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Desconjuro

Desconjuro

By Thiago Da Hora

Contos de terror rural baseados em personagens obscuros da história regional. Texto de Thiago da Hora, arte de Sérgio Bazzanella.
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#03 - A procissão das almas

DesconjuroNov 19, 2020

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25:55
#03 - A procissão das almas

#03 - A procissão das almas

Os que morreram nunca partiram:
Estão na sombra que amanhece
E na sombra que se ensombra.
Os mortos não estão sob a terra:
Estão na árvore que treme,
Estão no bosque que geme,
Estão na água que escorre,
Estão na água que dorme,
Estão na cubata, estão na multidão:
Os mortos não estão mortos.

Os que morreram nunca partiram:
Estão no seio da mulher,
Estão na criança que chora
E na brasa que se incendeia.
Os mortos não estão sob a terra:
Estão no fogo que se extingue,
Estão nas plantas que choram,
Estão no rochedo que geme,
Estão na floresta, estão na casa,
Os mortos não estão mortos.
Escuta antes as coisas do que os seres
Ouve a voz do fogo, ouve a voz da água.
Escuta através do vento o lamento do arbusto:
É a respiração dos antepassados
a respiração dos antepassados mortos,
Que não partiram
Que não estão sob a terra
Que não estão mortos

Todos os dias se repete o pacto,
O grande pacto que liga,
Que liga à lei o nosso destino,
Aos actos dos alentos mais fortes
O destino dos nossos mortos que não estão mortos,
O pesado pacto que nos liga à vida.
A pesada lei que nos liga aos actos
Respirações que se movem
No leito e nas margens do rio,
Respirações que se movem
No rochedo que geme e no capim que chora.

Respirações que permanecem
Na sombra que amanhece ou se ensombra,
Na árvore que treme, no bosque que geme
E na água que escorre e na água que dorme,
Respirações mais fortes que engoliram
A respiração dos mortos que não estão mortos,
Os mortos que jamais partiram,
Os mortos que já não estão sob a Terra.

[RESPIRAÇÕES, de Birago Diop. Março; 1943]

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A PROCISSÃO DAS ALMAS, episódio #03 do Desconjuro Podcast.

Texto, narração e edição: Thiago da Hora

Arte: Sérgio Bazzanella

Música:

- The Spring - Chad Crouch (Instrumental) [https://freemusicarchive.org/static]

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Contato:

E-mail: thiagaodahora@yahoo.com.br

Twitter: @thiagodahora

Instagram: @desconjuropodcast; @bazzaverso

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[Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.]

Nov 19, 202025:55
#02 - A vingança dos Brito

#02 - A vingança dos Brito

" [...] Estava meu filho em nossa casa e no seu trabalho, quando o referido Amaral mandou chama-lo para o negocio supra citado, sendo o portador o farmacêutico Manoel Joaquim de Souza Brito, tio de meu filho, homem incapaz de ofender a qualquer um. Sahiram, tio e sobrinho. Chegados á ‘Pharmacia S. Bento’, situada no largo da matriz desta cidade, de propriedade do referido Francisco do Amaral, este fez-lhe nova proposta e conversaram amigavelmente, quando de súbito entrou todo tremendo e colérico o dr. Carvalho, dirigindo-se ao mesmo Amaral da seguinte forma: - “O que faz este canalhinha aqui?” Com a resposta do Amaral, cuja ignoramos, dissera ele Carvalho: - “Espere ahi que já o aprompto”; dito isto, encaminhou-se do meu filho e, chegado ao pè deste, segurou-o pelo peito, descendo sobre ele muitas bengalladas, das quaes resultou abrir-lhe a cabeça, havendo também lucta e sucedendo cahir meu filho por baixo. Vendo-se assim aggredido e em perigo de vida, visto como o dr. Carvalho procurava uma faca que comsigo tinha, meu filho, em legitima defesa, tirando de um revólver com o qual se achava, desfechou-lhe os tiros precisos para salvar-se do enorme perigo que via deante de si! Eis ahi, meu caro senhor e bom Patricio, o assassino que dizem! Si tivesse sido um paulista, ficaria sendo um homem valoroso, de sentimentos nobres e cheio de virtudes, mas como se trata de um sergipano..." 

Trecho da carta da mãe de Rosendo Brito, publicada no jornal O Comércio de São Paulo em 13 de fevereiro de 1897, seis dias depois de Rosendo e seu tio, Manoel de Souza Brito, serem linchados na praça da matriz São Bento (Araraquara-SP) em retaliação à morte do coronel Antônio Joaquim de Carvalho. 

[In. Linchaquara - O assassinato dos Brito, artigo de Luiz Michel de Françoso, mestre em Ciências Sociais pela UNESP-Araraquara; disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/cadernos/article/view/7703] 

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A VINGANÇA DOS BRITO, episódio #02 do Desconjuro Podcast

Texto, narração e edição: Thiago da Hora

Arte: Sérgio Bazzanella

Músicas: 

- Unholy Rites - Gamaliel [https://freemusicarchive.org/static]

- To Start Again - Monplaisir [https://freemusicarchive.org/static]

Contato:

Twitter: @thiagodahora

Instagram: @desconjuropodcast; @bazzaverso

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[Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.]


Oct 09, 202025:19
#01 - O fantasma de José Galvão

#01 - O fantasma de José Galvão

“O mais célebre grupo de salteadores das Minas, a quadrilha da Mantiqueira, agia no alto da serra, perto do trecho em que o Caminho Novo se bifurcava na vila de São João del Rey e em direção a Vila Rica. Liderada por José Galvão, cognominado Montanha, um gigante de pele morena, cabelos compridos e barba cerrada que muita gente dizia ser de origem cigana, a quadrilha contava com uma rede de informantes espalhados pelas vilas: todos de olho na passagem de comboios que transportavam grande quantidade de ouro ou em comerciantes carregados com diversas canastras de mercadorias – indício certo de que levavam consigo bastante dinheiro. Os homens do Montanha impressionavam tanto pela violência quanto pela audácia. O viajante teria muita sorte de não acabar assassinado e enterrado, com todas as suas roupas, papéis e alforjes vazios, no ermo da serra. Como a notícia dos assaltos corria solta, o medo cresceu, a população das vilas cansou de pedir providências ao governador, o trânsito na estrada começou a diminuir, e não foram poucos os comerciantes que deixavam prontos seus testamentos antes de encetar viagem.”

Trecho de Brasil: uma biografia, de Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling.

[São Paulo: Companhia Das Letras, 2015; p. 120/121]

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O FANTASMA DE JOSÉ GALVÃO, episódio #01 do Desconjuro Podcast.

Texto, narração e edição: Thiago da Hora

Arte: Sérgio Bazzanella

Músicas:

- Die Leere im Kern Deiner Hoffnung – Es stirbt in mir [https://freemusicarchive.org/static]

- Le Violon Rouge (Soundtrack) - John Corigliano [youtube.com]

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Contato:

Twitter: @thiagodahora

Instagram: @desconjuropodcast; @bazzaverso

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[Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência]

Sep 25, 202021:54