembro – Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência –, a primeira temporada tem o objetivo de mostrar que pessoas com deficiência podem fazer o que desejam, e não o que a sociedade as impõe.

“Mas quando você pergunta o que a sociedade determina, está muito nesse lugar de coitado, de incapaz, no lugar de ‘ah, é bonzinho, é um amor, é uma coisa fofa’, mas não é uma pessoa que tem força. Força no lugar de qualidades. O capacitismo se disfarça muito dessa coisa da boa intenção, da ajuda. E a gente não quer essa ajuda, a gente quer colocar todo mundo na mesa e discutir sobre tudo, como qualquer outra pessoa”, afirma a diretora, roteirista, designer, produtora de conteúdo e surda oralizada Benedita Casé.

Segundo França, o videocast apresenta pessoas que o público precisa conhecer. “Ou porque está ocupando espaço no direito ou porque está ocupando espaço no jornalismo ou porque conseguiu ocupar um espaço nas artes ou é um influenciador”, explica o diretor, roteirista, ator e jornalista.

As entrevistas abordam afetos e desejos, urbanismo, políticas públicas, internet, autoestima, representatividade e entretenimento. O último episódio contará com as participações das mães da dupla de apresentadores, Regina Casé e Maria Helena.

Disponíveis também no Youtube Music e Spotify, o PCDPOD tem audiodescrição, legenda e Libras.

Confira todos os detalhes nesse podcast de Cidadania.


Sep 13, 202307:22
Alterações no novo ensino médio não eliminam todas as deficiências do projeto

Alterações no novo ensino médio não eliminam todas as deficiências do projeto

Monica Ribeiro da Silva critica o ensino EAD e a atuação dos docentes sem formação específica

Proposto pela lei nº 13.415/2017, o novo ensino médio começou a ser implantado a partir de 2022 nas escolas públicas e privadas do país.

As críticas ao modelo, feitas por entidades e grupos de pesquisas que se dedicam a essa etapa de ensino, levou o Ministério da Educação a realizar consulta pública – entre junho e agosto – para ouvir estudantes, professores, gestores e estudiosos.

A pós-doutora pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora do Grupo de Pesquisa Observatório do Ensino Médio e da EMpesquisa – rede nacional de grupos de pesquisa sobre ensino médio –, Monica Ribeiro da Silva, avalia que a proposta apresentada pelo MEC traz revisões importantes.  

“Essa proposta contempla em parte o que essa mobilização vinha pedindo, inclusive as posições das entidades científicas. O que ela avança é principalmente na carga horária destinada à formação geral básica, porque deixaria de ser um teto de 1.800 horas e passaria para 2.400”, explica.

Segundo a professora, apesar de apontar mudanças positivas, o documento ainda apresenta pontos contestados pelos grupos de pesquisa coordenados por ela.

Entre as críticas estão o notório saber, que possibilita a atuação docente em função da experiência de trabalho ou de vida, independentemente da formação específica para lecionar; a vinculação à Base Nacional Comum Curricular e a educação a distância.

“[O documento] reduz a participação da carga horária a distância, mas mantém como possibilidade para a formação técnica e profissional. Nós entendemos que não deve existir essa possibilidade da EAD no ensino médio pela extrema exclusão digital da nossa juventude, sobretudo a mais pobre”, explica Silva.

Ouça a íntegra da entrevista no podcast.

Sep 12, 202308:24
Christian Dunker: viés de confirmação reduz possibilidade de aprendizagem

Christian Dunker: viés de confirmação reduz possibilidade de aprendizagem

Psicanalista explica que a reafirmação de crenças pessoais diminui o conhecimento e reproduz preconceitos.

O viés de confirmação é um mecanismo do nosso cérebro que, mesmo de forma inconsciente, busca informações e opiniões que reforcem aquilo que acreditamos.

Muitas vezes essa confirmação vem a partir de suposições falsas que geram conforto à pessoa.

“É uma atitude cognitiva que antecipa o que a gente vai encontrar de novo – uma nova informação, um novo cenário, uma nova situação – certas predisposições que a gente já tinha em relação àquele objeto. (...) Então o viés de confirmação tem um efeito de reduzir o potencial de aprendizagem e de reduzir a tua escuta em relação ao que efetivamente o outro está querendo te dizer”, define o psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) Christian Dunker.


Principalmente em cenários polarizados, como os das redes sociais, o viés de confirmação favorece pontos de vista preconceituosos.

“A gente ainda tolera um nível de violência que vai reproduzir o quê? Os preconceitos de viéses cognitivos das pessoas: o preconceito de raça, o preconceito de classe, LGBTQIA+, religioso... Inaceitável. As gerações que virão não vão aceitar isso e vão achar assim: ‘por que vocês demoraram tanto tempo?’ em relação a isso, que é uma indução de violência social”, analisa o psicanalista.

 

Velocidade gera aumento de desinformação

Para o psicanalista, a rapidez com as quais as informações têm sido consumidas faz a pessoa tirar conclusões imediatamente.

É o caso de quem lê uma manchete e já deduz o que a matéria quer dizer. Isso cria um ambiente favorável para as chamadas fake news.

“A própria atitude de aprofundamento, ela é malvista, em grande parte da nossa comunicação digital. Isso convida a disparos muito apressados da ‘conclusividade’, e aqueles que sabem fazer ou conseguem fazer isso de forma mais contundente, eles acabam galgando uma autoridade, vamos chamar assim, indevida, uma autoridade que pode muito facilmente propagar desinformação”, pontua Dunker.


No áudio, o psicanalista aponta a necessidade de responsabilização de plataformas digitais – diante da disseminação de notícias falsas – e a educação midiática como caminhos para enfrentar o avanço de discursos de ódio e crimes na internet, que ganham força com o viés de confirmação.

Aug 23, 202308:14
Taxa de adequação à formação docente melhora a qualidade do ensino e a atuação docente

Taxa de adequação à formação docente melhora a qualidade do ensino e a atuação docente

A adequação da formação docente é um índice do MEC que demonstra a proporção de professores de cada escola que têm a formação adequada para a disciplina que leciona.

“O que a gente tomou como seguro foi olhar o que existia na legislação a respeito da formação inicial do professor. A ideia é que o professor seja formado em nível superior, embora a legislação preveja – permaneceu lá na LDB – a formação mínima de nível médio para lecionar nos anos iniciais do ensino fundamental e na educação infantil”, explica o coordenador-geral de qualidade e tratamento da informação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Fábio Bravin.

No dia a dia das escolas, ainda é muito comum se ver professoras e professores formados em uma área mas que dão aula em outra na educação básica.

Ao analisar os dados do Censo Escolar da Educação Básica 2022, lançado neste ano, nota-se que as regiões Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste apresentam um menor percentual de disciplinas ministradas por professores com formação adequada.

“São cenários que, num país continental como o Brasil, com tantas diversidades, especialmente territoriais de acesso – pensar a Amazônia com, basicamente a região Norte, com deslocamentos por rios –, você fazer uma escola chegar próxima a um cidadão, enfim, pode não necessariamente refletir uma falta de professor naquela formação específica, e sim uma dificuldade de você alocar ele numa localidade”, observa Bravin.

No áudio, você acompanha também a participação da professora e diretora escolar em Mauá (SP) Herlen Cristina Pires.

Ela analisa a importância das diferentes leituras que esse índice apresenta, inclusive como oportunidade de desenvolvimento na carreira.

“Por exemplo, eu sou formada em língua portuguesa, mas eu gosto de arte, então eu posso fazer uma segunda licenciatura para esse lado, já que eu gosto e eu sei que vai faltar um profissional (...) Eu vou me formar numa segunda licenciatura para ter maior complementação de renda e acabo ajudando a minha escola, os meus alunos”, aponta.

Mais detalhes no Censo Escolar 2022

Aug 22, 202308:03
“Geração WhatsApp” tem dificuldade de se relacionar em sala de aula

“Geração WhatsApp” tem dificuldade de se relacionar em sala de aula

A “Geração Whatsapp” é caracterizada por um perfil de pessoas que lidam cada vez mais com aplicativos e parecem ter tudo à distância de um único clique. A definição é do professor do Centro Universitário Faap Eric Messa, a partir de estudos como coordenador do Núcleo de Inovação em Mídia Digital da mesma instituição.

“Junto disso, vou adicionar inclusive um período que foi importante na vida dessas pessoas de isolamento social forçado. Eu entendo que hoje a gente começa a perceber um perfil de pessoas que tem falta de uma habilidade interpessoal, principalmente na questão do convívio social”, afirma.

O pesquisador analisa que quando estão reunidas num mesmo espaço, sentem desconforto com a presença física do outro e não conseguem começar uma conversa espontaneamente. “São pessoas que inclusive, muitas vezes, preferem muito mais estarem sozinhas do que num ambiente público. Então têm dificuldade de se relacionar socialmente”, explica o professor.

 “Geração WhatsApp na Escola

Pensando no ambiente escolar, em que a educação é considerada um espaço de relação social fundamental para o processo de ensino-aprendizagem, Messa aponta as dificuldades a serem enfrentadas.

“Quando são obrigadas a criar esse relacionamento, se relacionam de maneira muito fria, distante, com conversas curtas, feitas de breves diálogos, e, inclusive, já vi situações de pessoas sendo às vezes grossas e ríspidas por conta mesmo dessa dificuldade de saber lidar com outras pessoas”, analisa.

Diante do desconforto que crianças e jovens têm em se relacionar, os professores podem agir para melhorar o ambiente e estimular o trabalho coletivo.

“Ter um professor que tenha um papel ativo nessa organização de grupo, e aí existem diversas estratégias de se organizar um grupo, mas que seja, de novo, pelo interesse. Pedir para que cada um fale um tema de interesse e perceber que algumas pessoas têm o mesmo interesse, e agrupá-las então dessa maneira”, conclui Messa.

Aug 15, 202307:16
Futebol freestyle: meninas ainda sofrem preconceito na modalidade

Futebol freestyle: meninas ainda sofrem preconceito na modalidade

O futebol freestyle (ou futebol estilo livre) é uma modalidade esportiva em que são realizadas manobras com a bola, com o objetivo de demonstrar habilidade ao equilibrá-la de maneira criativa no corpo.

“São manobras com uma bola de futebol, onde você usa diversas partes do corpo e em diferentes momentos”, explica a atleta profissional e professora Marisa Cintra, ou Marisa Freestyler, como é conhecida nas redes sociais.

De acordo com Cintra, a Copa do Mundo de Futebol Feminino fez aumentar o interesse por atividades que envolvem o futebol freestyle. Entretanto ainda há barreiras para meninas brincarem ou jogarem bola. É o caso de Alícia Azevedo, de 14 anos, que acompanha as aulas do irmão de 11, no Parque Ibirapuera.

“É, às vezes, a gente fica intimidada de jogar porque tem muito menino jogando, a gente pensa na nossa cabeça que eles vão falar ‘nossa, você é muito ruim’, ‘não, você não joga porque você é menina, fica pra lá que você vai atrapalhar o nosso jogo’. Aí a gente fica meio intimidada. ‘Será que eu devo jogar mesmo, continuar jogando? Praticar mesmo? Eles não deixam eu jogar’, essas coisas”, revela.

Na infância, a atleta era proibida pelo pai de jogar bola com os irmãos. Curiosamente, foi isso que fez Cintra começar a descobrir a habilidade para fazer acrobacias sozinha.

“Claro, eu ficava muito triste. Ficar lá fora, olhando, e ‘poxa, eu não posso jogar’. Vem dessa época, desde casa, porque eu tinha campo em casa, eu moro em Sítio, então tinha campo em casa e eu lembro muito bem disso. Por isso que eu sei fazer embaixadinha, porque eu ficava muito tempo sozinha com a bola”, revela.

Representatividade e motivação

O impulso definitivo para desenvolver a habilidade com a bola veio ao assistir a um programa de tv com a participação da ex-jogadora do Corinthians Milene Domingues, que ficou conhecida como a “Rainha das Embaixadinhas” no final dos anos 1990. Foi naquele momento que Marisa Cintra encontrou o próprio caminho e, mais tarde, passou a incentivar outras meninas a praticarem o futebol freestyle.

“E aí eu vi a Milene Domingues parando bola nas costas, fazendo flexão… foi o primeiro movimento diferente que eu vi, para depois ver zerinho, outras coisas, né? E aí eu falei ‘nossa, que legal isso!’, porque é uma coisa que eu brincava com a bola, né, e aí eu comecei a treinar, mas eu nunca imaginei que eu tava começando um esporte na minha vida, sabe?”, confessa a atleta.

Cintra é pioneira no freestyle feminino e, além dos campeonatos que disputa, há mais de uma década dá aulas de futebol em estilo livre. Campeã brasileira e uma das melhores do mundo na modalidade, participa de demonstrações em espaços como o Sesc, com a ideia de mostrar que a mulher pode estar onde quiser.

“Tem muita criança e adulto que não têm controle de si próprio, então erra e dá aquele chute, sabe, não consegue se controlar, porque tá errando. Então freestyle hoje, ele não trabalha só habilidade do corpo, a motora, mas muito o mental (…) Em todo movimento que eu vou ensinar, eu faço primeiro a pessoa entender o movimento na mente dela”, explica.

Aug 09, 202308:11
Unicamp 2024: “Alice no País das Maravilhas” é referência do nonsense

Unicamp 2024: “Alice no País das Maravilhas” é referência do nonsense

O nonsense é caracterizado pelo desafio à lógica e à razão. Na literatura, o termo se associa à obra de Lewis Carroll, principalmente em “Alice no País das Maravilhas”, de 1865.

No áudio, Marcella Abboud analisa mais detalhes da obra e faz apostas sobre possíveis pontos que podem ser foco de um vestibular como o da Unicamp. Entre esses aspectos, a professora aponta o que considera o tema central em “Alice no País das Maravilhas”.

Aug 08, 202308:08
Hino da anistia, ‘O Bêbado e a Equilibrista’ ainda hoje pode servir de alerta contra ataques à democracia

Hino da anistia, ‘O Bêbado e a Equilibrista’ ainda hoje pode servir de alerta contra ataques à democracia

“O Bêbado e a Equilibrista” é a composição da dupla João Bosco e Aldir Blanc que se tornou conhecida como o hino da anistia durante o período da ditadura civil-militar no Brasil. A música tem origem no Natal de 1977, quando João Bosco é avisado da notícia da morte de Charlie Chaplin.

“O Chaplin era e continua sendo um cineasta, um ator, um escritor, um compositor que levava para as telas de cinema situações específicas de uma certa classe social... Ele estava sempre na classe dos vagabundos, dos sem-emprego, daqueles que não têm facilidade para nada nessa vida... E fazia daquilo algo engraçado, positivo, ou seja, ele empurrava a gente para a frente, sempre naquela situação de dificuldade”, conta João Bosco neste podcast do Instituto Claro.

Ele revela que a primeira coisa que pensou naquele 25 de dezembro de 1977 foi na canção “Smile”, que logo passou a dedilhar no violão. É em torno dessa composição de Chaplin que se constrói a melodia de “O Bêbado e a Equilibrista”.

A música ganha registro definitivo no LP “Essa Mulher”, de Elis Regina, em 1979. A letra é de Aldir Blanc, que acrescenta a temática social com expressões e rimas como “Brasil” e “irmão do Henfil”. “O Bêbado e a Equilibrista” é repleta de metáforas e recados diretos para um país que sentia saudade de pessoas que haviam sido obrigadas a se exilar pelos seus pensamentos e posturas.

“Isso é a genialidade do Aldir! Simplesmente pega aquele tema chapliniano, projeta numa situação do Brasil naquele momento, nós estamos numa ditadura militar no ano de 1978 e, então, ele começa — através do Chaplin — a contar a realidade brasileira naquele momento”, celebra Bosco.

Antecipando-se à Lei da Anistia, sancionada pelo presidente João Batista Figueiredo em 28 de agosto de 1979, a gravação de Elis se torna a trilha sonora das mobilizações sociais pelo retorno de brasileiros que estavam exilados, como Betinho, o irmão de Henfil citado na composição.

“A Elis não era uma extraterrestre que chegou e viu uma situação e lançou uma música, ela fazia parte daquela população que estava profundamente insatisfeita. [...] João, o Aldir e ela, os arranjos do César Mariano e tudo, a gravação, eles capturaram o que as pessoas estavam sentindo. Se existe o inconsciente coletivo, naquele instante, ele foi lido e foi traduzido”, comenta o filho da artista e produtor musical, João Marcello Bôscoli.

Ameaça à democracia mantém canção atual Para Bôscolli, toda vez que essa música volta a ficar atual serve como alerta para a sociedade e como motivação para lutar pela democracia. “Quando você olha a música pelo que ela se propõe a denunciar, a falar, a tratar, toda vez que ela começa a fazer sentido, é um alarme pra dizer que a gente está numa situação estranha. Se ela está fazendo sentido, vamos observar o que está acontecendo na sociedade, né?”.

O repórter do Segundo Caderno do jornal O Globo e escritor, Silvio Essinger, concorda e completa: “O Bêbado e a Equilibrista serve para mostrar também que, quando muitas pessoas se juntam para defender esses ideais, não tem tempo ruim que dure para sempre”.

Ainda no áudio, João Bosco revela que nos shows, ao tocar os primeiros acordes da canção, o público se emociona e canta: “como se todos tivessem uma razão em comum por estar ali”. Ele também percebe que, em alguns momentos, a música volta a ganhar uma atualidade preocupante.

“Vivemos numa democracia, mas é uma democracia que tem que ficar muito atento e que inspira cuidados […]. Essa música está sempre sendo chamada para fazer parte desse dia a dia, dessa cantoria, desse show, enfim. Infelizmente ela está sempre falando de coisas que se repetem”, constata. 

Jul 27, 202308:15
Esquecidos no ensino fundamental II: documentário revela negligência na educação

Esquecidos no ensino fundamental II: documentário revela negligência na educação

Esquecidos, ignorados, negligenciados. Essas palavras são usadas como sinônimos do ensino fundamental II no documentário produzido pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (Lepes) da USP-Ribeirão Preto. No filme e em outras publicações que compõem o site esquecidos.com, o grupo divide as pesquisas que desenvolve e que demonstram que os anos finais do ensino fundamental são uma etapa abandonada pela educação brasileira.

“Não é um problema simples de resolver, então ele (o documentário) tenta trazer os aspectos pedagógicos, políticos, sociais, econômicos, relacionais, estruturais, histórico também, para não tentar explicar ou solucionar o problema, mas pra começar uma discussão”, afirma uma das realizadoras do de “Esquecidos — crise nos anos finais do ensino fundamental”, a pedagoga e produtora audiovisual Aline Carvalho.

Carvalho estudou na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Neuza Michelutti Marzola e foi aluna da atual diretora do estabelecimento de ensino, Carla Lopes, uma das entrevistadas do filme. Para o podcast do Instituto Claro, a também pedagoga explica alguns dos motivos que geram a falta de um olhar mais dedicado aos anos finais do ensino fundamental.

“Eles são considerados esquecidos porque de todas as políticas públicas que existem na educação, a maioria delas é voltada principalmente para a alfabetização, que está na faixa entre o primeiro e quinto ano, mais especificamente os primeiros e segundos, e depois a gente vê alguma coisa mais relativa ao ensino médio. E, no meio do caminho, eles são de verdade esquecidos. Não há no Brasil grandes políticas públicas voltadas para esse público”, constata.

Aspectos emocionais também são esquecidos

A equipe do Lepes coletou depoimentos dos diferentes atores envolvidos no processo educacional, por meio de uma série de entrevistas com professoras e professores, estudantes, responsáveis pela gestão, direção e especialistas de escolas públicas. O resultado retrata o pensar e o sentir de abandono de quem tem relação com essa fase do ensino.

“Esse aluno está numa transição, em que ele não é criança, não é adolescente. Ele não sabe muito bem como ele se vê dentro desse mundo, por conta dessa transição. E, muitas das vezes, a gente não tem uma delicadeza dentro do sistema educacional que existe hoje para a escola ser esse ambiente de olhar, de acolher esse indivíduo”, avalia outra pesquisadora do Lepes, Bianca Chagas da Silva.

“E nós temos alunos que sofrem de ansiedade, crise de pânico, depressão, muitos estão em situação de vulnerabilidade, outros já estão em contato com a questão do tráfico de drogas. Então é uma didática de aula que não dialoga com os meninos, né? E aí eles ficam mesmo perdidos dentro do nosso espaço”, conclui Lopes.

Jul 26, 202308:09
Itamar Vieira Junior: por que é preciso lutar contra o colonialismo em pleno século XXI?

Itamar Vieira Junior: por que é preciso lutar contra o colonialismo em pleno século XXI?

A herança colonial corresponde às estruturas criadas no momento de grandes navegações e invasões. Essa perspectiva de que há pessoas que têm mais valor do que outras — e, também, sobre os não-humanos — permanece naturalizada em muitas sociedades e afeta vidas e relações ainda hoje, não apenas no Brasil, mas em outros territórios, como os continentes africanos e asiáticos. 

“Ali se inaugurou uma nova forma de viver se formos comparar com a maneira anterior; de viver e de se relacionar em sociedade. O Malcom Ferdinand que diz que naquele momento das grandes navegações e das invasões desses territórios, se inaugurou uma forma de habitar que a gente ainda não teve oportunidade de desconstruir”, afirma o escritor, geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela Universidade Federal da Bahia, Itamar Vieira Junior. 

Desde o premiado romance de estreia “Torto Arado”, o escritor obtém destaque por tratar do universo rural brasileiro e da luta de personagens femininas contra a violência que caracteriza a sociedade patriarcal. Em “Salvar o Fogo”, lançado em abril deste ano, vai além e traz como pano de fundo a insubordinação social e os traços da vida emocional e cultural do povo brasileiro.

“Há muitas pessoas que estão contando suas histórias a partir de suas perspectivas, não para dividir, mas para agregar, para mostrar que há uma maneira diferente de viver. Com certeza, menos predatória, menos tóxica do que as estruturas que nos moldam e conformam hoje”, diz.

Luta contracolonial

A obra do escritor denuncia os traumas do colonialismo que permanecem vivos e são facilmente percebidos no dia a dia. “O Brasil foi um país onde o sistema escravagista perdurou por mais de três séculos e, naquele momento, se inaugurou um ranking de vida e valor que ainda não foi derrubado. Na nossa sociedade há vidas que valem mais, há vidas que valem menos, por esse parâmetro. Então, se a gente almeja um país para todos, uma democracia para todos, a gente precisa conhecer para desconstruir as estruturas coloniais que ainda permanecem entre nós”.

Diante desses fantasmas do passado que ainda assombram nosso cotidiano, Itamar defende que é preciso que se busque o conhecimento da nossa realidade e de outras formas de se habitar o mundo e que isso deve gerar mais do que uma atitude anticolonial. 

“Você pode se posicionar ‘anti’, mas não necessariamente você estará engajado nessa luta. No contracolonial, a palavra já nos coloca numa posição contrária, trazendo também em nosso pensamento uma solução para isso: de que maneira vamos reagir a tudo isso? O que virá depois do colonialismo, né? O que são essas perspectivas contracoloniais? Significa um movimento que está levando um pensamento outro para poder desconstruir tudo isso”, conclui.

Jul 19, 202308:40
Método científico de Leonardo Da Vinci é a base da ciência até hoje

Método científico de Leonardo Da Vinci é a base da ciência até hoje

O método científico de Leonardo Da Vinci é composto pelo uso da experiência para comprovar uma ideia. Essa é a base da ciência até hoje.

“Muito do que se faz atualmente é também com base experimental. Os estudiosos, como eu, têm tido a convicção de que você só faz uma experiência — seja em laboratório, seja no campo — se já tem algo em mente. Ou seja, primeiro vem a ideia e, depois, a execução ou diversas execuções. O Leonardo é um bom exemplo disso. Ele tinha a intuição do que ele queria demonstrar e aí partia para a experiência. Então, ciências experimentais acabam usando esse método”, define o professor titular de história da ciência da Universidade de São Paulo (USP), Gildo Magalhães. 

Da Vinci (1452 – 1519) é tido como o gênio do Renascimento por ter se destacado em estudos de diversas áreas. Além do artista que ficou conhecido por um dos quadros mais famosos do mundo, a pintura de Monalisa, foi também engenheiro, arquiteto, músico e, entre outras atividades, um dos grandes idealizadores de máquinas modernas. Tudo isso, apesar de não ser propriamente um matemático. 

“Ele mesmo não tinha essa formação matemática, ele tinha muito mais era uma intuição geométrica dos estudos que  fazia envolvendo a parte de dinâmica aérea e as pesquisas dele sobre o voo”, exemplifica Magalhães.

Da Vinci na sala de aula No podcast, além de analisar como os cadernos de desenho e a obra artística do italiano contribuíram para a ciência, o diretor do Centro Interunidades de História da Ciência da USP também apresenta ideias que podem inspirar atividades na sala de aula. 

No áudio, você acompanha também a participação do professor do Laboratório de Criação Visual da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Marcos Danhoni. Ele traz uma proposta de abordagem interdisciplinar dos muitos mundos de Leonardo Da Vinci e dá exemplos de como trabalhar as diferentes facetas do artista e cientista na escola. 

“A gente desenvolve trabalhos como a construção de asas, tudo em pequena escala; a construção de máquinas e, também, o estudo anatômico, envolvendo aí os alunos seja de biologia, seja de artes visuais”, explica.

Atividades aliando o raciocínio de Leonardo da Vinci a partir de desenhos e pinturas permitem a estudantes a percepção de uma ciência empírica, englobando observação da natureza, raciocínio lógico e intuição matemática, características dos principais métodos científicos até hoje.

Jul 18, 202307:59
Fuvest 2024: 'Nós Matamos o Cão Tinhoso!' e a luta pela independência moçambicana

Fuvest 2024: 'Nós Matamos o Cão Tinhoso!' e a luta pela independência moçambicana

O ano de 1964, em Moçambique, marca o início do movimento anticolonialista contra a opressão portuguesa. É este o contexto que está na origem do livro “Nós Matamos o Cão Tinhoso!”, do escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana. A obra, que entrou para a lista da Fuvest 2024, reúne contos sobre a luta do povo moçambicano pela independência do país.

“Luís Bernardo Honwana fez parte de um movimento de libertação de Moçambique e, então, vai militar dentro desse esforço de libertação de Portugal, que enfim será conseguido nos anos de 1970. O livro dele é publicado em 1964, no fervor da batalha anticolonialista, pelo menos no início desse movimento que dez anos depois resultaria na independência de Moçambique”, relata o professor de literatura do Sistema Anglo de Ensino e mestre em teoria literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fernando Marcílio. 

A obra é considerada um marco da literatura africana por conclamar o povo moçambicano a lutar pela liberdade e autonomia do país. Os contos de Honwana expressam a realidade vivida durante a colonização portuguesa, como forma de denúncia. 

“O livro tem uma dimensão simbólica muito importante e, embora seja composto de várias narrativas, essa linha simbólica é a mesma: é o chamamento para luta, convocação para luta de resistência contra a presença estrangeira”, diz Marcílio. 

No áudio, o professor traz possíveis indicações do que a Fuvest deve valorizar em seu vestibular em relação a “Nós Matamos o Cão Tinhoso!”. Uma das possibilidades é a relação entre a narrativa dos contos de Honwana e de outros livros da lista, como o “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles. 

“Essencialmente, esse livro fala da luta pela liberdade e luta pela liberdade não tem data, não tem hora, não tem lugar. Ela sempre existe. A mesma coisa acontece com o “Romanceiro da Inconfidência”. Também é um livro que trata de um episódio específico, mas que trata, na verdade, da ambição e da luta pela liberdade”, explica. 

Neste episódio do Livro Aberto, Marcílio lê o trecho de um dos contos da obra que demonstra a valorização da cultura oral por meio de uma linguagem coloquial e repleta de regionalismo, como forma de resgate da identidade do povo moçambicano. 

Jul 11, 202307:60
Quais os obstáculos para a representatividade LGBTQIA+ na política?

Quais os obstáculos para a representatividade LGBTQIA+ na política?

O Brasil lidera o ranking dos países que mais matam pessoas LGBTQIA+ no mundo. Em 2022, 256 foram vítimas de morte violenta. No país, ocorre um falecimento dessa população a cada 34 horas.

Tais dados se baseiam em notícias publicadas nos meios de comunicação, coletados e analisados pela organização não governamental Grupo Gay da Bahia (GGB) há 43 anos. É a partir desse quadro que o grupo cobra por políticas públicas que erradiquem a violência extrema. 

Um dos pontos capazes de avançar — ainda que com muita dificuldade — em pautas importantes como essa é obter uma maior representação política, ainda falha quando o assunto é diversidade.

Em setembro de 2022, a “Pesquisa do Orgulho”, realizada pelo Datafolha, apontou que 9,3% da população brasileira se autodeclaram LGBTQIA+, correspondendo a 15 milhões e meio de pessoas. Por outro lado, o Vote LGBT, organização que atua desde 2014 para aumentar a representatividade do grupo em todos os espaços da sociedade, principalmente na política, indica que a comunidade LGBTQIA+ representa apenas 0,16% da classe política do Brasil. 

“Quando pensamos em sub-representatividade, associamos isso ao fato de sermos o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo, sermos sub-representados na indústria, no entretenimento, no audiovisual; e que, inevitavelmente, refletem num ambiente que já é hostil a todo corpo dissidente, né? A política hoje ainda é dominada por homens brancos, cisgêneros, heterossexuais e privilegiados, que não representam o Brasil em sua essência”, analisa o roteirista e diretor do documentário “Corpolítica”, Pedro Henrique França. 

No áudio, além de entrevista com França, você acompanha trechos de depoimentos do filme com a primeira deputada trans eleita no Brasil (em 2028), Erica Malunguinho, e com a jovem poeta que foi candidata à vereadora pelo Rio de Janeiro, Andréa Bak. Elas se posicionam sobre a importância de que mais espaços sejam ocupados por representantes LGBTQIA+. “Nós estamos lutando por direitos civis ainda, principalmente a população T: construção de cidadania básica, direito ao nome, acessar banheiro”, constata Malunguinho. 

Para a transpóloga (antropóloga trans) Renata Carvalho, quando o espaço político é preenchido coletivamente, a violência é melhor enfrentada. “Sempre trago um exemplo de um armazém com mil pessoas. Se entrar uma pessoa trans, ela continuará sendo apontada, ninguém vai querer falar com ela. Se ocuparmos esse mesmo armazém com mil pessoas, mas com duzentas pessoas trans, é mais fácil de naturalizarmos a nossa presença e não ser exotificada”, explica.

Jun 21, 202307:57
Independência da Bahia e o papel do povo na construção da liberdade

Independência da Bahia e o papel do povo na construção da liberdade

Dois de julho marca um dos capítulos mais importantes da luta contra o domínio de Portugal sobre o Brasil. A data é lembrada pela expulsão dos colonizadores que se mantinham em Salvador, ocorrida de fevereiro de 1822 a julho de 1823. Por isso, tradicionalmente, festas populares em diferentes regiões do estado comemoram o Dia da Independência da Bahia. 

Segundo o professor de história da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Sérgio Guerra Filho, o mais correto é chamar de Independência do Brasil na Bahia. “Primeiro, a Bahia não ficou independente, não formou um estado autônomo a partir da guerra. Segundo, […] desde os primeiros momentos dessa guerra, as autoridades dessa Bahia que se rebelou contra a presença portuguesa na capital — que chamamos hoje de Salvador — já se articulou com D. Pedro, com o Rio de Janeiro, com outras províncias, para constituir a unidade territorial da América portuguesa”, elucida.

No áudio, ele conta detalhes dos conflitos e como essas lutas entre dois grupos políticos, durante mais de um ano, resultaram na vitória dos defensores da independência. 

“No começo de julho, é organizada uma retirada de grande escala: todo o exército português evadiu em embarcações, mas também muitos civis — portugueses e suas famílias. Portanto, essa retirada militar no dia dois de julho, de Salvador, tem uma grande proporção: acabou com a libertação da cidade, que poderá voltar a ser a capital da Província da Bahia, província essa plenamente integrada ao Império do Brasil a partir daí”.

Guerra Filho defende que a data deve ter uma dimensão para além do seu aspecto regional. “É possível que essa guerra tenha definido a integridade do território da América portuguesa como um império do Brasil, coisa que não aconteceu em outras independências”, afirma. Para ele, estudar esse e outros conflitos que acontecem após o episódio que ficou registrado como “Grito da Independência”, em sete de setembro de 1822, é importante para que se entenda que a independência não foi um ato pacífico e só se efetivou algum tempo depois.  

Participação popular

Sérgio Guerra Filho ressalta como foi fundamental a participação intensa da população comum. Para ele, sem o envolvimento de populares, o dois de julho não seria possível. “Há registros de que inclusive escravizados fugiram para se inscrever (no exército) e supostamente ganhar sua liberdade; libertos, pobres livres, mulheres como Maria Felipa e Maria Quitéria, pessoas das classes populares que lutaram nessa guerra”. 

Apesar da grande participação popular, o professor relata que, ao fim da guerra no solo baiano, o país permanece escravocrata e mantém os privilégios aos grandes proprietários e aos oficiais que lideraram o movimento. No entanto, destaca o fato de festas populares que marcam o feriado na região valorizarem figuras do povo. “Hoje você tem grandes festas — a principal delas é em Salvador, mas não é a única — onde se desfila com caboclos e caboclas, imagens reverenciadas, que representam a participação popular e a vitória desse povo contra a tirania. Ali tem uma lição de que a gente só conquista direitos, liberdades e avanços sociais com a mobilização e com a luta”, conclui.


Jun 20, 202307:53