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TUTAMÉIA TV

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By Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena

Serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, jornalistas desde 1976, tendo atuado na imprensa sindical e de resistência à ditadura militar assim como na chamada "grande imprensa", com passagens por Zero Hora, Gazeta Mercantil e Folha de S. Paulo, onde Eleonora atuou por mais de trinta anos, tendo, por mais de dez anos, comandado a Redação como editora-executiva.
Vídeos de entrevistas transmitidas originalmente ao vivo, em sua maioria, com intelectuais, políticos, artistas e esportistas, pensadores do Brasil e do mundo.
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Mundo, com Gilberto Maringoni – Redemoinho, 16.11.22

TUTAMÉIA TVNov 17, 2022

00:00
15:23
O que está por trás dos ataques de Musk ao Brasil -- Angela Carrato, Redemoinho, 11.04.24

O que está por trás dos ataques de Musk ao Brasil -- Angela Carrato, Redemoinho, 11.04.24

Jornalista e doutora em comunicação, professora da UFMG analisa a situação política do país. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 12, 202448:38
Participar do movimento estudantil era resposta à violência, diz Lúcia Murat

Participar do movimento estudantil era resposta à violência, diz Lúcia Murat

“Quando entrei na universidade, em 67, me deparo com a violência. Passeatas muito reprimidas. Você passa a participar do movimento estudantil muito em resposta à violência que você está vendo. Era inevitável. Uma pessoa de 17 anos que tem um mínimo de sensibilidade diante daquela violência que ocorria, não podia não se juntar à resistência, que era o movimento estudantil naquele momento”. É o que afirma a cineasta Lúcia Murat, 75, ao TUTAMÉIA. Liderança estudantil no Rio de Janeiro e integrante da luta armada, ela foi presa e torturada pela ditadura militar. Nesta entrevista, gravada em 21 de fevereiro de 2024, ela fala sobre sua trajetória, presente em vários filmes que dirigiu, como “Que bom te ver viva” e “A memória que me contam”. Lúcia conta que, quando do golpe, vivenciou o sufoco que sua família sentia. “Meu pai era uma pessoa progressista, um médico. Alguns amigos dele foram presos. Ficamos com medo em casa”, relata Tempos depois, um amigo vizinho lhe contou que o apartamento de Lúcia foi o único que não exibiu bandeirinha a favor do golpe. “A gente morava em Copacabana. Uma boa parte da classe média apoiou o golpe”, afirma. Dos primeiros anos da ditadura, Lúcia lembra da importância da resistência cultural: “Ver um show do Opinião, ver a Nara, a Bethânia. O Cinema Novo. Isso ficou muito mercado. A resistência cultural à ditadura ficou muito presente na memória daquela jovem. Um show do Opinião era uma coisa linda! Filas e filas! E você ia várias vezes. Era uma maneira de você se sentir parte da luta pela democracia”, afirma. Nesse processo, recorda, ganhou força a luta contra o conservadorismo: “A gente lia Simone de Beauvoir, tinha a revolução sexual, estávamos rompendo com tudo. 68 veio arrebentando. Era uma sensação de liberdade muito grande, apesar da repressão, de apanhar e de ter sido presa. O Ato 5 acabou com tudo”. Ela segue: “A gente estava discutindo a luta armada, porque já esperávamos um endurecimento. Com o AI-5, a gente passa para a ação. Eu fiquei o ano de 69 todo praticamente fazendo ações junto à área operária, em fábricas. Você distribuía panfletos, fazia jornal, buscava contatos”. Presa e torturada, ela conta de como chegou numa audiência: “Eu não andava, tinha a perna torta, tudo aberto por causa do pau de arara. Tinha 21 anos e estava totalmente destruída. Eles não tiveram como olhar; baixaram a cabeça”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 04, 202449:16
“A resistência em 1961 nos encheu de esperança; 64 nos pega de calças curtas”, diz Jair Krischke

“A resistência em 1961 nos encheu de esperança; 64 nos pega de calças curtas”, diz Jair Krischke

Quando ouviu pelo rádio a notícia do deslocamento de tropas golpistas saindo de Juiz de Fora, Jair Krischke correu para o centro de Porto Alegre. Encontrou um companheiro bancário com uma bandeira do PTB na esquina da rua da Praia com a rua Uruguai. Desesperado, ele falava em resistência. Mas não havia nada. “Onde estavam os companheiros? A gente não encontrava, era um ou outro. E sem noção do que fazer. Foi um momento muito difícil”, lembra o historiador Krischke ao TUTAMÉIA. Nascido em 1938, ele é fundador e presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, uma organização que contabiliza 2 mil pessoas salvas de ditaduras no Cone Sul. A desarticulação que Krischke constatou naquele 31 de março contrastava com a mobilização na campanha da Legalidade, que, sob a liderança de Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, bloqueara o golpe que queria impedir a posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros. No mesmo centro de Porto Alegre, na virada de agosto para setembro de 1961, a mobilização popular enchera as ruas e tomara a praça da Matriz, na frente do Palácio Piratini. Krischke estivera lá. Nesta entrevista, ele narra suas andanças entre os arredores do Piratini ao prédio conhecido como Mata-borrão, onde as pessoas se inscreviam para lutar em defesa da posse de Jango, em 1961. Viu, por exemplo, trabalhadores da Carris, a empresa de bondes, marchando rumo ao alistamento. “Talvez essa resistência vitoriosa tenha criado em todos nós a certeza de que não haveria o golpe”, avalia ele 60 anos depois. E completa: . “A resistência de Brizola, mobilizando a sociedade brasileira, nos encheu de esperança. 64 nos pega de calças curtas”. Na conversa, gravada em 8 de fevereiro de 2024, ele descreve a história do movimento e relata casos em que sua atuação foi fundamental para garantir vidas. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 04, 202401:21:19
Ver as fotos de Gregório Bezerra sendo arrastado me fez querer ser comunista, diz Fon

Ver as fotos de Gregório Bezerra sendo arrastado me fez querer ser comunista, diz Fon

Aton Fon tinha 16 anos quando veio o golpe. Dias antes, em 19 de março, ele segurou uma das faixas da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, organizada pela Liga das Senhoras Católicas e liderada por um padre norte-americano. Estava na Praça da República, em São Paulo, quando alguém lhe pediu para ajudar na manifestação. Caminhou um pouco com o grupo e foi para casa. “Eu não tinha nenhum tipo de militância e tive aquele tipo de participação”, lembra ele. No primeiro de abril de 64, da janela de seu apartamento, na avenida São João, ele viu uma pequena passeata de estudantes. “Jango no poder ou o sangue vai correr”, gritavam eles. O ponto de virada de Aton, ocorreria alguns dias depois. Nas suas palavras: “Eu me deparo com o que se tornou o meu futuro, a porta que se abriu para o meu futuro. Naquele tempo, jornais e revistas eram pendurados nas bancas. Vejo na banca de jornal perto de casa a revista O Cruzeiro aberta com fotografias de um senhor. A notícia dizia que aquele velho tinha sido preso no interior de Pernambuco e tinha sido arrastado. As fotografias estavam mostrando o dia em que ele tinha sido arrastado pelas ruas de Recife com as mãos amarradas a um para-choque de um jipe do exército. E era o grande comunista! A grande fera que estava sendo mostrada! Eu não esqueço o nome, que eu nunca tinha ouvido falar. Conheci o nome de Gregório Bezerra e eu me espantei com duas coisas. Eu me espantei com a dignidade dele, andando. Sabe quando a gente percebe quando aquela pessoa não está rendida? Aquela pessoa está confiante, orgulhosa, ela não se submeteu. Também me impactou um outro fato. Eu via nos filmes de guerra, de bangue-bangue, sempre os bandidos arrastando os mocinhos amarados no cavalo. Então, quem arrasta o mocinho é o bandido. Então a gente pode saber quem é bandido e quem é mocinho nessas fotografias. Como ali dizia que aquele era o perigoso comunista Gregório Bezerra, naquele momento eu decidi que eu queria ser comunista. Não sabia o que era ser comunista. Mas, para mim, era importante ser comunista porque Gregório Bezerra era comunista”. Assim, o advogado Aton Fon começa a narrativa ao TUTAMÉIA sobre a sua trajetória. Militante de direitos humanos, ele integra a organização política Consulta Popular. Filho de um chinês e uma baiana, ele chegou a São Paulo com a família em 1954. O pai trabalhava com pastelaria; a mãe era costureira. Nesta entrevista, ele rememora fragmentos de sua militância, analisa a resistência à ditadura militar e avalia a situação atual. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 04, 202401:46:52
Golpe de 64 e golpe contra Dilma foram construídos com afinco, aponta ex-ministro Roberto Amaral

Golpe de 64 e golpe contra Dilma foram construídos com afinco, aponta ex-ministro Roberto Amaral

“O golpe de Estado de 64 não foi um dia de sol, um céu estrelado em pleno inverno. Foi uma coisa construída, trabalhada com afinco, como foi trabalhado o processo do golpe que destitui Dilma Rousseff, eleva Michel Temer, torna inelegível o presidente Lula e torna Lula um presidiário”. A afirmação é de Roberto Amaral, 84, ao TUTAMÉIA. Jornalista, ministro da Ciência e Tecnologia no primeiro governo Lula, ele avalia que o golpe que derrubou Dilma fez parte de um processo “de fascistização, de destruição do país, das estruturas democráticas, das instituições”. E alerta: “Precisamos aproveitar esse primeiro de abril refletindo sobre 1964 não como fato atípico. 64 foi o coroamento do processo de direitização das Forças Armadas brasileiras, que passaram a intervir no processo histórico brasileiro”. Nesta entrevista, Amaral fala de sua militância política na juventude, da resistência à ditadura militar, de sua adesão ao Partido Comunista e, depois, ao PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário). Nascido numa família tradicional do Ceará _de “latifundiários decadentes e reacionários”, como ele define”, Amaral transitou do catolicismo para as ideias comunistas e marxistas. A opção pela esquerda aconteceu quando começou a frequentar a faculdade de direito e entrou em contato com os chamados autores nordestinos do ciclo das secas: Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida. No dia do golpe de 64, ele era estudante de direito e assessorava o então governador do Estado do Ceará Virgílio Távora. Foi Távora que o alertou sobre o golpe, ainda no dia 31 de março, orientando-o a se cuidar e avisar os seus amigos. “Saí do palácio e fui contatar os companheiros, não só do partido, mas da esquerda. A todos eu surpreendi. Ninguém acreditou na mensagem que o governador mandava. Pela manhã, chego na faculdade e meus amigos estavam comemorando o levante do general Mourão. Diziam eles, em festa, que estava ocorrendo o que o sistema queria. Os golpistas tinham botado a cabeça do lado de fora, para que o general Assis Brasil cortasse o pescoço”, conta. E resume: “Trabalhávamos com o máximo de ignorância possível dos fatos. O que nos caracterizava era desorganização e uma carência de informação de dados. O que se chamava de esquerda no Ceará se dispersou no Primeiro de abril”. Nesta conversa, gravada em 20 de fevereiro de 2024, Amaral reconstitui os seus passos naqueles dias e meses e lembra das avaliações políticas da época: “O comício do dia 13 de março nos enganou muito. No dia 17 de março, fomos homenagear o PCB comemorar no nono andar da ABI. Prestes fez bela conferência e defendeu: 1. Não havia a menor possibilidade de golpe no Brasil; 2. As Forças Armadas vinham das classes populares; 3. As Forças Armadas eram legalistas. Isso estufou os nossos pulmões, saímos felizes, porque íamos ao poder sem golpe de estado. Dia 18 de março, Prestes repete o discurso em São Paulo, numa grande concentração no Pacaembu. No dia 1º de abril ele estava fugindo. Isso mostra que não estávamos preparados nem para dar golpe nem para resistir ao golpe”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 04, 202401:31:30
A mortandade dos índios foi feita de muitas formas, aponta indigenista Egydio Schwade
Apr 04, 202401:17:29
“O choque elétrico é inenarrável; não é para matar, é para estraçalhar”, lembra Flávio Tavares

“O choque elétrico é inenarrável; não é para matar, é para estraçalhar”, lembra Flávio Tavares

O jornalista Flávio Tavares foi preso três vezes durante a ditadura militar brasileira. “A primeira vez fui preso logo depois do golpe, em 6 de maio. Fiquei três dias preso, fui bem tratado e houve um pedido de desculpas pela Voz do Brasil, pelo ‘lamentável equívoco’. Depois fui preso pela ‘guerrilha de Uberlândia’, que nunca existiu. Tinha estado em Uberlândia para falar com um grupo que queria fazer luta armada. Depois, fui preso em 69, no Rio. Ao contrário das outras vezes, fui maltratado, sofri choques elétricos brutais. O choque elétrico é inenarrável. Até nos olhos, nos testículos. O choque elétrico não é para matar, é para estraçalhar a vítima”, afirma ao TUTAMÉIA. Aos 90 anos, ele diz que suas prisões refletem o endurecimento do regime, o avanço da ditadura militar. “De um modo geral, os golpes militares são duros no início e depois se abrandam. No Brasil, foi ao contrário”. Na última prisão no Brasil, Tavares lembra o que os seus torturadores lhe diziam: “Agora não há Supremo Tribunal Federal para lhe dar um habeas corpus, como tinha sido na vez anterior. Agora você vai ficar 30 anos preso”. Ele ficou 30 dias preso: “No trigésimo dia sequestram o embaixador norte-americano, e eu sou um dos 15 presos políticos trocados pelo embaixador”. Então comentarista político da Última Hora, fundada por Samuel Wainer, Tavares acompanhou em Brasília a ignóbil sessão do Congresso que declarou vaga a presidência da República enquanto João Goulart ainda estava no Brasil, na madrugada do dia 2 de abril. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202401:24:10
“A fábrica da aeronáutica onde eu trabalhava virou uma prisão”, lembra Salgado

“A fábrica da aeronáutica onde eu trabalhava virou uma prisão”, lembra Salgado

Em primeiro de abril de 1964, João Lopes Salgado viu o fogo tomando conta da sede da UNE no Flamengo. O incêndio criminoso era obra do Comando de Caça aos Comunistas. Atônito, saltou do ônibus. Sentiu uma dor na alma, conta ele, que voltava do trabalho na Fábrica da Aeronáutica do Galeão, onde eram produzidos aviões de treinamento para os cadetes. Sargento da Aeronáutica, Salgado era eletricista de aeronave e se preparava para entrar na faculdade de medicina. “No dia seguinte, o ambiente na fábrica tinha mudado completamente. Alguns dos funcionários da seção que eu coordenava já estavam presos, outros saíram. Nossa unidade virou uma prisão para os operários da própria fábrica, os mais ativos na militância. Dias depois, a nossa unidade virou uma prisão para os sargentos e praças. Fizeram várias celas. Nós, os militares, ficamos aquartelados e ficamos sendo carcereiros de nossos colegas e amigos”, recorda Salgado ao TUTAMÉIA. Nascido em Abre Campo (MG) em 1941, filho de pequenos camponeses, ele lembra da infância cheia de privações para aquela família com dez crianças. “Não se passava fome. Mas sal era um negócio difícil. Macarrão só entrava no dia do Natal”. No Rio de Janeiro, passou a ser um admirador das propostas de João Goulart. “Eu era um nacionalista. O militar daquela época, mesmo os menos conscientes, tinham um ideal do nacionalismo”, afirma. “Naquele momento, eu não tinha nenhuma dúvida --e não tenho até hoje. Não acredito em revolução pacífica. Pode ser uma etapa da revolução. Mas, naquele momento, o que se apresentava era um engajamento revolucionário de resistência armada, e eu entrei com muita convicção nessa jornada”. Antes dessa adesão, ainda nas lutas estudantis, já havia enfrentado o tiroteio da repressão. Foi dia da queda do Congresso da UNE em Ibiúna, 12 de outubro de 1968. “Fizemos uma grande mobilização em apoio ao congresso, contra a prisão dos estudantes. De manhã, passamos três filmes no nosso cineclube. Depois, fechamos a avenida 28 de Setembro, em frente ao hospital universitário Pedro Ernesto. Era a avenida mais movimentada da vila Isabel”. “Apareceram três ou quatro camburões do DOPS soltando bomba. Os estudantes foram para cima dos policiais, que estavam armados. Chegaram outros camburões. Chegaram atirando e feriram uns sete ou oito estudantes. Um levou um tiro na cabeça: Luiz Paulo Cruz Nunes, do segundo ano de medicina, morreu”. A situação mudou totalmente. A região foi cercada. Vieram o reitor e o comandante da Polícia Militar para encontrar com Salgado. “Fui muito emocionado, chorando, eu me sentia meio culpado. Adentra o comandante da Polícia Militar e o reitor João Lira Filho, irmão do Lira Tavares. O comandante estende a mão e diz que está em missão de paz. Num impulso, respondi: ‘Eu não aperto mão de opressor do povo’. O coronel ficou branco, amarelo, não sabia o que fazer. Os estudantes em volta aplaudiram. Ele baixou a mão, mas a vontade dele era me dar uns pescoções”. Sobre o convívio com Lamarca, fala Salgado: “Era uma pessoa muito comprometida, aquela pessoa que faz o que fala. Um homem muito sensível. A ditadura fez tudo para poder macular a imagem de uma pessoa íntegra, sensível, de bom coração. Que faz as coisas porque acredita nas coisas que faz. E faz sempre do lado bom. Capaz de reconhecer os erros. Uma pessoa doce, sensível e íntegra”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que completa sessenta anos. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202401:39:27
Trabalhadores foram grandes vítimas da ditadura, aponta Djalma Bom

Trabalhadores foram grandes vítimas da ditadura, aponta Djalma Bom

Djalma Bom era operário na Mercedes-Benz quando ocorreu o golpe militar. Só ficou sabendo da derrubada de João Goulart quando chegou em casa, ouvindo o noticiário pelo rádio. Nos anos seguintes, passou a participar do sindicato dos metalúrgicos do ABC e, a convite de Lula, integrou a diretoria que tomou posse em 19 de abril de 1975, encabeçada pelo agora presidente da República pela terceira vez. Com Lula, participou da organização das greves que mudaram a face política do país a partir do final dos anos 1970. Com Lula, foi perseguido, preso e enquadrado na famigerada lei de segurança nacional da ditadura. Depois, foi deputado estadual e federal. Aos 84 anos, Djalma Bom fala ao TUTAMÉIA sobre a sua trajetória e a ação da ditadura na repressão aos movimentos dos trabalhadores. “O movimento sindical e a classe trabalhadora foram também grandes vítimas dos crimes praticados pela ditadura militar. De 1964 a 1970 foram mais de 500 intervenções no movimento sindical. Somente o sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema sofreu quatro intervenções: em 1964, em 1979, em 1980 e 1983. Só por aí dá para avaliar a perseguição que sofreram a classe trabalhadora e o movimento sindical pela ditadura militar. O resultado dessas intervenções foi a cassação da diretoria, prisões e enquadramento na lei de segurança nacional”. Filho de camponeses do Vale do Jequitinhonha, em 1949 Bom veio com a família num caminhão para o bairro de São João Clímaco, em São Paulo. Tinha dez anos. Não sabia o que era pão ou açúcar. A vida era muito pobre em Medina. O primeiro par de calçados, uma alpargatas, ele lembra que só recebeu em 1948. Em São Paulo, logo começou a trabalhar como entregador de marmitas. Nesta entrevista ao TUTAMÉIA, gravada no dia 14 de fevereiro de 2024, Bom fala das greves de 1978 (que durou 9 dias), de 1979 (15 dias), de 1980 (41 dias) e da greve geral de 1983. Trata das ações de empresas, como a Volkswagen e a Mercedes Benz, em apoio à ditadura na repressão aos trabalhadores. “Lula, Devanir e eu fomos presos no Dops em 19 de abril de 1980. Ficamos presos por 31 dias. No Dops a gente reconheceu alguns agentes do Dops infiltrados no nosso movimento, na comissão de mobilização, que tinha 460 membros. Como se infiltraram? A Volkswagen, em acordo com a ditadura militar, esquentava a carteira profissional dos agentes do Dops. Daí, eles se associavam ao sindicato”. Analisando as lições sobre o período da ditadura, Bom afirma: “Sessenta anos depois, o que estamos percebendo outra vez é uma nova tentativa de golpe no nosso país. O golpismo está dentro do DNA das Forças Armadas. A minha luta é para a transformação da sociedade. Queremos uma sociedade socialista, igualitária. Nunca é tarde para lutar. Não podemos deixar de continuar lutando. Enquanto houver injustiça e exploração temos que continuar lutando”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Janio de Freitas, Roberto Requião, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202401:19:28
Os militares golpistas deram um tombo nos políticos mais experientes do pós-guerra, diz Alencastro

Os militares golpistas deram um tombo nos políticos mais experientes do pós-guerra, diz Alencastro

“Quando a notícia chegou, era uma coisa muito surrealista. A gente estava esperando enfrentamento militar e, de repente, tem uma manobra no Congresso. Começaram a chegar pelo eixo central os soldados de Minas. Mas eles vêm em ônibus municipais confiscados ou requisitados. Vinham com o fuzil entre as pernas muito mal acomodados ali naqueles ônibus urbanos. Dava um sentimento um pouco de gozação, de ridículo”. Memórias que o historiador Luiz Felipe de Alencastro traz ao TUTAMÉIA sobre o dia do golpe militar em 1964. Então estudante da recém-criada UnB, ele fala das disputas políticas daquele momento, do período de exílio e da conjuntura atual: “Acho que a gente está blindado contra esses desastres todos. Porque a sociedade brasileira é muito forte e estruturada. Não se deixará de novo envolver em manobras como as que a gente sofreu”, afirma. Autor de “O Trato dos Viventes”, professor aposentado da Sorbonne, Alencastro militava no movimento estudantil naquele março/abril de 1964. “Estávamos na UnB e alguém disse: ‘Olha, o Congresso está se reunindo, é um golpe, está se preparando alguma coisa’. Nós fomos para o Congresso, para a Câmara, assistir, mas eu dormi. Porque eu estava tão transtornado, já há duas noites com essa agitação. Cheguei lá, aquela coisa de veludo, eu cochilei. Anos depois, o Paulo Henrique Amorim, que estava lá, escreveu que eu estava lá também. Então eu dormi, porque eu não vi nada”, conta. Analisando o jogo político do pós-golpe, o historiador avalia que muitos ainda acreditavam que os militares logo devolveriam o país à sua trilha institucional, mantendo as eleições presidências previstas para 1965. “Quando Juscelino votou com o Castelo, a impressão era de que ele estava controlando militares inexperientes. Depois, Castelo disse que não haveria a eleição de 65 e cassou Juscelino. Há um golpe, e os golpistas militares dão um tombo, passam uma rasteira nos políticos mais experientes do pós-guerra no Brasil. Não era qualquer capiau, não. Juscelino, Tancredo o pessoal em torno do Jango”. Nesta entrevista, gravada em 13 de fevereiro de 2024, Alencastro, 78, também contesta análises que sustentam a popularidade da ditadura: “Em 1965, um ano depois do golpe, Juscelino impõe a primeira derrota à ditadura com vitórias para os governos da Guanabara [com Negrão de Lima] e de Minas Gerais [com Israel Pinheiro]. Dois juscelinistas. A melhor sondagem é a eleição: ganharam os candidatos do Juscelino. Foi uma vitória acachapante”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202401:07:23
Às vésperas do golpe, vi o petróleo jorrar; hoje estamos sendo saqueados, diz Guilherme Estrella

Às vésperas do golpe, vi o petróleo jorrar; hoje estamos sendo saqueados, diz Guilherme Estrella

“Eu era estagiário na Petrobras em Carmópolis, em Sergipe, em fevereiro de 1964. Ali, pela primeira vez, eu senti o entusiasmo dos empregados da Petrobras. Éramos todos brasileiros. O petróleo vinha na tubulação. Era uma sensação absolutamente extraordinária. Aquele líquido preto meio viscoso no tanque fazendo barulho. Ali eu comecei a sentir, como brasileiro, a importância de uma empresa de petróleo brasileira. Não era uma simples empresa. O Brasil estava sendo discutido. A dependência de petróleo, a importância da companhia, o sonho da autossuficiência estava ali naquele dia a dia, no café da manhã, no almoço e no jantar”. Palavras do geólogo Guilherme Estrella, 82, ao TUTAMÉIA. Pai do pré-sal, nesta entrevista ele fala de sua trajetória, dos enormes avanços conquistados pela Petrobrás e do desmonte feito na companhia, que afeta a soberania do país. Para ele, há urgência na mudança de curso. “O governo tem que reassumir a gestão da Petrobrás. O mundo está dando saltos gigantescos e estamos ficando para trás. O Brasil é a base do rearranjo do capitalismo financeiro explorador para sustentar esse polo que até hoje foi hegemônico no mundo. Somos os maiores exportadores de alimentos, de minérios de ferro, de energia. E o nosso povo, como ficamos? Nossos engenheiros estão se formando para quê? Temos centenas de milhares de engenheiros desempregados. Isso é insustentável. Isso não vai ser resolvido com boas maneiras. Temos que ter contundência. Somos um país riquíssimo e estamos sendo saqueados”. A entrevista de Estrella, gravada em primeiro de março de 2024, integra o conjunto de depoimentos que TUTAMÉIA apresenta sobre os 60 anos do golpe militar de 1964. Na época, o geólogo estava no último ano da faculdade. Sua turma não teve solenidade de formatura. Decidiu homenagear um deputado cassado pela ditadura e teve a festa cancelada pela diretoria da escola. Na conversa, ele adverte: “A Petrobras precisa se transformar novamente numa empresa estatal. Quando estava no lado deles, os caras tratoraram. Quando estava do lado deles, os caras fraudaram as eleições, prenderam o Lula, terminaram com o monopólio estatal do petróleo, terminaram com o marco regulatório do pré-sal. Eles não têm limites”. “Esse aspecto da negociação é muito importante, mas o governo é o governo. Nós ganhamos as eleições, temos que representar a vontade popular, façamos plebiscitos, consultas à sociedade. Tem que partir para uma pressão forte, clara, comunicação com a sociedade e com resultados a curto prazo”. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202401:43:46
Enchemos uma kombi com armas e munição contra o golpe, lembra Requião

Enchemos uma kombi com armas e munição contra o golpe, lembra Requião

Estudante de direito e aluno do CPOR (Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva), Roberto Requião e um colega quiseram enfrentar o golpe militar com armas. Sua iniciativa foi frustrada. Seus companheiros fugiram ao ver o armamento. É o que rememora Roberto Requião, 83, ex-governador do Paraná, ao TUTAMÉIA, na série que tem como mote “O que eu vi no dia do golpe”. Nesta entrevista, concedida no dia 26 de fevereiro de 2024, ele fala de sua trajetória e da conjuntura nacional: “Nós precisamos de um projeto nacional moderado, factível, viável. Sem projeto, estamos liquidados. Eu tenho esperança de que isso ocorra ainda. Eles estão fechados num esquema que eu acho que é o do Marcos Lisboa, do liberalismo econômico absoluto. Essa abertura da frente ampla está transformada numa zona política. Não é uma frente ampla, é uma esculhambação, troca de cargos e favores. Diz o ex-senador: “Temos que criticar construtivamente. Eu sou lulista declaradamente, mas sou, acima de tudo, brasileiro e quero ver um projeto de Brasil funcionando. O enterro do Bolsonaro vai ser feito pelo STF. Mas a direita continua criticando o Lula e elogiando o neoliberalismo do governo federal”. “AO VEREM AS ARMAS, O PESSOAL DESAPARECEU” Sobre o dia do golpe, conta Requião: “Em primeiro de abril de 64, eu era estudante de direito e aluno do CPOR, Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva. Sou um oficial da reserva pela cavalaria. Nós estávamos profundamente indignados com o golpe. Ney Braga [então governador do Paraná], nas proximidades do primeiro de abril, havia tido até uma reunião com o João Goulart. Mas, no fim, aderiu ao golpe. Eu e um companheiro de política universitária, já falecido, chamava-se Luiz Carlos Mainard, fomos a uma reunião do Partido Socialista. E lá o pessoal dizia: ‘Temos que fazer uma intervenção mais forte, vamos tomar conta do palácio, vamos evitar que o governo do Paraná venha a aderir ao golpe militar. Mas nós não temos condição porque nos faltam armas para tomar conta do palácio’”. “Eu e o Luiz Carlos Mainard marcamos uma reunião com eles no dia seguinte. E no dia seguinte nós pegamos uma kombi que era propriedade do meu pai. Eu era um meninão, um estudante progressista, mas não tinha um engajamento em organizações revolucionárias, além da visão contra o golpe. Então eu o Mainard fomos ao CPOR, abrimos o depósito de armamento e colocamos armamento pesado e munição dentro da kombi. E, na hora combinada, nós com a Kombi fomos ao Partido Socialista. Fugiram todos! Não ficou ninguém. E nós ficamos com a Kombi armada, extremamente bem armada, sem saber o que fazer”. “Fomos ao diretório central dos estudantes. E dissemos: ‘Tem aqui condição de tomarmos e resistirmos no palácio ao golpe’. O pessoal desapareceu. Ficamos eu e o Luiz Carlos com uma Kombi armada sem saber o que fazer. Voltamos ao CPOR, reabrimos a sala de armamentos e pusemos de volta o equipamento todo que nós tínhamos tirado. E ficamos à margem desse processo no seu início”. Requião prossegue, avaliando a ação de então com olhos de hoje: “Cá entre nós: foi uma felicidade para nós eles terem fugido. Porque não havia nenhuma condição de meia dúzia de meninos, uns rapazes do Partido Socialista enfrentarem uma força militar federal. Escapamos disso, mas tomamos essa iniciativa. A partir dali nós passamos a atuar na política do Paraná”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202401:00:22
As esquerdas e os comunistas não organizaram o movimento de massas para o golpe, diz Anita Prestes

As esquerdas e os comunistas não organizaram o movimento de massas para o golpe, diz Anita Prestes

“A polícia veio aqui em casa. Viram que tinha muito livro e até foi meio cômico. Perguntaram se ali tinha literatura subversiva. Minha tia disse: ‘Não, de jeito nenhum’. Eles pegam o telefone, ligam para alguma chefia: ‘Olha tem muito livro, mas isso deve estar tudo na cabeça do homem, e achamos que não vale a pena tirar’. Eles estavam com preguiça. Tinham que botar um caminhão para carregar tudo aquilo. O chefe concordou e eles levaram só um passaporte do meu pai. Perguntaram por mim. A minha tia disse que eu estava viajando e ficou por isso mesmo. Não me reconheceram”. Assim, Anita Prestes descreve a invasão da polícia em sua casa pouco depois do dia do golpe militar de 1964, quando tinha 26 anos. Filha de Luiz Carlos Prestes, ela estava no Rio estudando química e acompanhava o movimento estudantil. Historiadora e autora de livros sobre a trajetória de seu pai e a história brasileira no século 20, Anita rememora ao TUTAMÉIA aqueles dias tensos de sessenta anos atrás. Ali, naquele apartamento onde a polícia encontrou a biblioteca de Prestes, tinha havido uma reunião da comissão executiva do PCB no dia 31 de março. Fala Anita: “Decidiu-se que Prestes telefonasse para o brigadeiro Francisco Teixeira, que era membro do PCB e comandante da base aérea aqui do Rio de Janeiro. Prestes ligou para ele para ver se a aeronáutica poderia bombardear a coluna do Mourão que vinha para o Rio. Isso foi na manhã do dia 31. Se fosse feito isso, provavelmente seria desarticulado o golpe. Mas o brigadeiro Teixeira disse para o Prestes que todos os tenentes dele já tinham passado para o outro lado e que ele não podia fazer nada. Acho que isso foi uma desculpa que o brigadeiro deu para o Prestes, na medida em que ele não tinha recebido permissão do Jango para atacar a coluna do Mourão. O Mourão chegou ao Rio sem ter sido atacado”. Para Anita, o golpe de 64 “foi uma derrota muito séria das esquerdas em geral e de nós, os comunistas, em particular”. “As esquerdas e nós, também, o PCB, não preparam o movimento de massa. Não fizeram a organização popular. Tanto o movimento sindical quanto o estudantil era cupulista, basicamente de cúpula. Não tinha grande penetração nos setores populares. Não por acaso, na hora que o CGT decreta greve geral, no primeiro de abril, a greve não acontece”. “A direita se organizou muito bem, através dos militares, do Ibad, aquelas entidades que foram criadas e os Estados Unidos apoiando”. “13 de março de 64 foi um grande comício. Eu estive lá na Central do Brasil, mas não tinha uma organização por trás daquilo. Depois, veio a hora de a direita tentar derrubar o Jango. Menos de um mês depois, onde estava aquele povo todo? Não se mobilizou para apoiar o Jango”. Refletindo sobre essa história, ela fala sobre hoje: “Vejo com preocupação a possibilidade de o bolsonarismo, de tendências fascistas voltarem ao governo em 2026. Existe risco forte. É preciso organizar os setores populares para apoiarem o Lula na luta contra o fascismo”. O depoimento de Anita Prestes, gravado em cinco de fevereiro de 2024, integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Frei Betto, Franklin Martins, Janio de Freitas, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, Margarida Genevois, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202459:44
64 FOI GOLPE DO IMPERIALISMO; LUTA ARMADA DIGNIFICOU A OPOSIÇÃO, AFIRMA DEL ROIO

64 FOI GOLPE DO IMPERIALISMO; LUTA ARMADA DIGNIFICOU A OPOSIÇÃO, AFIRMA DEL ROIO

Em pouco mais de quinze dias, o jovem bancário José Luiz viajou de avião pela primeira vez, ficou eufórico no comício da Central, conheceu Carlos Marighella que o deixou apreensivo e foi pedir armas para um general golpista. Detalhes desses momentos intensos daqueles idos de março de 1964 estão no depoimento de Del Roio ao TUTAMÉIA. Então liderança da juventude do PCB, ele foi um dos criadores da ALN (Ação Libertadora Nacional), maior grupo da luta armada contra a ditadura. Anos mais tarde, foi senador na Itália e membro da Assembleia Parlamentar da Europa em Estrasburgo. Na entrevista, realizada em 4 de março de 2024, poucos dias antes de seu aniversário de 82 anos, José Luiz Del Roio analisa o contexto da ditadura no Brasil e fala da necessidade da luta permanente por memória. Nas suas palavras: “A resistência armada foi um erro? Não. Era necessário criar uma narrativa de resistência. Como você pode ter um golpe safado, fascista, pró-imperialista, e não resistir? O povo brasileiro precisa saber que houve resistência na sua história. De quilombolas, de camponeses, da armada ao golpe militar. A resistência armada à ditadura dignificou a oposição no Brasil, as forças nacionais que lutavam contra forças imperialistas. Por isso é que a luta é tremenda para esmagar a consciência dessa luta armada. Sempre tentam fazer esquecer. Se conseguirem isso, a história do Brasil vai ser muito mais pobre, e a construção de um projeto nacional será mais difícil. A luta armada é alicerce, por modesto que seja, para a construção de um estado nacional forte e independente”. Ao TUTAMÉIA, Del Roio lembra que o período que antecedeu o golpe era uma época extraordinária para um jovem. “Tinha todo um projeto de nação, era um momento de grande euforia, revolução cubana, revolução argelina”. Del Roio foi para o comício do dia 13 de março, na Central do Brasil como uma das lideranças da juventude do Partido Comunista em São Paulo. “Foi a primeira vez que eu entrei num avião. Eu não conhecia o Rio. Foi uma euforia. Depois do comício, fomos ao comitê central do partido. Encontramos lá o Marighella. Foi aí que eu conheci o Marighella”, recorda. Del Roio lembra que Marighella “deu um banho de água fria” no grupo de jovens. “Tinha um grande mapa do Brasil atrás dele. Pôs a mão no Nordeste e disse que aqueles quarteis estavam na mão de golpistas. E [percorrendo o mapa com a mão, apontava] aqui na mão de golpistas, e aqui...Ele disse: ‘Minha gente, a situação é grave, a possibilidade de golpe é muito alta. Vocês se preparem para isso’. Ele nos desiludiu bastante”. Análise praticamente oposta Del Roio ouviu poucos dias depois no secretariado do PC em São Paulo. Foi logo após a “Marcha da família com deus pela liberdade’. Os dirigentes municipais do partido tinham avaliado que o movimento guardava aspectos positivos, pois trazia a política para as ruas. Quando começaram a chegar as notícias do golpe em andamento, Del Roio acabou indo para a Maria Antônia. Na entrevista, Del Roio trata da conjuntura atual e manda um recado para os militantes de hoje: “Quem luta pela transformação social, pela felicidade coletiva deve ter como corte não a tragédia, a dor. Tem que combater, na medida do possível, de forma firme e dura, mas alegre. Ser um militante político para o socialismo, para a libertação da pátria, pela igualdade dentro da sociedade é uma alegria, é uma felicidade. Então, alegria, alegria, minha gente!”

Apr 03, 202401:11:54
“Erasmo Dias veio com tudo, torturando, simulando fuzilamento”, conta Nóbrega

“Erasmo Dias veio com tudo, torturando, simulando fuzilamento”, conta Nóbrega

“Fui entregue para o Erasmo Dias. E ele veio com tudo, torturando, fez um simulacro de fuzilamento. Era pau de arara, choque elétrico, afogamento, sem parar. Fui selvagemente torturado pelo pessoal do DOI-Codi. Terrível. Fiquei traumatizado, acordava a noite gritando, até hoje. Eu estava pronto para ser fuzilado, mas ninguém está pronto para ser torturado”. Palavras de José Araújo Nóbrega ao TUTAMÉIA ao lembrar o que se seguiu à sua captura no Vale do Ribeira, em São Paulo, em 1970, onde se encontrava com Carlos Lamarca e companheiros da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) para treinamento de guerrilha. Perseguidos por quase 3.000 soldados, o grupo se separou: alguns escaparam, outros (como Nóbrega) foram presos. Disfarçados de militares, Lamarca e três companheiros furaram o cerco (da então maior operação do Segundo Exército) e se dispersaram na marginal Tietê Sargento do Exército, Nóbrega tinha 25 anos quando ocorreu o golpe militar de 1964. Nesta entrevista, ele relata o ambiente nas Forças Armadas naquela época, trata da sua adesão à luta armada, do período que passou no Vale do Ribeira e dos tempos de exílio. E de como conseguiu sobreviver a um fuzilamento coletivo executado por militares chilenos logo após o golpe de Pinochet, em setembro de 1973. Nóbrega lembra que estava no quartel de intendência na Lapa, em São Paulo, quando ocorreu o golpe de 64. “Eu era comandante do corpo da guarda no meu quartel. A gente estava esperando. Corriam boatos dentro do quartel de que iria haver um golpe. Lá havia um tenente-coronel gaúcho e janguista que ficou muito apreensivo. Para nós, foi um dia de luto aquele primeiro de abril”, diz ele, nesta entrevista gravada em 28 de fevereiro de 2024. E segue: “Desde 61 [quando da tentativa frustrada de golpe para impedir a posse de Jango], eles começaram a trocar oficiais. Tinham mexido os pauzinhos para o golpe. Em 61, a gente tinha uma ideia do que fazer, tinha a rádio da legalidade. Em 64, não havia mais nada daquilo. A gente esperava que houvesse alguma reação, mas não houve”, afirma. Naquela época, Nóbrega conta que já estava começando a organizar o MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário). Tinha uma vida semiclandestina, pois permanecia no Exército enquanto atuava no movimento de resistência. “Era terrível conviver com aquele pessoal direitista [nas forças de repressão]. Em 68, um coronel me chamou para trabalhar na Polícia Federal em São Paulo. Fiquei seis meses. Não aguentei ver aquilo, pessoal de ultradireita, o CCC lá dentro. Terrível! Eu não aguentava mais. Em 67, fui para a VPR. A gente não tinha muita maturidade política; fomos adquirindo no decorrer da luta. Tinha que fazer alguma coisa. Foi uma sequência lógica da luta”, afirma. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202402:10:11
“TINHA CERTEZA DE QUE SERIA EXPULSO DA MARINHA”, CONTA PEDRO VIEGAS

“TINHA CERTEZA DE QUE SERIA EXPULSO DA MARINHA”, CONTA PEDRO VIEGAS

“Eles não admitiam que a gente era preso político. Essa foi a grande batalha. Porque atribuía, forçados pela Marinha, que fôssemos apenas indisciplinados. O marinheiro era proibido de casar, antes de tantos anos de cabo. No teu dia de licença, de folga, não podia usar roupas de civil. Se o oficial canalha passasse, te encontrasse na rua fora de farda te prendia, essa era coisa que acontecia naquela época na Marinha. E a gente brigando contra essas coisas. Depois queria dizer que não tinha nada de política, que era só indisciplina.” É o depoimento do marinheiro-jornalista Pedro Viegas, que atuou na redação do “Tribuna do Mar”, jornal da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, no período imediatamente anterior ao golpe. Viegas estava havia vários anos na Marinha quando conheceu a organização, conta ele ao TUTAMÉIA nesta entrevista realizada em 21 de fevereiro de 2024. Convidado por um amigo, um dia apareceu na sede, na rua São José, no Rio de Janeiro: “Aí foi a flecha que penetra no seu coração. Vi aquele grupo de marujos preocupado com o ensino, com os problemas na Marinha. Aí foi onde eu optei e fiquei direto, eu e o Moacir Almeida de Oliveira, um pernambucano, a gente se matava para fazer o tal de jornal. Era um tabloide mensal. Teve uma matéria terminei sendo condenado com base na minha participação no movimento e com agravante de ter contribuído com o jornal. O último artigo que eu escrevi no jornal Tribuna do Mar denunciava as prisões. Eu já tinha certeza de que seira expulso da Marinha”, diz ele. “Perseguição e onde de prisão na associação fuzinauta” foi a manchete da edição de janeiro/fevereiro de 1964. Complementando o título, seguia-se o texto, em letras maiúsculas: “Pressão com perspectivas de fechar a Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil – Diretoria sob a mira de Tribunal Militar – O nosso crime foi promover a integração social das praças da Marinha marginalizadas – As autoridades nunca quiseram nos ajudar – (...) Perseguições, expulsões, pressões visam intimidar evolução social e cultural das praças da Marinha, É um fato clarividente advindo do aparecimento da Associação (...)” Afirmando sua legitimidade e o grande apoio entre os marinheiros, a Associação faz uma grande festa para comemorar seus dois anos de existência. O auditório do Sindicato dos Metalúrgicos, cedido para o encontro, estava abarrotado naquele 25 de março de 1964, conta Viegas que, depois do golpe, participou da resistência armada à ditadura. Preso e torturado, foi um dos 70 presos políticos libertados em troca do embaixador suíço, Giovanni Enrico Bucher, capturado em 7 de dezembro de 1970. Por considerar a festa insubordinação, o comando da Marinha tentou acabar com a reunião, o que acabou provocando o que ficou conhecido como a Rebelião dos Marinheiros. Uma companhia de fuzileiros navais foi mandada para reprimir, mas acabaram se bandeado para o lado dos marinheiros. Houve outras tentativas de avanço contra o grupo: “Antes da chegada dos fuzileiros já tinha aparecido lá um grupo de oficiais com metralhadoras, coisa de intimidação”, lembra Viegas, que tinha então 26 anos. Não intimidou ninguém: “Nesse meio tempo, o pessoal que estava a bordo, em solidariedade àquele encontro, o pessoal que estava de licença, marchou em direção à saída do Ministério. E ali, os oficiais que estavam acantonados no ministério, que era a saída para a rua, na verdade, disparam armas e feriram algumas pessoas. Um deles, meu grande amigo Adeíldo Ramos”. Um dos marujos do grupo atacado pelos oficiais foge, se atira no mar, escapa a nado e consegue chegar mais tarde à sede do sindicato: “Chegou à assembleia molhado como um pinto. Relatou essa questão do tiroteio, essa coisa toda. E ali começou a rebelião. Porque ninguém podia aceitar esse tipo de postura da Marinha.” Visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena.

Apr 03, 202401:55:32
“Prenderam nossos filhos de 2 e 3 anos de idade”, conta Aldo Arantes

“Prenderam nossos filhos de 2 e 3 anos de idade”, conta Aldo Arantes

No interior de Alagoas, logo após o Ato Institucional nº 5, em 1968, Aldo Arantes, Maria Auxiliadora Arantes (Dodora) e os dois filhos do casal foram presos pela ditadura militar. Dodora e as crianças ficam 4 meses e meio na prisão; Aldo, seis meses. Sai da prisão numa fuga planejada para o dia do jogo entre CRB e CSA, um clássico alagoano, quando a guarda deveria estar fragilizada. Foi o que aconteceu, com alguns percalços. O carcereiro de plantão não tomou o café com sonífero, Aldo tropeçou e caiu na fuga, o esconderijo previsto não ficou disponível. Ele e seu camarada acabaram pegando um táxi fingindo estarem bêbados e atravessando a fronteira com Pernambuco no porta-malas do carro de um amigo. Nesta entrevista ao TUTAMÉIA, gravada em 4 de março de 2024, Aldo Arantes, 85, fala da conjuntura atual e conta fragmentos de sua trajetória, que passa pela presidência da UNE, a resistência ao golpe na Ação Popular e no PCdoB. Nessa luta, viveu onze anos na clandestinidade. Sua segunda prisão aconteceu justamente quando participava de uma reunião de avaliação do PCdoB sobre a guerrilha do Araguaia, em dezembro de 1976. Foi na Chacina da Lapa, uma ação ditadura militar que assassinou três dirigentes do partido e a tortura de sobreviventes. Barbaramente torturado, Aldo Arantes ficou dois anos e 8 meses na prisão do Barro Branco. Sua mãe viu as marcas da tortura e, com o seu advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, procurou dom Paulo Evaristo Arns [acompanhe a entrevista de Greenhalgh nesta série]. O cardeal sugeriu que ela fizesse a denúncia da tortura, mas alertou para os riscos que essa decisão embutia. “Minha mãe, disse: ‘Eu faço qualquer coisa para salvar o meu filho’. Foi para imprensa e denunciou. Foi o primeiro familiar de preso político que denunciou a tortura no Brasil”, lembra Aldo. Advogado, deputado federal constituinte, ele estava nas galerias na ignóbil sessão do Congresso que abriu as portas para os golpistas, na madrugada de primeiro para dois de abril de 1964. “Foi uma mentira completa, uma manipulação. Fiquei escandalizado e do plenário gritei: ‘Golpista! Golpista!’. Os seguranças vieram. Almino Affonso, Plínio de Arruda Sampaio e Rogê Ferreira se mobilizaram para eu saísse da Câmara”. Daquele momento, ele se recorda: “Funcionário da superintendência de política de reforma agrária, eu sabia que militares viriam atrás de mim. Eu e Dodora saímos de Brasília. Enquanto saíamos, víamos os tanques entrando pelo Eixão; os prédios balançavam”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202401:00:57
“O GENERAL OLHOU PARA A MINHA PERNA, AINDA SANGRANDO, E DISSE: ‘QUE SERVIÇO PORCO’“, LEMBRA LADISLAU

“O GENERAL OLHOU PARA A MINHA PERNA, AINDA SANGRANDO, E DISSE: ‘QUE SERVIÇO PORCO’“, LEMBRA LADISLAU

“A minha perna estava sangrando, com um buraco imenso. É que eles colocavam algodão molhado em volta do fio elétrico para não deixar marca. Mas, quando você passa horas nesse choque em cima dos tecidos, os tecidos se deterioram. O general olhou para a minha perna e ficou indignado: ‘Que serviço porco’. Esse é o general, essa é a ‘alta cultura’”. Quem faz o relato é o economista Ladislau Dowbor. Era 1970 e ele iria embarcar para a Argélia. Era um dos 40 presos políticos que estavam sendo trocados no sequestro do embaixador alemão. O general fazia a inspeção antes do embarque. O estado físico de Ladislau (e de outros presos) era deplorável em razão da tortura continuada e virou notícia quando eles chegaram a Argel. “O tipo de dor que se causa de onde você põe os fios elétricos é uma coisa pavorosa”, diz. Aos 83 anos, o hoje professor da PUC-SP fala ao TUTAMÉIA sobre a sua trajetória, a luta armada, a sua labuta para “encontrar saídas da barbárie”. “A gente fala em golpe, e em ditadura. Eu tendo a tomar um recuo pensando: o que a gente faz como seres humanos? Essa busca para sair da barbárie. A gente sabe os caminhos: é essencialmente pela justiça social, tem que assegurar o básico para todo mundo e temos o suficiente no mundo”, afirma. Dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária, com Carlos Lamarca, Ladislau relembra o sequestro do cônsul japonês em São Paulo, o exílio e os seus trabalhos antes e depois do golpe de 1964. “O passado não passa. Para mim, sem nenhuma glorificação política, não ter baixado a cabeça, não ter aceitado os massacres, as humilhações, de eu continuar a briga... Você não apaga o sofrimento, mas dá sentido a ele. Esse testemunho é meu e de mais de 15 mil pessoas que foram presas e massacradas no Brasil naquela época. Batalhar por um país mais junto é bom senso, dignidade humana”, afirma. Nesta entrevista, gravada em 15 de fevereiro de 2024, Ladislau lembra o contato que teve com militares, quando foi se alistar no Recife. Na época, nos movimentos de cultura popular. “Conheci Ariano Suassuna. Ajudei a montar, no Teatro Santa Isabel, a primeira apresentação do Auto da Compadecida. Conheci Gilberto Freire, Celso Furtado; acompanhei as reuniões dele na Sudene. Conheci o Paulo Freire e acompanhei as primeiras aulas de alfabetização no município do Cabo, com a filha dele, a Madalena”, rememora. Pois foi quando se apresentou no quartel, em setembro de 1963, que viu um oficial, que sabia de sua participação nos movimentos sociais, dizer para o militar que o alistava: “Vamos pegar esses filhos da puta!” Sobre esse pequeno episódio Ladislau avalia: “A tensão já se sentia. Tinha Paulo Freire, Miguel Arraes, ligas camponesas. Em setembro de 63, o processo estava caminhando”. Vindo de São Paulo, Ladislau tinha chegado a Pernambuco por causa do convite do pai, que trabalhava como engenheiro na Açonorte. “Foi um processo que pesou muito para mim. Desembarcando no Recife, vendo aquela desigualdade tremenda, a riqueza arrogante do pessoal de cima e a miséria em todo o Recife. Isso me chocou profundamente. Meu pai me convidou para jantar uma lagosta. Entrando no restaurante, à noite, estava uma criança passando fome na porta. Sabe aquele caleidoscópio que você vira assim e todas as pedrinhas mudam? Eu vou jantar uma lagosta e tem uma criança passando fome? Isso não tem justificativa que exista. Isso que me orientou para a economia”. No exílio na Argélia, Ladislau entrou em contato com as dezenas de movimentos de libertação que floresciam pelo mundo naqueles anos 1970. No dia do golpe militar de 1964, Ladislau estava na beira do Mar Morto, “meio que escondido no que hoje é Israel”. O depoimento integra uma série de entrevistas com o mote “O que eu vi no dia do golpe”. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202401:04:41
“NO MEU FILHO NINGUÉM PÕE A MÃO”, GRITOU ROSE PARA O DELEGADO FLEURY

“NO MEU FILHO NINGUÉM PÕE A MÃO”, GRITOU ROSE PARA O DELEGADO FLEURY

“Eles chegaram bem tarde da noite, e eu tinha o nenê de um mês. Fleury falou que estávamos presos e disse para a turma dele: ‘Pega o moleque que a gente vai levar para o juizado de menores’. E eu falei: ‘Não vai!’ Ele botou a mão no revólver e disse: ‘Eu posso usar violência!’. Eu respondi: 'Pode, mas que que muda? Eu não quero que ele vá! Vocês não toquem no meu filho! No meu filho ninguém põe a mão!” É o que lembra a jornalista Rose Nogueira, 78, do dia de sua prisão: 4 de novembro de 1969. “Não sei o que me deu. Era o Fleury falando comigo. Nem tive medo dele. Eu vivo falando que a coisa mais poderosa do mundo é a maternidade”, afirma ela ao TUTAMÉIA. Na entrevista, gravada em 10 de fevereiro de 2024, Rose fala do trabalho como jornalista durante a ditadura militar, do assassinato de Vladimir Herzog, da censura, da resistência. “A ditadura foi a cultura do ódio, e a gente sentiu diretamente”, declara. No dia do golpe militar, em primeiro de abril de 1964, Rose, então com 18 anos, estava na praça do Patriarca, no centro de São Paulo, e sentiu um alvoroço. “Todo mundo de radinho de pilha, todo mundo ouvindo. Alguns diziam: ‘O Jango fugiu’. Outros: ‘É primeiro de abril, é mentira!”. “Nós lá em casa amávamos o Jango, a Maria Teresa. Foi um sofrimento muito grande. Foi mais do que um banho de água fria. Foi uma pancada no coração”. Como repórter, Rosa acompanhou os festivais da canção, as peças de teatro, a efervescência cultural naquela segunda metade dos anos 1960, antes do AI-5. “Era muito clara a disposição de combater a ditadura através da arte, como eles podiam”. Depois, na cobertura internacional, testemunhou a ação da censura nas redações. Lembra de quando chegou um aviso de que era proibido citar o nome de dom Helder Câmara, que percorria o Brasil denunciando a ditadura. “A gente escrevia, então, ‘arcebispo de Olinda e Recife’ e dizia onde ele tinha estado. Tinha um quadro na redação cheio de telex da censura. Antes de fazer uma matéria, precisava olhar lá para saber se era censurado ou não”, diz. Trabalhando com Vladmir Herzog na TV Cultura, ela fala do choque que foi receber a notícia da morte do jornalista, em 1975. “Eu caí no chão. Não acreditava, não é possível!”. O assassinato (que a ditadura dizia ter sido um suicídio) mobilizou a sociedade naquele momento. Um grande ato ecumênico foi realizado na catedral da Sé. “Reuniu tanta gente! Era ditadura e ninguém teve medo; foi todo mundo para lá. Aquilo balançou um pouco bastante a ditadura”, afirma. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella e Sérgio Ferro. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 03, 202457:11
“Eu não vi o golpe, eu ouvi o golpe”, lembra Paulo Arantes

“Eu não vi o golpe, eu ouvi o golpe”, lembra Paulo Arantes

Na noite de 31 de março de 1964, Paulo Arantes foi à inauguração do teatro da UNE no Rio de Janeiro. “O teatro estava novinho em folha. Você entrava e sentia o cheiro da madeira, viva ainda, aquele cheiro gostoso de madeira nova”, conta ao TUTAMÉIA. “Já sabíamos da coluna do general Olímpio Mourão Filho, que saíra de Juiz de Fora. Nós achávamos que era uma coluna brancaleone, esse foi o grande erro. Indo para o teatro na praia do Flamengo, nós já íamos comemorando uma vitória, a derrota do golpe”, diz. Nesta entrevista, realizada em 28 de março de 2024, ele rememora aqueles dias, fala da sua trajetória, a militância na Ação Católica, a entrada na filosofia na Maria Antônia, a adesão majoritária da USP ao golpe –salvo os estudantes--, e a situação atual. Falando sobre o contexto da época, ele afirma: “Não era tresloucado pensar que o Mourão havia pisado na bola, tinha se precipitado e abortado o golpe por incompetência. Chegamos à UNE em triunfo, porque finalmente o gatilho havia sido dado, havia disparado para a revolução brasileira, que era um dos grandes mitos do nosso tempo”. “O espetáculo na UNE foi entusiasmante, porque todos, no palco e na plateia, estavam certos de que a coisa havia virado, havíamos transposto um limiar”. Voltando para casa, Arantes se recorda de ter comentado com os amigos que as portas do teatro estavam guarnecidas, de início, por “armários, fuzileiros navais, com metralhadoras”. Ele faziam a segurança da UNE e foram aplaudidos. “A certa altura, eles foram embora; nós estávamos sozinhos. Esse foi o primeiro sinal de que alguma coisa estava mudando”, diz. Arantes se recorda que por volta da meia noite daquele 31 de março começou a ouvir uma algazarra. O prédio onde ele morava (numa república de estudantes ligados à Ação Popular) ficava equidistante entre o Palácio das Laranjeiras (onde o presidente da República ficava quando estava no Rio) e o Palácio da Guanabara, a sede do governo estadual, naquele momento ocupado por Carlos Lacerda. Nas palavras de Arantes: “Eram megafones. Noite escura, não se via nada. Da janela começamos a nos divertir. Se ouvia no megafone o Lacerda xingando quem ele imaginava estar à sua frente no meio do escuro. Ele achava que era o almirante Aragão, que não sei se era o próprio almirante Aragão ou alguém que fingia ser almirante Aragão, mas um militar à frente de militares legalistas. Ficaram mais de uma hora se xingando. A virilidade de um e de outro era posta em questão. E nós ouvindo aquele bate-boca. O golpista-mor Carlos Lacerda e, possivelmente, o almirante Aragão, que era o nosso almirante vermelho da vez. E nós, na janela, ouvindo o golpe transcorrendo. Ouvindo o confronto mudando de lado. Em certo momento, houve silêncio. O possível almirante Aragão tinha se retirado; o Lacerda também se retirou. Fomos dormir com a pulga atrás da orelha, mas ainda confiantes de que o dispositivo militar do general Assis Brasil estaria funcionando. Mas era o segundo sinal de que a coisa estava indo para o brejo”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Apr 02, 202401:58:03
O que está por trás do julgamento de Sérgio Moro, por Adriano Diogo – Redemoinho, 02.04.24
Apr 02, 202425:32
FILHO DE ARRAES CONTA BASTIDORES DO CERCO AO PALÁCIO NO GOLPE MILITAR

FILHO DE ARRAES CONTA BASTIDORES DO CERCO AO PALÁCIO NO GOLPE MILITAR

No interior do Palácio das Princesas, sede do governo pernambucano, José Almino acompanhou os momentos dramáticos do golpe militar que derrubou seu pai, o governador Miguel Arraes em primeiro de abril de 1964. Nesta entrevista ao TUTAMÉIA, ele rememora as articulações de Arraes nos dias que antecederam a implantação da ditadura, os movimentos dos sindicatos rurais e das ligas camponesas. Trata sobre o jeito de governar de seu pai, fala do impacto do golpe para a família e dos tempos de exílio. Filho primogênito de Arraes, José Almino nasceu no Recife em 1946. Sociólogo, trabalhou no secretariado das Nações Unidas e presidiu a Fundação Casa de Rui Barbosa. Tem vários livros de poesia e ficção; entre eles, “O motor da Luz” (Editora 34). Nesta conversa, realizada em 27 de março de 2024, ele conta episódios marcantes daqueles dias e explica o contexto que deu impulso à economia canavieira nordestina naquele momento. O Nordeste exportava açúcar. Quando houve o bloqueio de Cuba, aumentou muito a demanda por açúcar do Brasil. Terras que eram arrendadas pelo senhor de engenho foram reocupadas, tomadas, derrubando contratos feitos com os arrendatários. Arraes recebia pessoalmente as pessoas em audiências públicas no jardim do Palácio das Princesas, sede do governo. Alguns casos ele encaminhava a assessores. Um deles, ficou gravado na memória de José Almino. O camponês, que tinha um chapéu suado, contou que estava havia 10 anos na terra. A prova era que ele tinha uma plantação de laranjeiras, uma cultura que requer certo tempo de implantação. O que acontecera é que o senhor de engenho tinha quebrado a cerca e soltado o gado em suas culturas. Isso foi em meados de março. No momento do golpe, o camponês voltou ao palácio. Notou que não havia no jardim a arrumação característica das audiências pública do governador. No meio do montão de gente que ali entrara livremente, reencontrou José Almino e contou a novidade: “Doutor, o homem mandou derrubar todas as minhas laranjeiras!”. Ao TUTAMÉIA, Almino relata o episódio e desabafa: “Esse negócio eu não vou esquecer nunca”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 28, 202401:32:53
TUTAMÉIA entrevista Luiz Eduardo Soares

TUTAMÉIA entrevista Luiz Eduardo Soares

Antropólogo comenta prisão dos acusados de terem mandado matar Marielle Franco e Anderson Gomes. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 26, 202401:16:21
“CAMPONESES FORAM LEVADOS PARA OS GALPÕES DAS USINAS, TORTURADOS E MORTOS”, DIZ CAJÁ

“CAMPONESES FORAM LEVADOS PARA OS GALPÕES DAS USINAS, TORTURADOS E MORTOS”, DIZ CAJÁ

Cajá lembra que viu indignação nos rostos das pessoas mais conscientes do alto sertão da Paraíba no dia do golpe. Tinha 14 anos. Um ano antes, participara da campanha pelo não ao parlamentarismo. Lá no distrito de Itaporanga, acompanhava seu pai, Felix, um pequeno camponês adepto do getulismo. “Entendi que o golpe era uma resposta à luta popular. Não aguentam a democracia. Na hora em que o povo decide recuperar os poderes do presidente Jango, eles vêm com essa retaliação”, afirma. Edival Nunes da Silva incorporou o “Cajá” ao seu nome por sugestão de dom Helder Câmara, de quem foi assessor durante a ditadura militar. Franzino, ele era um estudante de sociologia que viera de Cajazeiras, no extremo oeste da Paraíba. Dom Helder achou melhor chama-lo de Cajá, uma fruta que só existe no Nordeste, do que apelidá-lo com o nome de sua cidade de origem, como seus amigos e a namorada faziam até então. Coordenador do Movimento Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa e integrante do comitê central do Partido Comunista Revolucionário, ele fala ao TUTAMÉIA sobre sua trajetória, a resistência ao golpe no Nordeste, a convivência com dom Hélder Câmara e a conjuntura atual. “Quando cheguei a Cajazeiras, para estudar, descobri a luta de classes, porque tem pobre, porque tem rico”, lembra. Era 1967 e Cajá conheceu um velho comunista, Sabino Rolim, sempre perseguido. “Era um homem de barba branca, que nos emprestava livros. Era preso toda vez que aparecia uma pichação de ‘Abaixo a ditadura’ na cidade”, conta. Em 1972, Cajá foi para o Recife, matriculado no Ginásio Pernambucano. Dali tinha partido, em primeiro de abril de 1964, a passeata dos estudantes para tentar impedir a derrubada do governador Miguel Arraes. “Foram recebidos a bala. Jonas José e Ivan Aguiar foram fuzilados, impunimente até hoje. Qual foi o crime deles? Reunir as pessoas que tinham sentimento patriótico, cívico, de liberdade, de impedir a derrubada de um governo eleito. Foram pacificamente, sem armas, e foram recebidos dessa maneira. E ainda têm a cara de pau de dizer que foi a esquerda que iniciou a luta armada, a violência! E o que diabo foi o golpe de 64? O que foi o ceifamento das vidas de Ivan e de Jonas, se não violência?”, pergunta. Nesta entrevista ao TUTAMÉIA, realizada em sete de fevereiro de 2024, Cajá fala da importância das ligas camponesas e da repressão que o movimento sofreu com o golpe: “Havia um processo de rebeldia em Pernambuco. Era o único lugar onde os camponeses faziam marcha pela cidade, desfilavam, iam até o palácio e negociavam com os usineiros cara a cara. Havia 47 ligas camponesas”. Cajá lembra do que ouviu de Clodomir Morais (1928-2016), sociólogo, comunista, deputado estadual, líder das ligas], quando ele voltou do exílio, sobre a dimensão da barbárie provocada pelo golpe de 64: “Trezentos, quatrocentos foram mortos só das ligas. Era no dedo que assinava. Esse pessoal era levado para o galpão da usina, nem processo abriu. Foram torturados para entregar seus líderes e apareciam no outro dia boiando no rio Uma [no sul de Pernambuco]”. “Era muito comum um militar chegar na casa de um deles e falar: ‘Se vocês forem em delegacia, em algum lugar, a gente vem buscar o resto da família. Prefere o quê? Ficar calado trabalhando?’. O cara ia embora para outro estado. Não temos como levantar o total dos mortos e desaparecidos das ligas camponesas. E quanto aos indígenas? Quanto você junta as ligas e as perseguições de indígenas chega a 10 mil mortos e desaparecidos. Esse inventário ainda não foi feito. Mas posso dizer que a conta é muito maior do que está aí”, afirma Cajá. “Foi uma grande frustração para as massas. As ligas eram um movimento de massas. Tínhamos um movimento estudantil de massas. Tinha o Gregório Bezerra, que foi arregimentar homens no campo para resistir, mesmo contra a vontade do seu partido, o PCB. Em Pernambuco, a resistência foi muito encarniçada. Acho que foi o estado em que o povo foi mais massacrado”. Cajá se tornou militante do Partido Comunista Revolucionário. Foi preso, torturado; ficou um ano em solitária, ainda quando estudante de sociologia. Último preso político libertado após a lei da anistia, recebeu apoio de dom Helder e de Elis Regina (que o homenageou em dois shows). Doze mil estudantes fizeram greve pela sua libertação. Sobre dom Helder, ele fala: “Foi terrivelmente perseguido. Sua casa foi metralhada. Eu vi os buracos. Fui assessor dele por seis anos e meio. Ele era um homem honrado”. O depoimento integra a série “O que eu vi no dia do golpe”, de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 25, 202401:33:26
PASSEI A NOITE FABRICANDO COQUETEL MOLOTOV, LEMBRA AQUILES DO MPB4

PASSEI A NOITE FABRICANDO COQUETEL MOLOTOV, LEMBRA AQUILES DO MPB4

“No dia, eu fui para o Sindicato dos Operários Navais, que era onde a gente ia muito fazer apresentações do CPC, e lá era onde se concentrava o grupo que estava preparando a resistência em Niterói. Resistência do nível do nosso tamanho, que iria se somar à resistência vinda de alguns setores das forças armadas que se contrapusessem aos golpistas.” Assim Aquiles Rique Reis, o Aquiles do MPB4, conta ao TUTAMÉIA o que viveu naquele primeiro de abril de 1964. “No dia em que se soube que o golpe estava sendo deflagrado, a gente tinha uma expectativa muito grande de que haveria resistência. Imaginava desde o Brizola lá no Sul até notícias que nos chegavam de áreas das Forças Armadas que se contraporiam à chegada do que se esperava daquele general Mourão, que estava vindo de Juiz de Fora”. Na época, já atuando no cenário musical, Aquiles era militante do PCB e ativista do movimento estudantil. “Já mais próximo do golpe, em 1963, fui por um período curto, porque coincidiu com a chegada do golpe, fui presidente da Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) em Niterói”, diz ele nesta entrevista realizada em sete de fevereiro de 2024, em que conversamos dobre os sessenta anos de carreira do MPB4. Sessenta anos que o grupo vocal tem esse nome. Sua gênese remonta a 1962: Ruy, Aquiles e Miltinho formavam um trio, que fazia o suporte musical do Centro Popular de Cultura, da Universidade Federal Fluminense (filiado ao CPC da UNE), em Niterói. No ano seguinte, com a adesão de Magro Waghabi, passou a atuar como Quarteto do CPC. Em 1964, com a extinção dos CPCs, Magro Waghabi e Miltinho, na época estudantes de Engenharia, batizaram o conjunto como MPB-4. Com 15 anos no dia do golpe militar, Aquiles tratou de achar alguma forma de contribuir para a resistência. “Eu passei a madrugada lá no sindicato numa sala, a gente tinha um galão de gasolina, e a gente fabricando coquetel Molotov. Naquele momento não se tinha muita notícia...” Ele segue: “Eu me lembro que eu saí de madrugada, junto com um outro companheiro, nós éramos estudantes, fomos à casa dele, que era no centro –o Sindicato dos Operários Navais era num lugar distante do centro de Niterói. E a gente começou a perceber que aqueles coquetéis Molotov todos que a gente fez não teriam utilidade, porque não se ofereceu resistência, os caras chegaram, dominaram, fizeram o que quiseram, e o resto é história.” Assim como não havia resistência organizada em 1964, não havia para muitos noção da profundidade e abrangência do que viria a ser a ditadura militar, diz Aquiles: “A gente padeceu, mas ninguém seria capaz de imaginar que aquilo era só o início, que o pior estava por por vir –e veio. Em dezembro de 1968, veio o golpe dentro do golpe, este, sim sanguinário, torturador, perseguidor, e ali começou um período, como disse o Chico, uma página infeliz da nossa história.” Que não ficou sem resposta, sem enfrentamento: “A gente conseguiu, de alguma forma, resistir –eu digo nós, o MPB4, que usou muito o palco como palanque, na medida do passível, indo sempre ao limite. A gente esbarrava sempre num limite, porque a censura vinha e cortava, proibia, tirava de cartaz. E a gente ficou sempre naquele limite máximo e sempre disposto a não se autocensurar. O que a gente imaginava, a gente fazia”. E foi num dos piores momentos da ditadura que Aquiles percebeu que aquilo poderia virar, como conta ao TUTAMÉIA: “Talvez, por incrível que pareça, seja depois da decretação do AI-5. Aí me ocorreu que aí não tinha jeito. Aí ou a gente fazia de fato, iniciava alguma coisa de fato... O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 25, 202414:48
MEU PAI FALOU PRÁ MIM: VEM PRÁ DENTRO, QUE O NEGÓCIO ESTÁ FEIO AÍ”

MEU PAI FALOU PRÁ MIM: VEM PRÁ DENTRO, QUE O NEGÓCIO ESTÁ FEIO AÍ”

“Nesses sessenta anos da ditadura, estou me sentido como um rei. Eu sou pobre, estou aqui dentro de casa, mas estou me sentido um rei. Porque valeu a pena tudo, valeu a pena lutar tudo. Todo o sofrimento que a gente passou, enfrentar as prisões e as mortes de nossos queridos camaradas, a guerrilha do Araguaia, o Marighella, o Carlos Lamarca, valeu a pena. Esses caras entregaram a sua vida pelo país, pelo povo, pela humanidade. Valeu a pena tudo. Valeu a pena absolutamente tudo. E, se tiver de fazer de novo, a gente faz.” Palavras do dirigente sindical Ubiraci Dantas de Oliveira, falando ao TUTAMÉIA sobre a resistência e as lutas do movimento dos trabalhadores contra a ditadura. Bira, como ele é conhecido, tinha onze anos no dia do golpe militar. “Meu pai falou prá mim: vem prá dentro, que a coisa está feia aí”, lembra ele nessa entrevista realizada em dez de fevereiro de 2024. “Quando o teve o golpe, eu fui prá dentro de casa. Fui chamado pelo meu pai. E as pessoas tristes. Eu não posso dizer outra coisa, porque eu era muito novo, e não tinha aprendido ainda o que era lutar pela democracia.” O aprendizado começou em casa mesmo: “Meu pai era um democrata, não tinha vinculação, mas meu tio Severino era do Partido Comunista Brasileiro. Ele trabalhava com técnico eletrônico na Phillips. Ele me ajudou muito, junto com meu pai, mostrando o que estava acontecendo no país e no mundo também’. Por incentivo do pai, Josué Dantas de Oliveira, o jovem Ubiraci foi estudar no Senai, no Brás. “Aprendi uma profissão, aprendi a jogar basquete, dama, futebol, xadrez, aprendi tudo lá no Senai. Lá era assim: seis meses no Senai e depois seis meses na fábrica que eles indicavam. E ali, meu amigo, foi onde eu aprendi a viver. Muita exploração, muita situação difícil.” Operário metalúrgico, conheceu grupos de resistência à ditadura militar, entrou para o Movimento Revolucionário Oito de Outubro. Em 1978, participou do comando de uma greve na Philco, onde trabalhava. Eis seu relato: “No dia da greve, a gente marcou uma assembleia no restaurante da firma. Foi legal, juntou lá o pessoal. Eu subi numa mesa e comecei a falar. Aí um segurança puxou um revólver. Eu falei com ele: ‘O meu, para com isso, sai daqui, se não vai dar problema’. Aí o povo começou a vaiar ele, e ele saiu em desabalada carreira. Foi embora. A gente conseguiu fazer a greve.” O movimento durou cinco dias. Em quatro de outubro, no meio do movimento, a repressão baixou firme: “A polícia me prendeu na porta da Philco. Me mandaram para a prisão, fiquei lá no Dops. Na hora em que foi ter o interrogatório, chegou lá o delegado, todo apavorado, e falou: ‘Você está livre, pode ir’”. “Quando cheguei na porta, estava lá o carro do sindicato para me levar. Quando eu chego lá, no sindicato, a comissão de fábrica toda estava lá e mais uma porrada de trabalhadores exigindo a minha libertação, lá na sede do sindicato. Aí eu compreendi que alguém fez as articulações, e eu fiquei livre. Se não, eu não estaria aqui para contar essa história.” Hoje vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil e membro do Comitê Central e da Comissão Política do Partido Comunista do Brasil, Oliveira fala sobre a situação do país: “O sustentáculo da democracia é o bem estar do povo. Se o povo não estiver bem, se estiver desesperado, é uma beleza para os fascistas retomarem. Eu considero que o governo Lula está numa direção positiva. Fez uma série de coisas nesse ano e meio e lançou agora o plano da nova indústria. Está na direção correta. No entanto, tem outros obstáculos para serem ultrapassados, como a taxa de juros.” E continua: “Nós temos de ajudar o Lula a romper com isso, para poder ter recursos para a educação, para a saúde, para a indústria nacional, para o complexo industrial da saúde. É preciso jogar pesado nessa direção, porque é o seguinte: não adianta dourar a pílula. Se o povo está sentido firmeza, ele vai para a frente. Mas, se sentir enrolação, ele vai procurar um outro caminho. E aí, geralmente, são caminhos que podem trazer para nós muito desespero.” O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 24, 202455:14
“É MELHOR VOCÊ SAIR DO BRASIL, QUE VOCÊ ESTÁ MARCADO PARA MORRER” Esse foi o aviso que o economista Luiz Gonzaga Belluzzo recebeu em dezembro de 1975

“É MELHOR VOCÊ SAIR DO BRASIL, QUE VOCÊ ESTÁ MARCADO PARA MORRER” Esse foi o aviso que o economista Luiz Gonzaga Belluzzo recebeu em dezembro de 1975

Esse foi o aviso que o economista Luiz Gonzaga Belluzzo recebeu em dezembro de 1975 –na lista dos intelectuais visados pela ditadura estavam ainda Cesar Lattes e Hilda Hilst, como diz ao TUTAMÉIA o professor da Unicamp. O alerta veio menos de dois meses depois do assassinato de Vladimir Herzog, e Belluzzo não hesitou: depois da ceia de Natal, partiu para o exílio, que acabou durando cerca de um ano. Na época, o economista assessorava a direção do MDB, dava palestras em sindicatos, denunciava a política imposta pela ditadura. Aliás, tinha se colocado na oposição desde primeiro de abril de 1964, quando tinha 21 anos –formou-se no ano seguinte. Naquele dia, cruzou com o direitista filho de direitista Miguel Reale Jr. no pátio da faculdade de direito da USP, no largo São Francisco. Trocaram ideias de forma exaltada. “Por causa da discussão, fui dias mais tarde interrogado num IPM (inquérito policial militar), por um militar que se instalou na faculdade”, conta ao TUTAMÉIA nesta entrevista realizada em 22 de março de 2024. Na conversa, ele conta de sua ligação com Ulysses Guimarães, destacando a importância do “conciliador radical” no processo de resistência democrática e de derrubada da ditadura militar. “Conciliador radical” é também como ele caracteriza o presidente Lula. Para Belluzzo, “o bloqueio que estão fazendo contra as políticas desenvolvimentistas de Lula é muito grande. É como um time que está no ataque, mas precisa enfrentar uma forte retranca”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 23, 202401:41:60
Brasil, com Manuel Domingos Neto – Redemoinho, 22.03.24

Brasil, com Manuel Domingos Neto – Redemoinho, 22.03.24

Historiador analisa o quadro político e econômico do país. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 22, 202410:12
Jornalista analisa massacres cometidos por Hitler e Netanyahu
Mar 20, 202401:31:35
Trabalhadores da cultura se mobilizam contra políticas de Ricardo Nunes e Tarcísio
Mar 20, 202438:15
"Éramos poucos, mas éramos da pá virada", diz Greenhalgh, advogado de presos políticos na ditadura

"Éramos poucos, mas éramos da pá virada", diz Greenhalgh, advogado de presos políticos na ditadura

“Aldo chegou carregado, amparado por duas muletas humanas. Tinha o peito com feridas provocadas por queimaduras de cigarro. Por causa da tortura, não conseguia nem sentar direito.” Assim Luiz Eduardo Greenhalgh conta ao TUTAMÉIA seu encontro com o dirigente do PCdoB Aldo Arantes, preso em dezembro de 1976 no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa. A defesa de Aldo foi um dos momentos marcantes de sua carreira como defensor de presos políticos --uma trajetória que começou quando ainda era estudante de direito e ficou sabendo que o também advogado e diretor de teatro Idibal Pivetta (1931-2023) havia sido preso pela ditadura. Por causa da denúncia das torturas, teve um enfrentamento público com o então comandante do Segundo Exército, Dilermando Gomes Monteiro, que disse de Greenhalgh: “Mente o advogado. É mais subversivo do que seu cliente”. Pois quem mentia era o general. Quando Arantes enfim foi levado à auditoria militar, o advogado pediu a ele, no final de seu depoimento, que abrisse a camisa. Apesar dos meses já passados, lá estavam as marcas da tortura. Esse foi um dos casos lembrados na conversa com TUTAMÉIA pelo advogado, que tinha 15 anos quando houve o golpe militar. No dia exato, jogava bola num campinho perto de casa, no Tremembé, bairro da zona norte de São Paulo. Tudo normal, menos o fato de que, no meio da tarde, viu seu pai voltando para casa, ele que só costumava chegar ao final do dia. “Ele chegou, ligou o rádio Transglobe e começou a procurar a BBC, buscando notícias. Depois, nos disse: ‘Isso é coisa dos americanos’.” Vida que segue. Na faculdade de direito, anos depois, vota sempre com os grupos de esquerda e participa do movimento estudantil. Antes mesmo de se formar, atua como voluntário no escritório de Airton Soares, que estava na defesa de Pivetta. “O contato com os presos políticos mudou a minha vida”, conta Greenhalgh ao TUTAMÉIA nesta entrevista realizada em 19 de março de 2024. Ele relata o dia em que se apresentou aos detentos do Pavilhão Cinco, na Casa de Detenção, como estagiário que iria acompanhar a defesa deles. “Não tinha o que falar. Pedi que eles contassem a história deles. Comecei a ficar impressionado. E fui me aprofundando nos casos, saber quais eram as torturas, quem eram os torturadores”. Formado, seguiu a trilha. Numa madrugada, no início dos anos 1980, seu escritório foi metralhado em São Paulo por grupos de ultradireita –na época, fascistas incendiavam bancas de jornais e mandavam cartas-bomba para defensores da democracia; uma delas matou dona Lyda Monteiro, secretária da OAB do Rio. Já a OAB de São Paulo, a quem Greenhalgh denunciou o ataque sofrido, deu como resposta: “Mas vocês defendem presos políticos....” Defendia sim, assim como fazia um punhado de outros advogados, ativistas de direitos humanos, integrantes da Comissão Justiça e Paz, vários deles citados por Greenhalgh na entrevista ao TUTAMÉIA: “Éramos poucos, mas éramos da pá virada”, diz. Atuando na defesa do então dirigente sindical Luiz Inácio Lula da Silva e outros líderes grevistas, descobriu que a sentença do julgamento que seria realizado em uma segunda-feira já estava pronta da sexta-feira anterior. A denúncia da tramoia envolveu uma espécie de “greve” dos acusados e advogados, que não compareceram ao julgamento arrumado. Houve a condenação, mas instâncias superiores acabaram dando razão aos advogados. Um dos fundadores do PT, partido pelo qual foi quatro vezes eleito deputado federal, ele conta ao TUTAMÉIA sobre o trabalho de recolher informações sobre os desaparecidos no Araguaia e de responsabilizar o estado brasileiro por esses crimes da ditadura militar. “A sentença transitou em julgado, mas até hoje o estado brasileiro não forneceu as informações, não disse onde os corpos forem enterrados”, aponta ele, que foi um dos fundadores do Comitê Brasileiro pela Anistia. É uma questão que segue assombrando o país: “O governo Lula está, como diria Leonel Brizola, costeando o alambrado. Ele viu que, no dia 8 de janeiro, quase, quase... Se tivesse decretado a GLO, provavelmente ele estaria apeado do poder.” E segue o advogado: “Costear o alambrado vai até certo ponto. A gente está costeando o alambrado desde 1988, na Constituinte. E costear o alambrado não tem sido bom. A gente viu o impeachment da Dilma, a prisão de Lua, a Lava Jato... Então vai chegar o momento em que a gente vai ter de deixar de costear o alambrado. Eu sugiro que sem ódio e sem medo, sem nenhum tipo de provocação, mas também sem recuo”. O depoimento integra a série “O que eu vi no dia do golpe” --entrevistas com personagens como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Janio de Freitas, Guilherme Estrella e Sérgio Ferro. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 20, 202402:06:06
Mortes na Baixada são fruto da chegada da extrema direita e do bolsonarismo ao governo de São Paulo
Mar 19, 202401:11:25
Dragão da Independência enfrenta miliciano e salva estudantes em abril de 64
Mar 18, 202401:20:52
“Militares se instalaram na sala em que eu dava aula; mestre Artigas foi preso”, lembra Sérgio Ferro

“Militares se instalaram na sala em que eu dava aula; mestre Artigas foi preso”, lembra Sérgio Ferro

“Em primeiro de abril de 1964, acordei de manhã, liguei o rádio e havia uma notícia que um cidadão meio furioso tinha começado a descer de Minas Gerais e que um golpe estaria sendo dado. A primeira sensação foi de enorme frustração. Havia uma ascensão da esquerda, um movimento muito forte. Foi como uma ducha fria cair em cima de toda uma esperança que vinha crescendo. Foi uma grande tristeza desabando. Bolas! Estávamos indo e estamos voltando para trás!”. Palavras do arquiteto, artista plástico, professor Sérgio Ferro, 85, ao TUTAMÉIA. Um dos criadores do grupo Arquitetura Nova, ele relembra a brutalidade do golpe militar, fala de sua trajetória e do momento atual, em entrevista gravada em 13 de fevereiro de 2024. “Esse sentimento de recuo, de perda, de frustração aconteceu várias outras vezes na minha vida. Recentemente, tivemos um quase golpe, depois de um golpe real e institucional, e a minha sensação foi a mesma. Depois do governo do Lula e dos governos da Dilma, de repente, outra vez, a miséria, a perda o recuo, a burrice e a maldade e a violência. Infelizmente, como dizia o Marx, a história se repete e dessa vez se repetiu duas vezes na tragicomédia”, afirma. Conta, Sérgio Ferro: “Caímos dessa espécie de linha ascendente de esperança por um baque surdo, súbito no caminho inverso. A coisa foi meio surrealista. A gente sabia que havia um clima de direita bastante intenso, mas isso nos parecia vozes desesperadas. A direita era muito ridícula, mesquinha. Foi dia um momento bastante ruim de nossa vida, de toda uma geração”. “Nos dias 2, 3 de abril já havia casos de gente arrastada na rua, presa no Nordeste, já havia violência crua, gratuita, contra gente que eles prendiam. Já havia sido instaurado um regime da violência bruta mesma, militar crua, horrorosa. Isso foi imediato. Nos dias que tomaram o poder já tomaram o poder com violência descarada, escancarada destinada a ser conhecida. O conhecimento dessa violência atemorizava reagir”. “Uma das coisas que a gente menos imagina é que a revolução, primeiro, é súbita. Todo mundo sabia que ela seria imaginável. Mas, na prática, isso não se transformava em uma consciência clara, nítida. Nenhum de nós acreditava que um golpe fosse possível. E realmente o golpe aconteceu como uma palhaçada, o primeiro ato: o desfile do cretino do mineiro”. “O segundo ato, logo depois disso, inverte. Aquilo que começou como uma espécie de parada militar vira violência crua nojenta. É muito difícil você suportar essa ruptura, esse corte entre esperança viva, alegre, esperança de vida, seguida quase que sem interrupção, num dia, numa noite pelo inverso: crueza, maldade, tortura, desrespeito total à legalidade. Não foi fácil viver. E o Partido Comunista feito barata tonta, sem saber muito o que fazer”. “Pela primeira vez na minha vida eu senti medo. Você tem medo do seu igual do seu semelhante. Não é o diabo, uma coisa imaginária, é alguém que está na sua frente”. Sérgio lembra que rapidamente o golpe chegou à USP. A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) foi objeto de um inquérito militar. “Militares vieram à FAU, na rua Maranhão ainda. Entraram se instalaram na sala em que Flávio Mota dava aula e eu era assistente dele; então, na sala em que eu dava aula. E começaram a convocar professores para responder a perguntas totalmente idiotas: ‘Você é comunista? Tem contato com a Rússia?’. Coisas totalmente estapafúrdias. Nós, mais jovens, não tínhamos nenhuma posição hierárquica a defender. Menti à beça. Contei nada”. “Não foi o caso do [Vilanova] Artigas. Ele já era um membro do Partido Comunista muito influente. O Artigas fez face ao interrogatório com enorme dignidade. Deu o que ele era, o que ele fazia, o que ele pensava. E saiu da escola de arquitetura preso. Imaginem o choque, a violência, ver o seu mestre ser levado por aquelas pessoas que você tinha ouvido, aqueles militares imbecis de marca maior”.

Mar 18, 202401:23:29
Bispos brasileiros eram muito divididos ideologicamente em 1964, aponta Frei Betto

Bispos brasileiros eram muito divididos ideologicamente em 1964, aponta Frei Betto

“Eu participei da reunião da CNBB, em abril de 1964, onde se debateu se a CNBB deveria ou não apoiar o golpe militar. A maioria votou pelo apoio ao golpe. Acontece que as bases da igreja eram muito progressistas, principalmente o pessoal da ação católica. Havia bispos de extrema direita, como dom Vicente Scherer, no Rio Grande do Sul, e bispos de esquerda, como dom Helder Câmara, em Pernambuco. Havia uma tensão muito grande. Os bispos brasileiros eram muito divididos ideologicamente”. Palavras de Frei Betto ao TUTAMÉIA. Frade dominicano, jornalista e escritor, Carlos Alberto Libânio Christo, 79, fala de sua trajetória como liderança estudantil, de sua militância na igreja católica no enfrentamento à ditadura, de suas prisões e da conjuntura atual. “Bolsonaro foi eleito em 2018 porque nós, da esquerda, nós progressistas abandonamos o trabalho popular. Ou todos nós trabalhamos para semear um futuro melhor para as futuras gerações ou esse país corre o sério risco de voltar a viver sob uma ditadura, sob o tacão setores militares extremamente descomprometidos com a democracia”, afirma em conversa gravada em 13 de fevereiro de 2024. Em primeiro de abril de 1964, Betto estava no congresso latino-americano de estudantes em Belém, no Pará. “Eu era dirigente nacional da JEC, Juventude Estudantil Católica, hospedado na casa do arcebispo dom Alberto Ramos. Quando houve o golpe, o congresso foi literalmente desbaratado, cada um se mandou para onde podia. Saí da casa do arcebispo, porque ele começou a delatar padres como subversivos”, diz. Betto relembra: “Eu tinha ido para Belém com uma passagem concedida pelo Betinho. Nós éramos muito amigos, e ele era chefe de gabinete do ministro Paulo de Tarso dos Santos, da educação. Fui à agência da Varig para tentar retornar ao Rio, onde eu morava. A agência estava absolutamente lotada e um dos atendentes me disse: ‘Sua passagem não pode ser mais usada porque ela foi concedida pelo poder executivo anterior’. Ele carimbou a palavra “cancelado” na capa da passagem. Eu, um pouco desesperado, foi uma intuição, não raciocinei muito: rasguei a capa e estendi mão para outra atendente --e ela marcou a passagem com conexão no Recife. Uma enorme coincidência: era a posse de dom Helder Câmara como arcebispo do Recife”. Ele continua: “A JUC, Juventude Universitária Católica, tinha criado um braço político independente da igreja chamado Ação Popular. Betinho foi um dos fundadores desse movimento de esquerda que depois adquiriu um caráter marxista e chegou até a ter um segmento maoísta. A ditadura não fazia diferença entre Ação Católica e Ação Popular. Tanto que o apartamento que eu morava no Rio, que abrigava as direções nacionais da JEC e da JUC, foi invadido no dia 6 de junho de 1964 pelo serviço secreto da marinha, o Cenimar”. “Fomos acordados às 4 horas da madrugada com metralhadoras e levados todos presos para a Praça 15, onde ficava o Cenimar. Foi a minha primeira prisão. Fui preso duas vezes durante os 21 anos de ditadura. Fomos interrogados sob tortura. Fui confundido como sendo o Betinho”. “Depois, em 1969, já como frades dominicanos, formos presos Foi a primeira vez na história que frades católicos dominicanos, presos em São Paulo, foram acusados de terroristas”. Segue Betto: “A repressão, no início, ficou muito grata porque os bispos tinham dado apoio ao golpe. Mas logo começaram a desconfiar que a igreja fazia jogo duplo. Na verdade, a igreja era dividida. Havia sacerdotes, leigos, religiosas que eram progressistas, de esquerda. Sobretudo as comunidades eclesiais de base, que estavam se iniciando naquele período”. “A repressão começou a considerar que a igreja católica, na verdade, era uma estrutura de esquerda que alguns na cúpula faziam de conta que apoiavam a ditadura, mas estavam todos contra a ditadura. Até porque comparavam a igreja a uma estrutura de caserna. Achavam que uma instituição religiosa funciona como um quartel. Não é assim. Há muitas contradições dentro das instituições religiosas”. “Naquela época, a igreja católica tinha ampla hegemonia religiosa no Brasil. Era extremamente forte o peso da igreja católica. Incomodava a ditadura o fato de ter bispos, cardeais como dom Aloísio Lorscheider, dom Paulo Evaristo Arns, que eram abertamente críticos à ditadura abertamente”. “Hoje a igreja católica é um corpo conservador com uma cabeça progressista. É um ser esdrúxulo”. O depoimento integra a série O QUE EU VI NO DIA DO GOLPE, em que TUTAMÉIA apresenta depoimentos de figuras como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 17, 202401:13:03
Brasil tem de romper com a forma em que está inserido internacionalmente, alerta Márcio Pochmann

Brasil tem de romper com a forma em que está inserido internacionalmente, alerta Márcio Pochmann

é um problema, mas, sem a complementação, do ponto de vista de internalizar a capacidade produção de bens manufaturados e, sobretudo, de bens e serviço digitais, o país não tem capacidade de gerar empregos decentes. Não há dúvida de que estão sendo criados empregos no Brasil. Isso está permitindo que nós reduzamos a taxa de desemprego. É ótimo o que está ocorrendo. O problema é que o perfil de emprego gerado é um emprego em geral de salários muito contidos, porque está sendo gerado em setores de baixa produtividade. Se houver uma pressão crescente para elevação do salário mínimo, nós podemos voltar à situação que ocorreu na metade do governo da presidenta Dilma, há dez anos, em que você elevava a taxa de salários e comprimia a taxa de lucros, porque são setores de baixíssima produtividade. Esse é um problema. Para que o Brasil possa gerar empregos de melhor qualidade, ele precisa romper com a forma com que hoje está participando da divisão internacional do trabalho. Porque esse tipo de emprego não dá uma perspectiva de que o futuro possa ser melhor. Lembra que hoje 40% da população vive de transferência de renda --ou seja, depende diretamente de políticas governamentais e que a população está estagnada para decrescente: "O Brasil pode chegar a 2100 com população menor do que a que tinha no ano 2000". O economista Marcio Pochmann também diz que o país precisa construir sua soberania de dados e apresenta os planos do IBGE para esse processo assim como para disseminar as informações que produz. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 17, 202401:20:46
“Éramos muito mais preparados para morrer do que para matar”, diz Genoíno“

“Éramos muito mais preparados para morrer do que para matar”, diz Genoíno“

"No primeiro de abril de 64 fui assistir a uma assembleia no Sindicato dos Ferroviários em Fortaleza. Saí dali e passei pela Praça José de Alencar. A praça foi cercada. Eu e vários do povo fomos presos na então Faculdade de Odontologia. Ficamos ali algumas horas. No dia seguinte ao golpe, Fortaleza parecia um cemitério. A cidade ficou vazia. A movimentação era só no 23º BC, Batalhão de Caçadores, que era para onde iam os que estavam sendo presos”. Memórias de José Genoíno, 77, contadas ao TUTAMÉIA. Militante estudantil, guerrilheiro, preso político torturado pela ditadura, fundador do PT, deputado, nesta entrevista ele fala de sua trajetória, das utopias de sua geração e dos desafios atuais. “Sou de uma geração foi que bebeu a água, respirou o ar e se alimentou de um dos maiores movimentos que a história da humanidade registra. Foi uma ebulição, uma revolução em todos os terrenos: na cultura, na política, na música. A gente é filho de uma era de revolução”, afirma. Ele segue: “Isso produziu uma militância muito engajada. Quando veio a porrada com o AI-5, aquela geração não iria se conter. Era quase natural que ela fosse para o tudo ou nada. E, de certa forma, fomos. Era uma geração muito mais preparada para morrer do que para matar. Era uma geração da utopia, do sonho, do ‘é proibido proibir’, que gostava do risco. Porque ela se libertava de tudo, da família, da formação, dos valores do conservadorismo. Era a quebra de todos os muros’. ‘‘Aquela geração foi violentamente reprimida, morta. Se você pega o álbum de Ibiúna [Congresso estudantil reprimido pela ditadura em 1968], praticamente a metade, já nos anos 70, em 79, tem um xis. É uma geração que foi eliminada. Não é brincadeira para um país”. Nesta entrevista ao TUTAMÉIA, gravada em 10 de fevereiro de 2024, Genoíno relata a efervescência cultural nos primeiros anos após o golpe, da criação de um grupo de teatro, dos trabalhos na periferia de Fortaleza. Estudante de filosofia, seu primeiro emprego foi na IBM. “Eu, como presidente do centro acadêmico, dirigi uma passeata que por acaso passou em frente da IBM. A IBM me viu. Eu tinha falado ao trabalho e estava dirigindo uma passeata. Ela me chamou e disse: ‘Você tem uma escolha. Para ser executivo, você vai para o Rio fazer um curso de computador barra 360. Assim, vai ser complicado’. Eu disse que ia continuar no movimento estudantil. Fui demitido por justa causa. Aí, entrei na militância para valer”, conta. Fala Genoíno: “Vivi no limite todas as minhas escolhas. Quando fui para o movimento estudantil, quando fui para a clandestinidade, quando fui para a guerrilha, quando sai da guerrilha e fiquei cinco anos preso, quando participei da fundação do PT, quando fui para o parlamento, quando tive que me defrontar com as ilusões institucionalistas do parlamento, quando enfrentei o mensalão. Enfrentei a tortura por dois ângulos: a tortura física, que mexe na alma, e a tortura na alma, que mexe no físico”. “Sempre vivi intensamente, não vivi pela metade. Tive lições muito fortes. A principal é que, no sistema capitalista, quando a gente baixa a cabeça, morre. E quando a gente luta, a gente tem chance de ser vitorioso ou de viver com dignidade. Vale a pena a luta. A luta tem uma mística, tem um sentido de sublimação, de eternidade. A gente deixa de ser uma coisa para ser sujeito. A gente deixa de ser número. A gente passa a ser agente transformador. Vale a pena sonhar. Sem sonho, a vida fica muito sem graça”. O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 15, 202449:39
Brasil, com Manuel Domingos Neto – Redemoinho, 15.03.24

Brasil, com Manuel Domingos Neto – Redemoinho, 15.03.24

Historiador analisa o quadro político e econômico do país. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 15, 202413:56
A luta por memória e justiça, com Victória Grabois
Mar 14, 202401:14:02
Mídia corporativa envolvida no Golpe de 64 hoje faz campanha contra a Petrobras, diz Angela Carrato
Mar 14, 202426:18
Não sabíamos que o golpe era programa dos EUA para todo o continente, diz filho de Jango
Mar 13, 202401:20:18
"Seu Nigro foi preso, a cidade toda ficou em ebulição", lembra Inêz Oludé
Mar 12, 202401:06:34
Nas ruas, servidores públicos põem dedo na ferida da péssima administração de SP, diz Adriano Diogo
Mar 12, 202433:06
"Atestado de bom moço não leva a esquerda muito longe", alerta Cid Benjamin
Mar 11, 202401:10:59
"Eu aderi à rebelião dos marinheiros em 64", conta o fuzileiro naval Paulo Coutinho

"Eu aderi à rebelião dos marinheiros em 64", conta o fuzileiro naval Paulo Coutinho

“Os marinheiros cantaram o Hino Nacional, e a gente em posição de sentido, mesmo tendo sido destacados para reprimir aquela assembleia. Em determinado momento, eles começaram a fazer o chamamento para que nós aderíssemos ao movimento, que não fizéssemos qualquer tipo de agressão contra os marinheiros, porque estávamos todos nós no mesmo barco. Nós então começamos a pegar nossas metralhadoras, colocá-las no chão e pulamos o muro e passamos a apoiar a manifestação.” Assim Paulo Coutinho relata ao TUTAMÉIA o momento em que ele e outros fuzileiros navais, convocados para debelar a manifestação da Associação dos Marinheiros em 25 de março de 1964, decidiram enfrentar as ordens do comando da Marinha. “O pensamento meu é que, sendo camponês e tendo assistido, uma semana antes, no dia 13 de março, o comício das reformas na Central do Brasil, nós estávamos francamente apoiando o programa do presidente da República, que é o comandante supremo das Forças Armadas. E eu, como filho de camponês lá do Nordeste seco da Bahia, não podia deixar de estar firme e forte com o presidente da República.” Por causa daquela atitude, o então jovem de 18 anos foi preso depois do golpe e tratado com extrema violência pela Marinha, que chegou a jogar dezenas de prisioneiros no porão de um navio adernado. Solto demais de quase dez meses de cadeia, voltou ao estado natal e voltou a atuar no PC, lá dirigido por Carlos Marighella. Com ele, Coutinho mais tarde se integrou à ALN. Hoje, segue na luta pela democracia: “Não devemos economizar recursos e forças para continuar lutando pela soberania nacional e na afirmação do Brasil como um gigante que tem autonomia, apoiando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nessa postura de recuperar, resgatar a importância do Brasil, sem receio de que possamos ter retrocessos.” O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 11, 202401:21:30
Brasil, com Manuel Domingos Neto – Redemoinho, 8.3.24

Brasil, com Manuel Domingos Neto – Redemoinho, 8.3.24

Historiador analisa o quadro político e econômico do país. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 08, 202421:29
Com o golpe, encabecei a lista de jornalistas impedidos de trabalhar, conta Janio de Freitas

Com o golpe, encabecei a lista de jornalistas impedidos de trabalhar, conta Janio de Freitas

“No dia 31 de março e no dia primeiro de abril, a posição [da mídia] em geral aqui no Rio foi de um golpismo descarado. Rasgaram a fantasia e, com ela, se foram os cuidados”. É o que afirma o jornalista Janio de Freitas ao TUTAMÉIA. “Eu não tive emprego nesse período. Encabecei uma lista apresentada pelo Juracy Magalhães, ministro da Justiça, numa reunião dos donos de jornal, aqui no Rio no Ministério da Justiça. Dessa lista constavam cerca de dez ou doze jornalistas que o Juracy informava que não deveriam ser postos nas redações ou mantidos nas redações. Eram pessoas que os haviam incomodado de alguma maneira ou tinham posições muito claras”. Aos 91 anos, Janio rememora o dia do golpe militar em 1964, o papel da mídia e dos militares. Analista político, ele revolucionou as redações da revista Manchete, do Jornal do Brasil e do Correio da Manhã. Foi colunista da Folha; hoje escreve no Poder 360. Sobre a mídia e o golpe, fala Janio: “Os jornais inicialmente eram censurados. Depois que acabou a censura explícita, havia a censura pelo telex ou pelo telefone. Foi sempre muito obedecida, aqui no Rio, sem nenhum incidente. Porque, no fundo, as chefias daquelas redações concordavam plenamente com o golpe. E, portanto, acharam a censura útil, embora fizessem um certo jogo de cena --que ficava bem, não é? Mas concordavam, aceitavam muito bem. Foi mais ou menos a mesma coisa no país todo, com exceção do Estadão, que deixou espaços em branco; depois, publicou receitas”. MORTE ENGAVETADA NO DIA DO GOLPE Janio lembra dos seus passos no dia do golpe. Em dado momento, resolveu coletar panfletos que eram jogados nas calçadas: produzidos pelo IPES, uma central de conspiração, eram propaganda “vulgar, sem originalidade e nenhuma veracidade”. Um caso ficou marcado em sua memória: “A morte na calçada do clube militar foi testemunhada por muita gente. O tiro veio efetivamente da sacada do clube militar para manifestantes que ali em frente agitavam. Esse incidente da morte foi fotografado. Houve fotografia de uma pessoa morta em frente ao clube militar na Cinelândia. O Jornal do Brasil teve essa fotografia e decidiu que não a publicaria. E depois passou a informar que no dia 31 não tinha havido nenhuma morte no Rio. Essa, pelo menos, houve”. Avaliando a cobertura jornalística daqueles dias, diz: “Os jornais, quase todos, até o dia 30 de março foram muito cautelosos, muito dúbios. Antigoverno, anti-Jango, anti-PTB, antirreformas. Mas com muito cuidado na exposição dessa posição, que, afinal, não representava nenhuma novidade na imprensa brasileira. Com poucas exceções, movimentadas com pessoas como Brizola, que aqui no Rio dispunha da rádio Mayrink Veiga, que foi fechada. E em algumas capitais. No Rio Grande do Sul havia alguma coisa”. E, então, mudou, assinala Janio: “No dia 31 de março e no dia primeiro de abril, a posição em geral aqui no Rio foi de um golpismo descarado. Rasgaram a fantasia e, com ela, se foram os cuidados.” OS MILITARES, 60 ANOS DEPOIS Fala Janio: “A concepção que os militares têm do seu papel num país como o Brasil e é mais ou menos a mesma na América Latina toda, não mudou. Seguiu aquele be-a-bá que os americanos impingiram”. “Então, um Bolsonaro não é um fenômeno. É um capítulo a mais de um correr de fatos que foram passando à história e que continuam passando. Esse processo está longe de terminar. Como ele vai prosseguir, eu não sei. Não tenho nenhuma expectativa. Para pior nem para melhor”. “O 8 de Janeiro é uma parte do capítulo Bolsonaro. Ficou muito claro que o Bolsonaro era um testa-de-ferro das Forças Armadas. Ainda é. Só isso. Um pobre de cabeça, paupérrimo de cabeça, de caráter. Muito rico de ambição e sem nenhum respeito pelo próprio país. Nenhum. Quando Geisel disse que Bolsonaro era um mau militar ele foi muito generoso. Ele é mau tudo”.

Mar 08, 202401:02:38
Minha geração decidiu não se submeter, diz Franklin Martins
Mar 08, 202401:14:03
MST, quarenta anos de luta pela reforma agrária e pela democracia

MST, quarenta anos de luta pela reforma agrária e pela democracia

TUTAMÉIA entrevista João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra. Inscreva-se no TUTAMÉIA TV e visite o site TUTAMÉIA, https://tutameia.jor.br, serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena. Acesse este link para entrar no grupo AMIG@S DO TUTAMÉIA, exclusivo para divulgação e distribuição de nossa produção jornalística: https://chat.whatsapp.com/Dn10GmZP6fV...

Mar 07, 202401:38:07
Big techs conseguiram implementar um sistema de dominação muito sofisticado, diz cineasta
Mar 07, 202455:28