Livros Café e Companhia

Uma noite de Recital

Guga

Lua lá fora

Ela na flauta

Ele ao piano

A sinfonia começa.

Ela flutua no luar

Ele voa entre as estrelas

As partituras se tocam no ar.

Ambos se amam

Mas não se tocam.

Deixam a música falar.

Então

A noite se passa

E o recital

Foi de arrasar.

Sonhos Caídos

Marcio Renné

Caíram meus sonhos

Criados na esperança

Como nuvens desbotadas.

Sumiram as fantasias

Criadas nas sombras

De noites amarguradas.

Perdi a tristeza

De teus olhos e teus prantos

Perdi a alegria

De teus risos e teus encantos

Despejei minha alma

Sonhadora no infinito

Soltei minhas fantasias

Deixei extravasar meu grito

Caíram meus sonhos

Criados na esperança

Mergulhados na sombra

Em noites de amargura.

Paz Noturna

Marcos Barreto

Rogo-te amiga, dócil e leve

Tal qual nuvem que passa…

E carrega suave a tua graça

Na vida sem graça e breve.

Em um tempo que não espera

Que o novo seja um acalento.

Para a alma aflita és o alento.

E a morte, enfim, não impera.

Infinita sede nobre insaciável,

Abrandas tu o âmago da alma.

E deixas a vida deveras amável.

Permita-me repousar no regaço,

Teu zelo me afaga e traz calma.

E, só em ti minhas noites refaço.

A Poça

Mauro Felippe

Na lama inerte

intacta – assentada

exposta ao céu ...

uma poça.

Poça de água parada

sobre a terra – sobre o barro

feita pela chuva

que sempre a transborda e após recua.

Na lama – aquela poça

cristalina e crua

sobre o húmus barrento

que, à noite, no seu reflexo se vê a lua.

Desabafo de um boêmio não correspondido

Mauro Felippe

O que cantar hoje

se meu repertório acabou

minha goela secou

de tanto implorar.

Fiz-lhe seresta

serenata, cantarola

você não me deu bola

nem quis me olhar.

Afogo minhas mágoas na névoa

noite fria, sem trégua

clamando-a com um canto

só para vir conversar.

Percebo não se importares

com este velho, antiquado

um certo ponto quadrado

que um dia apaixonado deixastes ficar.

O Mistério Em Silêncio

Camila S. Lourenço

Parto ao encontro da noite, doce elegia;

Sem muito, perco-me na sua imensidão

Então, busco em minha vã sabedoria

Quem sabe um indício, alguma explicação;

Porque tudo quanto há de mais profundo

Foi moldado com grandiosa excelência!

Cada abismo, cada alma, cada segundo...

Sob a estrela o sêmen, o feto, a existência!

Adormeço a relva, sem nenhum consolo

Nada há que me torne lúcida à aurora.

Distante dos rumores, entregue ao solo

Pairo sobre mim enquanto a terra chora;

Me desperta um canto leve e capitoso

Da terna natureza que me fala a alma

Por um sonho em mim selado e tão confuso

Há írrita ânsia em que a verdade não me falta

O som do silêncio acalma o coração

Que mesmo em face do fruto proibido

Nada importa mais ante a revelação

Que a paz sublime do momento vivido.

Olhares Noturnos

Eneida Monteiro Nogueira

O sol escorrega por trás das montanhas, rios e mares.

Novas protagonistas adentram ao palco.

O espetáculo das luzes se inicia:

A lua prateada derrama matizes, deixando rastros por toda parte,

as estrelas cintilam sob as cidades.

Eis aqui o cenário que inspirou Van Gogh:

Noite estrelada!

As luzes da cidade conversam com as luzes do céu

Num diálogo perfeito, que também ilumina você.

Os pássaros trocam de turno:

Andorinhas e Bem-te-vis saem de cena.

Corujas, morcegos iniciam o sobrevoo pelas alamedas.

Até o sabiá-laranjeira tem estado presente com insônia...

Os grilos se reúnem em corais.

A noite exerce fascínio...

Adormece os trabalhadores diurnos

ou anima os notívagos a saírem.

A noite é feminina.

E, como mãe, acolhe;

Cabe a nós nos deixar envolver.

A noite é poesia

E cabe a nós perceber.

Travessias Noturnas

Elianes klein

No horizonte o sol adormece

Estrelas no céu a marcar

A madrugada na espera

Reflexos do amor a lembrar.

Em cenários distantes

Por onde anda o destino,

Ruídos no coração...

A alquimia dos encontros,

No tempo de espera, o sentir.

Travessias ao compasso das horas

Somos encontros consignados,

Os sentimentos apontam um novo horizonte

Entre o sonhar e o viver...

Na beleza dos instantes,

Marcas no desejo da alma.

No corpo aquecido das travessias noturnas

Novo recorte no olhar dos afetos...

Passar a noite em claro é a realidade

A quem acordado tem o amor dos sonhos.

JOGO (de luz e escuridão)

Ananda Vardhana Devi Dasi

Ama o finito.

Chama o céu da noite

de chão.

Estrelas cabem

na palma da sua mão.

As coisas feitas com amor

Têm seu tom, a sua cor.

Num jogo de luz

E escuridão,

Menino bonito

muda a lua de lugar.

Depois diz para ela voltar

Que quer ouvi-la chamar

O seu nome,

E dizer que o ama

E fazê-lo feliz gargalhar.

Quem coleciona cometas

e gosta de brincar

Traz esse menino consigo.

Uma noite dentro de mim

Liliane Mesquita

Queria anoitecer dentro de mim.

Iluminar a esperança lunar de dias felizes,

Descansar de todas as angústias e

Viajar nas galáxias dos meus sonhos.

Na escuridão dos meus sentimentos mais profundos,

Descobrir emoções juvenis.

Adormecer as angústias que imobilizam meu ser,

Respirar o silêncio de uma mente tranquila e

Aceitar minhas fases como processo lunar.

Vislumbrar as estrelas que habitam em mim e

Contemplar as constelações das minhas possibilidades.

Ver os problemas como cometas, que passam e

Riscam o céu da minha maturidade.

Admirar o brilho dos planetas e boas vibrações que hão de advir.

Aninhar-me na segurança do aconchego dos braços que me acolhem,

Adormecer as aflições,

Enluar de amor os meus dias

E após uma noite dentro de mim... amanhecer e recomeçar.

Choro de Bebê

Daniella Cury

21 horas, o bebê chora.

Ecoa o choro, a babá demora.

Chega o acalanto, dorme o bebê.

22 horas, o bebê chora.

Ecoa o choro, a mãe demora.

Chega o peito, dorme o bebê.

23 horas, o bebê chora.

Debaixo da cama, a mãe o protege.

Tiroteio cessa, dorme o bebê.

Meia-noite, o bebê chora.

Na calçada fria, com papelão, a mãe cobre a cria.

Dorme o bebê.

Uma hora, lado a lado, bebês choram.

A cuidadora ronda os quartos do frio orfanato.

Os bebês choram.

Duas horas, o bebê chora.

O socorro demora.

Mãos estranhas desembrulham o plástico.

Seguram o pequeno, cordão umbilical pendente.

Salvam o bebê

É madrugada.

Mães choram.

Olhos da noite

Eliane Bacocina

Quando chega a noite,

Alguns veem a escuridão.

Outros refletem sobre como foi o dia

E anotam num caderno de gratidão.

Alguns planejam o dia seguinte,

Outros não conseguem dormir.

Alguns dormem como pedras,

Sem tempo para refletir.

Algumas pessoas permanecem acordadas

Vendo TV, séries e programas de distração.

Algumas trabalham em lugares inusitados,

Outras praticam a meditação.

Outras, ainda, frequentam bares e baladas,

Dizendo que a noite é uma criança.

Ficar em casa ou sair para a rua?

Olhar para dentro de si ou contemplar a lua?

Privilegiar o descanso ou a agitação?

Preocupar-se ou alimentar a esperança?

Não importa o sentimento.

A noite pode ser um momento de reflexão.

Momento de finalizar um ciclo

E, por que não, buscar inspiração?

Vamos fechar os olhos da mente

E abrir os do coração.

A Lua e Eu

Lafrança

Eu e Ela,

Ela e Eu,

abismadas.

Nesse encontro casual,

não cabe dissimulação.

Contemplação é laço!

Sob o mistério e silêncio da noite...

Pura poesia disfarçada,

é chuva de pirilampos,

estrelas cadentes

na escuridão.

Sob o mistério e silêncio da noite...

Pura poesia disfarçada,

são os ventos uivantes.

E o canto rasgado da coruja,

um convite à melancolia!

Sob o mistério e silêncio da noite...

Pura poesia disfarçada,

Eu e a Lua,

a Lua e Eu.

Captura de um olhar,

atado à alma de artista.

O Poder de Amar

Manu Dias Arello

É na noite e na sua escuridão

que conseguimos apurar o coração

Durante o entardecer

conscientizamos o que é crescer

Refletir o que aconteceu

quem foi que padeceu

e quem menos sofreu

é uma busca do eu

Na evolução de cada ser

vem com o anoitecer

a possibilidade de rever

e de continuar a escolher

Sonhos especiais a realizar

diante da escuridão buscar

numa noite escura resgatar

todo o poder de amar

Noite dos Tempos

Bel Wells

Amanheceu o dia, da Noite dos Tempos

A noite que marcha pro centro

Que recusa o “fora”

Que concede o “dentro”

Noite dos Tempos, de natureza eterna, que não se pode descrever

Atravessá-la, percorrê-la, se ver dentro dela

Até o sol se erguer

por um negro deserto sonolento

um sono perturbador de sentimentos

Tua cama será a arena, pro sonho único

Onde teu nome interno te acena…

Noite dos Tempos… que toca sua Alma, e a luz, traz

Legítima em sabedoria, diferente das demais

Você enxergará nesta noite:

A compreensão, a existência e o caminho, Eu creio, eu sou, eu vejo

Tudo o que no sono profundo, almejo

Amanheceu a Noite dos Tempos

Noite em que reina a presença

Das iluminadas Essências…

Já é tempo de anoitecer

De deixar-se por esta noite, envolver.

O território desta noite será sempre o seu lugar

Onde os corações puros vão se encontrar.

Cio em noite de Lua

Félix Barros

Uma noite em frente ao mar.

Uma lua cheia de amor.

Um olhar a me contemplar.

Meu olhar perdido no seu.

Enquanto o rio abraça o mar,

Tendo a lua e as estrelas por testemunhas,

Meu olhar envolve o seu olhar,

E de repente nossas almas são uma.

Envoltos em beijos e abraços,

Os corpos no prazer abandonados.

O brilho dos corpos suados,

Brilho da lua e das estrelas na crista das ondas.

Nosso desejo invadindo o rio.

Nosso amor inundando o mar.

No vai e vem das ondas,

Batalham mar e rio,

Até que o gozo, em espasmos lúdicos,

Leve os olhares perdidos

A contemplar os astros na noite clara.

Calmaria Noturna

Ana Cordeiro

O silêncio invade o meu ser,

Como a me lembrar

Que é noite outra vez.

Que a calmaria se instalou

Relaxando os momentos de incertezas

Vividos tão intensamente

Sob a pressão das labutas diárias.

Como a me lembrar,

Que não adianta nada me apressar,

Pois sei que as imperfeições sempre estarão lá,

Deslizando na inconsciência da noite.

Embalando os sonhos escondidos

Nos arredores da minha existência,

Na busca de verdades não ditas

Que dentro de mim habitam.

Nos meus medos noturnos

Dissipados pelo brilho dos pirilampos,

Ladeados por ventos sussurrantes

Que me sopram aos braços de Morfeu.

Alheio às batalhas que serão travadas

Em um próximo amanhecer.

Nas escadarias da vida,

Entre as subidas e as descidas,

Vejo passar numa velocidade

Distorcida, os sopros da vida,

Numa corrida espremida,

Entre a chegada e a partida.

Star com você

Mila Bedin Polli

Cai a noite.

Chega o silêncio.

Vem a calmaria: esfria.

Encontro aconchego: espelho.

Descanso na rede: parede.

Vejo a lua no céu: papel.

Escolho uma estrela: derradeira.

Viajo no espaço: sargaço.

Em uma galáxia: audácia.

Te quero ao luar: cantar.

Sem eira nem beira: faceira.

A noite inteira: amar.

Cai a noite.

O silêncio te aquece: entontece.

Vou te encontrar: star.

Lua

Pablo Quinalia

De São Jorge a estrela

Toda sua, toda nua

Brilha no céu, na noite, toda sua

Lua, perfeita como uma deusa

Me traz sempre a clareza

No breu, no mistério da noite preta

E como brinca... enfeita a noite

Traz seu encanto de baluarte, é a grande rainha da arte!

Senhora dos amantes, guia dos navegantes

Visão elegante de um mirante

A noite sempre segue,

E ela: cintilante e elegante,

É a grande maestrina das estrelas

Senhora do tempo e de seus compassos

Ilumina todos os nossos passos

Dona de nossos segredos

Escritora de vários enredos

Ah, Lua! Toda nua, toda sua

Senhora do céu, da noite da terra

Tira seu véu, me faz provar do seu mel

E no mistério da noite no céu

Lua me leva para o seu lugar

Venha de longe me abraçar

É contigo que eu quero viajar.

Outra noite na cama

José Romilso da Silva

Quando a noite parece demorar,

nos mostra o que fazemos com a vida,

vivendo apenas em pensamentos

que confundimos a realidade

com os sonhos na nossa mente.

Ficamos sem ação e

sem sentir na pele a vida fluir,

esperando pelo nosso bem-querer

sem dar conta que, a qualquer hora,

poderemos estar sozinhos,

em prantos e lamentos pela vida

que não arriscamos viver.

Quantas noites apenas sonhando

em se entregar ao tão desejado amor,

mesmo sem saber se ele também

nos deseja como seu amado amor.

Fico outra noite na cama,

deitado e, ao meu lado,

ainda há um espaço vazio.

Alta Noite

Genedilson Monteiro

Vagalume

triste

vela

Fogofátuo

gira

sol

Chama

langue

ela

Unto

cinza

pó

Sorriso da Noite

Moacir Angelino

Noite de luz

Noite de sonhos

Noite de encantos

O canto de ninar

O cantar de namorar

O cantarolar para acordar

A noite tem disso

Corta o dia para levar

Alegria, vida e sorriso

Noite escura

Raíssa Kikuchi

noite escura

de todos os ângulos da janela

és cura

noite escura

onde encontras repouso

és cura

noite escura

das lágrimas e súplicas

das angústias e lamentos

és cura

faz escrever o poeta

faz ouvir o silêncio

és cura, noite

noite escura

A noturna Rainha Celeste

Sandro Gallina

Anoiteceu e o Sol se escondeu em seu mausoléu

Esplendorosa e excitante, a rainha Lua assume seu papel

Instigante, intensa e imponente, iluminando todo o céu

Oculta entre as nuvens, a falta dela pode ser cruel

Unânime e universal, a todos ela cobre com seu véu.

Amantes aproveitam a mesma noite para se apaixonar,

Escolhem brilho nos olhos que aquecem seu coração,

Iluminados pela luz da rainha celeste, irão se amar,

Orvalho, refletindo de lá do céu o luar aqui no chão,

Usufruindo o melhor da noite, cada qual em seu lugar.

Adormecem aqueles seres que têm sono e que podem dormir

Embarcando nos braços de Morpheu, que os leva a viajar

Imaginando lugares, seres, experiências, sem nada a suprimir

Observando os universos que só a noite pode presentear

Usufruto dos sonhadores, a noite enluarada também irá seduzir.

Sua majestade, a noite

Selma Luciana

Noite que chega sem pedir licença,

Dispensa o sol, chama pela lua.

Sua majestade e seu negro manto,

Encanto desperta em muitos olhares.

Para a maioria, bem-vinda noite,

Açoite para outros, porém;

Sem o esperado descanso,

Remanso que nem de noite vem.

Quando a alma está em agonia,

Dia e noite se misturam, tudo é breu,

Perdeu-se o gosto, a esperança,

Dança sem ritmo, sem compasso.

Noite estrelada, de lua, de magia,

Alegria esfusiante, risos, promessas

Impressas nos olhares de paixão,

Atração, delírios, sofreguidão...

Música, dança, vida, movimento,

Momento de relaxar, curtir a vida

Contida, dentro de cada ser.

Beber, degustar, saborear, viver.

Recarregar as energias, descansar,

Filosofar, viajar em pensamento,

Momento zen, dormir, sonhar.

Acordar, enfim, para um novo dia!

Noites Claras

Selma Luciana

E a noite vai chegando,

Tudo encobrindo com seu véu.

Ansiosa, aguardo que a lua,

Venha clarear o céu.

Que as estrelas se acendam,

Como vaga-lumes em festa,

Até que meus olhos se rendam,

À beleza que a noite manifesta.

Eu posso sentir a presença de Deus,

Na perfeição desse momento,

A grandeza do que entregou aos seus.

Agradeço, num puro encantamento.

Noite do descanso, do alento,

Da esperança no amanhecer.

Hora de ter bons pensamentos,

De orar, pedir a Deus, agradecer.

Insônia

Rose White

A noite vai passando...

Um manto escuro me cobre

Vejo longe pequenas luzes

Serão anjos que me acolhem?

O barulho do silêncio

Agita minha alma

É o som que vem de dentro

A “Voz” que nunca cala.

Noites passam por mim

Vida que ontem já vivi

Vida que chega, toda hora

Chega!

Traz a aurora

Viagens das madrugadas

Uma alma de viajante

Atravessa rios e mares

Segue o pulsar de um coração ofegante

Chega, luz do sol!

Vai, escuridão da noite

As estrelas e a lua foram companheiras

Já tive por hoje a dose de açoite

Meninas da noite

Nadilson Portilho Gomes

À noite ficam vagando, de um lado para o outro

À espreita de uma oportunidade

Querem nascer, de alguma forma

Conversam entre si, misturam-se

Agora fazem sentido, entrelaçadas

Fazem pensar e esquecer, em versos

Doam-se e completam-se, agarradinhas

Como crianças divertem-se e se entregam

Azuis, amarelas, vermelhas, brancas, não importa

Reluzem como estrelas cintilantes

Vão confortando a alma, com abraços

E consolam a existência para o dia que vem

As melhores poesias nascem na noite

Vão brilhando sozinhas na escuridão até o nascer do sol.

O Crepúsculo e o Brilho da Esperança

Derli Batista da Silva

No horizonte o crepúsculo anuncia a noite

E com sua beleza nutre a nossa esperança.

E dos olhos faz nascer caminhos

Que inspiram o viver e as andanças.

No silêncio do quarto,

A noite nos mostra a consciência de perto.

Traz ao pensamento preocupações e lembranças

Que a vida nos apresenta no cotidiano aberto.

O escuro da noite traz beleza, tom, sons,

Sonhos, descanso e um renovar das energias,

Para um melhor caminhar

E desbravar as trilhas e as lutas da vida.

A constelação celeste, tão apreciada em estradas e campos,

Nos enche de encanto e de risos,

Faz brilhar os nossos olhos

E acende em nós a paixão pela vida.

A estrela ao brilhar traz a esperança.

Faz palpitar mais o coração

E nutre os sentimentos de amor e fé

Que sustentam o nosso ser, dia e noite.

Banquete na Lua Minguante

Tati Klebis

O sorriso da lua, anêmico, fraco e triste a um espetáculo assiste

inerte no céu, quase lânguido, sem tirar o seu véu.

A vampira se esgueira, em busca de sua caça, silenciosa e sorrateira.

E o unicórnio baila, livre, ágil e belo, atrás de sua preia.

Alheia, a jovem caminha, sem medo ou temor,

e somente para ao ver a estranheza de seu predador.

Hipnotizada, não se move, apenas encara seu destino,

nesta noite serviria de alimento a um ser distinto.

Fecha os olhos e uma oração aflora em seu coração:

que seu encanto na noite permaneça e não se perca.

A vampira, lépida e precisa, num único golpe, sua presa abate,

e sente a vida fluindo, colorindo o branco de escarlate.

Ao não sentir o golpe, a moça as pálpebras levanta,

e à sua frente vê algo que incrivelmente a choca e espanta.

O unicórnio, que dela ceiaria, num segundo se tornou refeição.

E ela, livre de seu narcótico e sedutor olhar,

sem nem raciocinar se põe a correr sem direção,

desejando apenas fugir e em qualquer outra parte chegar.

A vampira, após se refestelar, na grama aveludada deixa seu corpo tombar.

Jamais permitiria que outro unicórnio ceifasse uma infante.

E, olhando para o céu, agradece por mais um banquete na lua minguante.

Feitiço da Noite

Cassi Klebis

A sombra se materializa

E a escuridão cristaliza

Na imensidão crua

Dois corpos brincam à luz da lua

No abraço quente da noite

O amor floresce como a dama-da-noite

Em seus sonhos vai lembrar

Da nossa noite ao luar

Saudades vai sentir

Sem saber pra onde ir

E quando me procurar

A lembrança vai encontrar

Do amor sem fim

De uma noite orvalhada no jardim

E, ao despertar,

Seus lábios o vento vai beijar

E para essa energia recriar

O feitiço da noite vai recitar

Profundezas da Noite

Marluci Ribeiro

A noite tece seus meandros

Enredando quem a ela se entrega:

Na balada, na cama, na jornada...

No drama da insônia e da esfrega.

É ela quem, no fim das contas, nos pega

E nos traga para si, sem pena.

Embarcamos em suas garras

Livre de amarras

Sob seu escafandro

Que, como ser nefando,

Nos acolhe e nos apaga.

E assim, invigilantes - mais cegos do que antes -,

Mudamos de cena:

Entregamo-nos, inocentes, a esse breu profano

Que, a cada ano,

Nos mostra, silente,

O quantos somos dependentes

Dessa quase-morte cotidiana.

Viva, pois, essa letargia (ou euforia)

Travestida de luar que nos faz suar e sonhar...

Servindo de algoz (com seu açoite)

Ou de mote (em total libertinagem),

A fim de, juntos, empreendermos essa viagem

Em direção às profundezas da noite!

Noturno

Carlos Affei

Rua deserta

postes iluminados

árvores

e sombras.

Eu ali

adolescente

assombrado

na janela.

Madrugadas assim

quantas?

Por qual motivo?

Há tempos acalmado

já não sabe este vulcão!

Equinócio

Álvaro Smont

O gorjeio do pássaro ecoa na botânica

sobre o r(ar)efeito, em azimute,

o raio de sol sobre as pétalas

desabrochadas no crepúsculo.

As folhas balouçam

no ritmo assimétrico

conduzidas pelo leve sopro

da manhã serena.

os campos exibem

a flora em aquarela

no manto policromo.

Perfumam e denotam

o renascer do novo ciclo.

panapaná azul:

nuvens ambulantes,

o fenômeno doble

– estação primavera.

Infinito

Luciana Alvim

Infinitas são as madrugadas

Infinitas são as lágrimas

Infinita é minha vontade de te ver

Infinita como o amor que sinto por você

Infinitos são os raios de sol

Iluminando a imensidão do mar

Infinitas noites de luar

Em que não sei mais quem sou

Dizem que o infinito

É o símbolo matemático mais perfeito

Mas infinita mesmo

É a saudade que tenho em meu peito.

Luto

Verlaine Pretto

Não me faça sofrer

falta adorada

o que mais tenho a oferecer

oh saudade imaculada

aqui resido na dor

Onde teus olhos forçosamente

fecharam-se para sempre

e ninguém, nem através do amor

convencer-me-á saia daí!

não daqui não saio

vivo em ti dor da saudade

Convença-me luz eterna do contrário

passe-me alegria se teu mister é

não consegues resposta pronta

como esquecer como abandonar

porque a estes olhos

eternamente ei de amar

Mulher, Mãe, Missionária

Maria José M Sampaio

Amélia Santiago Monteiro,

Tão forte quanto teu nome, tua personalidade.

Na escola da vida, eras autoridade;

As dificuldades sucumbiam diante da tua fé

Como Mãe, Missionária e grande Mulher.

Quando criança, alguns costumes da época eram sofrimento

Aos 13 anos, acertaram teu casamento,

Noivaste aos 15 anos, e aos 17, casaste,

João Alves Monteiro foi o felizardo.

Junto a onze filhos, das trincheiras do Marajó,

Para Oeiras do Pará, e finalmente Ananindeua,

Tua história de luta, primeiro Deus, depois a labuta.

A fé conduzia teus passos e criava espaços

Todos sentiam-se acolhidos como parentes,

Socorrias as crianças, os idosos e os doentes,

Além de remédios, higiene, alimentação, oração e lazer,

Era interação, alegria e responsabilidade,

Tua missão era fazer o bem sem olhar a quem;

A saudade te mantém viva entre nós,

Pelos cantos dos sabiás, ainda ouvimos tua voz.

O Sanhaçu

Miguel de Souza

Se quem canta mais belo é o sabiá

e há mistério no do uirapuru!

Em matéria de beleza não há

quem seja mais bonito que o sanhaçu!

Suas plumas são tão fofas a ornar

os ares do Brasil de Norte a Sul!

Com matiz, com misturas a voar

nas malhas tão profundas do céu azul!

Suas penas azuis, acinzentadas

só podem mesmo ser assim pintadas

pelo pintor de todos os pintores!

Que em tudo quanto há na natureza

Ele pintou com graça e com beleza,

tudo, enfim, com as suas lindas cores!

Ponte para o Reencontro, Portal para o Inesquecível

Débora Torres

A dor que na saudade habita

Floresce do amor que fica

Por alguém, que não mais se faz presente

Pelo momento, vivido em tempos pretéritos

Senti tocar na alma um delicado prisma

Como se a revoar sobre alvas flores

Tal qual um translúcido e incorpóreo beija-flor

Quem sois? Perguntei mentalmente

Sois tua saudade. Retumbou com devoção

Não me sinta com a transfiguração da dor

Me aceite pela purificação do amor

Pois trago o que anseia teu coração

Suplicou-me com fervor

Ah, minha saudade!

Transmutada em arco-íris de saudosos prismas

És ponte para o reencontro de corações

Portal para momentos reviver

E o pêndulo difusor dos tempos agora voa

Sem amargar a doce alegria ou chorar o coração

Acalanta-me no erguer e abrir das emoções

Por Que Não Canta o Sabiá

Hélio Yassuo Matukawa

Sentei no canto em silêncio e observei as pessoas passarem

Batendo suas pernas com a velocidade que o sabiá bate as asas.

Ah, o velho sabiá.

Seu primeiro parceiro de canto, companheiro de asas.

Aquele que te ensinou que parar para repousar faz parte do voo.

A praça sempre foi pequena pra você, mas também sempre foi seu refúgio.

Daqui você partiu pra conhecer o Brasil.

E quando o nosso imenso país ficou pequeno, você foi conhecer o mundo.

Talvez você tenha imaginado que o mundo também ficaria pequeno.

Cogito essa ideia e sorrio, enfim.

Repito a mim mesmo que você quis visitar as estrelas.

E então, da praça, seu antigo refúgio, te observo em seu novo lar,

Brilhando numa dança de luzes como quem grita a felicidade.

Ouço sua voz pelos cantos. Mas não ouço o sabiá.

Em terra de saudade, as aves não mais gorjeiam.

Já não canta o sabiá.

Restauração

Axé Silva

Tecer a alma

Ao nascer de cada manhã

Respeitar a língua das infinitas e infindas naturezas à minha volta:

Tocar com ternura e sentir a textura do solo

Essas minhas mãos que afagam a terra e o alimento ainda em gestação.

E o que dizer do fogo, companheiro que aquece, aguça

e atrai meus olhares num misto de sedução e medo?

O sol, com seus raios, testemunha tudo em seu aparente caminhar.

E com o ar, amigo involuntário, dele me alimento e me embriago.

Quando triste, respiro profundamente, por muitas e tantas vezes

Até chegar o momento de sentir meu corpo levitar

É uma forma de amenizar os amargos cotidianos

Verdadeiras chagas que não vão.

Sou uma mulher comum, em nada me destaco

Sei, com algum sofrimento e não menos, com certa tristeza,

Que nasci só e partirei só.

A jornada até aqui também não foi diferente.

O conforto vem da capacidade de sonhar toda a noite

Essa eu não perdi.

Dentro de cada morte noturna há um pulsar de imagens e sensações

etéreas

Já fui tudo e todos dentro de cada um deles

Sinto que o tempo de viver

Não é o mesmo tempo de existir

Que na vida não há excitação ou medo.

Há excitação e medo.