Para fechar a primeira fase da Rádio Malfalada, não poderíamos fazer de outra maneira a não ser trazer Maria Antonia em primeira pessoa e além do bicentenário da independência. Nos episódios anteriores, tivemos a participação de pesquisadoras e pesquisadores que trouxeram a trajetória de Maria Antonia e também o contexto em que viveu e escreveu. Hoje, faremos um pouco diferente: o texto “O maximalismo e os anarquistas” será lido inteiro por Samantha Lodi.

Publicado em 6 de novembro de 1920 no jornal “A Plebe” é um dos textos mais longos e mais complexos de Maria Antônia. Em um formato ensaístico, ela discute de forma riquíssima sobre o impacto da Revolução Russa, em especial o bolchevismo, entre os anarquistas. Com um conhecimento aguçado de seu contexto e principalmente da circulação de ideias do período, Maria Antonia demonstra aquilo que a fez conhecida — sua “fé inabalável” na anarquia — como disse Isabel Cerrutti, outra mulher anarquista e contemporânea.

Maria Antonia defende enfaticamente a Revolução Social e chama atenção para como o maximalismo, nome dado ao bolchevismo, era incompatível com os princípios anarquistas e apresenta as diversas formas de propaganda e organização libertária. Como, por exemplo, quando avalia as ideias de um dos personagens da Revolução Russa, o bolchevique Karl Radek e as diferentes formas de viver e lutar no anarquismo. Maria Antonia não separa fins e meios. Para ela, a Revolução Social não virá de uma ditadura do proletariado e muito menos de um partido, mas sim do povo. Dessa forma mostra mais uma vez sua fé inabalável na vida vivida no ideal, onde se vive no hoje aquilo que ainda está no porvir.

Maria Antonia foi uma intelectual de seu tempo. Sua escrita carrega toda a sua experiência política como mulher, anarquista, agitadora e pensadora. Muitas vezes a escrita feminina só é considerada quando trata das experiências femininas, mas mulheres como Maria Antônia mostram que o espaço no debate político também era disputado e analisado por elas. Para mulheres como Maria Antonia escrever era ainda se inscrever no mundo, elaborando a sua própria subjetividade, afinal a escrita não era algo para pessoas como elas. Porém, para Maria Antonia e muitas outras mulheres anarquistas, a escrita mantém viva o espírito de sua revolta e impulsiona a vida, vivida na luta. Como disse Isabel Cerrutti: “A tua vida não te pertence, consagraste-a inteira à causa da humanidade a geração futura te bendirá”. Nós da Rádio Malfalada te bendizemos, Maria Antonia!

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Rádio MalfaladaBy Radio MalfaladaApr 17, 2023