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Um Poema Por Dia

Um Poema Por Dia

By Um Poema Por Dia

Olá! Já pensou, você receber um poema todos os dias, daqueles que nos enche o peito de alegria, arranca suspiros e sorrisos e nos permite levar um dia mais leve?

Então: “Um Poema por dia” é um projeto do Programa de Educação Tutorial do CEFET-MG e está aí, para nos ajudar a passar de forma mais leve, por esse tempo necessário de reclusão.

De alma livre e coração aberto, esperamos, que vocês desfrutem desse momento de inspiração junto com a gente!
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Por Não Estarem Distraídos

Um Poema Por DiaJul 23, 2020

00:00
02:58
Emergência
Aug 15, 202001:11
Fragmento de Vida e Proezas

Fragmento de Vida e Proezas

Fragmento de Vida e Proezas por Sérgio Gomide


" [...] Lembrei-me de certa manhã, num Pinheiro encontrei um casulo, no instante em que a borboleta dentro dele rompia a casca e se preparava para surgir. Eu esperava, esperava, estava demorando e eu tinha pressa. Então me inclinei sobre ela e comecei a aquecê-lá com o meu hálito, impacientemente eu aquecia e um milagre começou a se desenrolar diante de mim com um ritmo veloz e antinatural, a casca abriu-se completamente e a borboleta surgiu. Jamais esquecerei o meu horror, suas asas ficaram frisadas, não se desdobraram, todo seu corpinho esforçava-se para desenrolá-las, mas não conseguia.

Com o meu hálito, eu também me esforçava para ajudá-la, em vão, ela necessitava de um paciente amadurecimento e desdobramento ao sol, mas agora já era tarde. Meu sopro havia forçado a borboleta a surgir antes da hora, enrugada e temporam. Saiu imatura, moveu-se desesperada e logo depois morreu na palma da minha mão. Acho que esse penugento corpo morto da Borboleta é o maior peso que carrego na consciência. Eu compreendi então em profundidade, é pecado mortal infringir as leis eternas, temos o dever de seguir o ritmo perpétuo com confiança.

Para assimilar calmamente essa reflexão de ano novo empolerei-me em um Rochedo. Aí se eu pudesse, dizia para mim mesmo, neste novo ano ritmar minha vida assim: sem paciência histéricas. Se essa pequena borboleta que eu matei porque tive demasiada pressa para fazer viver, voasse sempre diante de mim mostrando-me o meu caminho e assim uma borboleta que morreu precocemente talvez ajudasse uma irmã, uma borboleta humana a não se apressar e a conseguir desenrolar as asas em ritmo lento [...]"


Autor: Alexis Zorbas

Aug 15, 202002:29
Cântico Negro

Cântico Negro

Cântico Negro por Odilon Esteves.


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com olhos doces,

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: "vem por aqui!"

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:

Criar desumanidade!

Não acompanhar ninguém.

— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,

Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátrias, tendes tectos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.

Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca princípio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou.

É uma onda que se alevantou.

É um átomo a mais que se animou...

Não sei para onde vou,

Não sei para onde vou

- Sei que não vou por aí!


Autor: José Régio.

Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=7ZA4mfovFOM

Aug 14, 202003:07
Ismália

Ismália

Ismália por Alexsandre da Silva Carvalho.


Quando Ismália enlouqueceu
Pôs-se na torre a sonhar
Viu uma lua no céu
Viu outra lua no mar

No sonho em que se perdeu
Banhou-se toda em luar
Queria subir ao céu
Queria descer ao mar

E num desvario seu
Na torre pôs-se a cantar
Estava perto do céu
Estava longe do mar

E como um anjo pendeu
As asas para voar
Queria a lua do céu
Queria a lua do mar

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par
Sua alma subiu ao céu
Seu corpo desceu ao mar

Autor: Alphonsus de Guimarães.

Aug 13, 202001:02
Elegia

Elegia

Elegia por Odilon Esteves.


Um dia, amor, tudo o que existe agora,

Tudo o que forma o nosso grande orgulho,

A pureza e o esplendor de nossas almas,

Terá morrido, sem deixar lembrança,

Na velha terra indiferente aos homens.


Nada do que hoje nos parece eterno

Terá ficado do naufrágio imenso.


Esquecidas de nós, as novas almas

Levantarão para as estrelas mudas

O milagre feliz dos novos sonhos,

Sem talvez meditar que a terra outrora

Vira prodígios e deslumbramentos

Semelhantes aos seus, sob um céu puro.


Uma névoa de pó terá coberto

As cidades vaidosas, onde os homens

Hoje, lutando, desvairados, sofrem.

E apenas raros monumentos tristes

Lembrarão, no candor da branca pedra,

A fronte sacratíssima de um sábio,

De um herói, de um guerreiro, de um poeta,

Que a glória cinja com a divina palma.


Novos deuses, em templos majestosos,

Receberão, no plácido silêncio,

O murmúrio das preces comovidas,

O perfumado fumo das oblatas

E o amor das multidões...

Ah! nesse tempo

Eu terei recebido dos destinos

O bem do esquecimento imperturbável...

Deste homem que hoje sou - das minhas crenças,

Dos meus sonhos de amor, dos meus desejos,

Das minhas ambições mais rutilantes -

Nada mais restará, nada, na terra!


Mas, quem sabe? Talvez, um dia, um homem,

Amigo das pesquisas minuciosas,

Visite longamente as bibliotecas,

Onde durmam os livros seculares,

Que as traças lentas vão destruindo a custo.

E esse homem, cheio de um amor antigo,

Curioso do viver das eras mortas,

Talvez encontre, entre outros livros velhos,

Estes versos que escrevo, e em que minha alma

Fala à tua alma em longas confidências.


E então, meu lindo amor, como evadidos

De um sepulcro, nós dois ressurgiremos

Aos olhos caridosos desse amigo,

Vindos das densas sombras do passado.


Talvez...

Seremos belos!

Nossa fronte,

Há de doirá-la a mesma juventude,

Que hoje nos cerca de um clarão sagrado!

Haverá nos teus lábios esse mesmo

Beijo vibrante que me trazes hoje!

E nos olhos terás o mesmo encanto

Que neles me seduz e prende agora!


Sim: no milagre desse instante ardente,

Nessa ressurreição maravilhosa,

Nós brilharemos juntos, aureolados

De um novo amor e de um carinho novo!


E então esse paciente amigo nosso

Volverá para nós, nos dias de hoje,

Toda a sua saudade religiosa,

E invejará, talvez, piedosamente,

Essa breve, ligeira hora de sonho,

Que hoje os destinos deixam que vivamos...


Autor: Múcio Leão.

Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=IzW8roQ95Gw

Aug 12, 202004:32
Pela Luz dos Olhos Teus

Pela Luz dos Olhos Teus

Pela Luz dos Olhos Teus por Paloma Leite.


Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar,
Ai que bom que isso é meu Deus,
Que frio que me dá o encontro desse olhar.
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só pra me provocar,
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar.
Meu amor, juro por Deus,
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar,
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará.
Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor, que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.


Autor: Vinicius de Moraes

Aug 11, 202000:55
Para Pintar o Retrato de Um Pássaro
Aug 10, 202002:52
A Catedral

A Catedral

A Catedral por Alexsandre da silva carvalho.


Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a bênção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"


Autor: Alphonsus de Guimaraens

Aug 09, 202001:55
Das Vantagens de Ser Bobo

Das Vantagens de Ser Bobo

Das Vantagens de Ser Bobo por Odilon Esteves.


- O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo.

- O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

- Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.

- O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem.

- Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas.

- O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver.

- O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoiévski.

- Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar-refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era a de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro.

- Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.

- O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem nota que venceu.

- Aviso: não confundir bobos com burros.

- Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a frase célebre: "Até tu, Brutus?"

- Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

- Os bobos, com suas palhaçadas, devem estar todos no céu.

- Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

- O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.

- Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.

- Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham vida.

- Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

- Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita o ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

- Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.

- É quase impossível evitar excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.


Autora: Clarice Lispector

Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=esx7h5NWfl0

Aug 08, 202004:05
Era noite de lua na minha alma

Era noite de lua na minha alma

Era noite de lua na minha alma por Alexsandre da Silva Carvalho.


Era noite de lua na minha alma

quando surgiste pela vez primeira:

em cada estrela, pelo azul em calma,

florescia uma flor em de laranjeira.


A esperança entreabria a verde palma

ante os meus olhos, tépida, fagueira,

como um aroma que inebria e acalma.

Romaria de amor, doce rameira!


E era um jardim de lírios. Suavemente

sorriu-me a tua boca enamorada,

como as flores que são como tu és...


- "Em que pensas?" - dissestes, a voz tremente

- "Senhora, penso que serás fanada como este lírio que te atira aos pés!"


Autor: Alphonsus de Guimaraens

Aug 07, 202001:02
O Homem; As Viagens

O Homem; As Viagens

O Homem; As Viagens por Odilon Esteves.


O homem, bicho da terra tão pequeno
Chateia-se na terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a lua
Desce cauteloso na lua
Pisa na lua
Planta bandeirola na lua
Experimenta a lua
Coloniza a lua
Civiliza a lua
Humaniza a lua.

Lua humanizada: tão igual à terra.
O homem chateia-se na lua.
Vamos para marte - ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em marte
Pisa em marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro - diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus.
O homem põe o pé em vênus,
Vê o visto - é isto?
Idem
Idem
Idem.

O homem funde a cuca se não for a júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira terra-a-terra.
O homem chega ao sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o sol, falso touro
Espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
Do solar a col-
Onizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver.


Autor: Carlos Drummond de Andrade

Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=mul0js51mWw

Aug 06, 202002:59
Pátria Minha

Pátria Minha

Pátria Minha por Odilon Esteves.


A minha pátria é como se não fosse, é íntima 
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo 
É minha pátria. Por isso, no exílio 
Assistindo dormir meu filho 
Choro de saudades de minha pátria. 

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi: 
Não sei. De fato, não sei 
Como, por que e quando a minha pátria 
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água 
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa 
Em longas lágrimas amargas. 

Vontade de beijar os olhos de minha pátria 
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... 
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias 
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos 
E sem meias, pátria minha 
Tão pobrinha! 

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho 
Pátria, eu semente que nasci do vento 
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço 
Em contato com a dor do tempo, eu elemento 
De ligação entre a ação e o pensamento 
Eu fio invisível no espaço de todo adeus 
Eu, o sem Deus! 

Tenho-te no entanto em mim como um gemido 
De flor; tenho-te como um amor morrido 
A quem se jurou; tenho-te como uma fé 
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito 
Nesta sala estrangeira com lareira 
E sem pé-direito. 

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra 
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra 
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu 
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz 
À espera de ver surgir a Cruz do Sul 
Que eu sabia, mas amanheceu... 

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha 
Amada, idolatrada, salve, salve! 
Que mais doce esperança acorrentada 
O não poder dizer-te: aguarda... 
Não tardo! 

Quero rever-te, pátria minha, e para 
Rever-te me esqueci de tudo 
Fui cego, estropiado, surdo, mudo 
Vi minha humilde morte cara a cara 
Rasguei poemas, mulheres, horizontes 
Fiquei simples, sem fontes. 

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta 
Lábaro não; a minha pátria é desolação 
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta 
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular 
Que bebe nuvem, come terra 
E urina mar. 

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem 
Uma quentura, um querer bem, um bem 
Um libertas quae sera tamen 
Que um dia traduzi num exame escrito: 
"Liberta que serás também" 
E repito! 

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa 
Que brinca em teus cabelos e te alisa 
Pátria minha, e perfuma o teu chão... 
Que vontade me vem de adormecer-me 
Entre teus doces montes, pátria minha 
Atento à fome em tuas entranhas 
E ao batuque em teu coração. 

Não te direi o nome, pátria minha 
Teu nome é pátria amada, é patriazinha 
Não rima com mãe gentil 
Vives em mim como uma filha, que és 
Uma ilha de ternura: a Ilha 
Brasil, talvez. 

Agora chamarei a amiga cotovia 
E pedirei que peça ao rouxinol do dia 
Que peça ao sabiá 
Para levar-te presto este avigrama: 
"Pátria minha, saudades de quem te ama… 
Vinicius de Moraes."


Autor: Vinicius de Moraes.

Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=bttERoftXxA

Aug 05, 202005:14
O Futuro

O Futuro

O Futuro por Marina Alves.


O futuro? Tem orelhas,
mas é surdo. E é manco.
Se arrasta, sem espanto
mais alheio do que lúcido
com o nosso despreparo.

Se fosse um deus amava o humano mas, como não existe,
o futuro tem de amansar seus ventos, marcando as peles,
as montanhas. Sendo um gênio, não é um exército
de cronogramas, nem de antecipações.

Tem firmeza de flor. E é
invisível, reconhecido
por seus efeitos de brisa,
furacão. Nunca adiado.
Não tem nada a ensinar
no entanto é um mestre
dizem os esgrimistas,
os observadores de saltos,
os gatos também
aprendem certos truques com ele.

E se ama os despreparados
lhe sabem tanto os que fazem
quanto os que esperam.
Os otimistas valem mais
valem quanto?
Cem bifurcações,
sucessivas gerações
de bem aventurados
que topam em pedras,
cicatrizam e correm
bem alimentados
com fome de mais
alimento.

São seus sinais
os imprevistos, os cavalos
os pontos cardeais
os cinco sentidos
e os setes buracos da cabeça.


Autora: Júlia de Carvalho Hansen

Aug 04, 202001:49
Vai Procurar
Aug 03, 202001:52
Cinco meninos, Cinco ratos

Cinco meninos, Cinco ratos

Cinco meninos, Cinco ratos por Babi Dias


Às 5 horas da tarde o vento faz o que nunca tinha feito

Deita baixo Alexandre, ele levanta-se, mas de novo é derrubado

E outra vez, e outra vez derrubado

Alexandre tem medo agora e já não se levanta,

Decide deixar que a tempestade passe.


Autor: Gonçalo M Tavares

Aug 02, 202000:34
Expulso Por Bom Motivo
Aug 01, 202002:06
Quem se Defende
Jul 31, 202000:41
Iemanjá dos Cinco Nomes

Iemanjá dos Cinco Nomes

Iemanjá dos Cinco Nomes por Babi Dias.


Ninguém no cais tem um nome só. Todos têm também um apelido ou abreviam o nome, ou o aumentam, ou lhe acrescentam qualquer coisa que recorde uma história, uma luta, um amor.

Iemanjá, que é dona do cais, dos saveiros, da vida deles todos, tem cinco nomes, cinco nomes doces que todo o mudo sabe. Ela se chama Iemanjá, sempre foi chamada assim e esse é seu verdadeiro nome, de dona das águas, de senhora dos oceanos. No entanto os canoeiros amam chamá-la D. Janaína, e os pretos, que são seus filhos mais diletos, que dançam para ela e mais que todos a temem, a chamam de Inaê, com devoção, ou fazem as suas súplicas à Princesa de Aiocá, rainha dessas terras misteriosas que se escondem na linha azul que as separa das outras terras. Porém, as mulheres do cais, que são simples e valentes, Rosa Palmeirão, as mulheres da vida, as mulheres casadas, as moças que esperam noivos, a tratam de D. Maria, que Maria é um nome bonito, é mesmo o mais bonito de todos, o mais venerado, e assim o dão a Iemanjá como um presente, como se lhe levassem uma caixa de sabonetes à sua pedra no Dique. Ela é sereia, é a mãe-d’água, a dona do mar, Iemanjá, D. Janaína, D. Maria, Inaê, Princesa de Aiocá.

Ela domina esses mares, ela adora a lua, que vem ver as noites sem nuvens, ela ama as músicas dos negros. Todo o ano se faz a festa de Iemanjá, no Dique e em Monte Serrat. Então a chamam por todos seus cinco nomes, dão-lhe todos os seus títulos, levam-lhe presentes, cantam para ela.


Autor: Jorge Amado.

Obra: Mar morto

Jul 30, 202001:55
O rei da criação, quem é
Jul 29, 202000:31
Crônica da cidade do Rio de Janeiro

Crônica da cidade do Rio de Janeiro

Crônica da cidade do Rio de Janeiro por Babi Dias.


No alto da noite do Rio de Janeiro, luminoso, generoso, o Cristo Redentor estende os braços. Debaixo desses braços os netos dos escravos encontram amparo.
Uma mulher descalça olha o Cristo, lá de baixo, e apontando seu fulgor, diz, muito tristemente:
— Daqui a pouco, já não estará mais aí. Ouvi dizer que vão tirar Ele daí.
— Não se preocupe — tranquiliza uma vizinha —. Não se preocupe: Ele volta.
A polícia mata muitos, e mais ainda mata a economia. Na cidade violenta soam tiros e também tambores: atabaques, ansiosos de consolo e de vingança, chamam deuses africanos. Cristo sozinho não basta.


Autor: Eduardo Galeano

Jul 28, 202000:59
Desabafo

Desabafo

Desabafo por Ludmila Guimarães.


Hoje o carro pode dormir do lado de fora,

minhas lembranças podem dormir do lado de fora,

eu vou dormir como se não tivesse responsabilidades,

que de fato não tenho.


Hoje minhas contas podem atrasar,

minha menstruação pode atrasar,

vou estar ocupada desestressando o céu que anda nervosinho e sem relâmpago.


Hoje pode bater saudade,

bater na cara,

bater na porta.


Hoje eu não me abro para ninguém,

vou fazer segredo para o espelho.


Hoje eu quero respirar poesia,

respingar inocência,

refletir ternura sem assinar um termo de consentimento.


Autora: Samelly Xavier

Jul 27, 202001:09
Café da Manhã
Jul 26, 202001:53
Poesia
Jul 25, 202000:39
Grande Sertão Veredas

Grande Sertão Veredas

Grande Sertão Veredas por Ludmila Guimarães.


"...O certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundezas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma..."


Autor: Guimarães Rosa

Jul 23, 202000:38
Por Não Estarem Distraídos

Por Não Estarem Distraídos

Por Não Estarem Distraídos por Odilon Esteves


Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas, as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!  Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam mais bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que já eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.


Autor: Clarice Lispector.

Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=-cNvo25PiTM

Jul 23, 202002:58
Mulher da Vida

Mulher da Vida

Mulher da Vida por Babi Dias


Mulher da Vida,
Minha irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades
e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos,
apelidos e ápodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à toa.
Mulher da vida,
Minha irmã.


Autora: Cora Coralina

Jul 21, 202000:38
Ensinamento
Jul 21, 202001:12
Da Felicidade

Da Felicidade

Da Felicidade por Babi Dias


Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!


Autor: Mário Quintana

Jul 20, 202000:26
A Palavra Mágica
Jul 19, 202000:45
Livro do Desassossego, 246

Livro do Desassossego, 246

Livro do Desassossego, 246 por Babi Dias.


Considerar todas as coisas que nos sucedem como acidentes ou episódios de um romance a que assistimos não com a atenção senão com a vida. Só com esta atitude poderemos vencer a malícia dos dias e os caprichos dos sucessos.


Autor: Fernando Pessoa.


Jul 17, 202000:33
Interlúdio

Interlúdio

Interlúdio por Babi Dias.


As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.

Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.

Fico ao teu lado.


Autora: Cecília Meireles.

Jul 17, 202000:41
Convite

Convite

Convite por Babi Dias.


Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.

Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.

As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.

Como a água do rio
que é água sempre nova.

Como cada dia
que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?


Autor: José Paulo Paes

Jul 15, 202000:37
Amar
Jul 15, 202001:53
Levantado do Chão

Levantado do Chão

Levantado do chão por Babi Dias.


E é esse o grande defeito dos destinos,

não fazem nada,

põe-se a espera, a ver, 

e nós é que temos que fazer tudo,

por exemplo,

aprender a falar e aprender a calar.


Autor: José Saramago

Jul 14, 202000:27
Quando me Fizeram Deixar o País
Jul 12, 202001:10
O medo

O medo

O medo por Babi Dias.


Certa manhã, ganhamos de presente um coelhinho das Índias.

Chegou em casa numa gaiola. Ao meio-dia, abri a porta da gaiola.

Voltei para casa ao anoitecer e o encontrei tal e qual o havia deixado: gaiola adentro, 

grudado nas barras, tremendo por causa do susto da liberdade.


Autor: Eduardo Galeano

Jul 12, 202000:33
Árvore
Jul 10, 202002:01
O Rei de Quase Tudo

O Rei de Quase Tudo

O Rei de Quase Tudo por Babi Dias.


"Esta narrativa escrita por Eliardo França tem como protagonista um rei. Este quanto mais tinha mais queria. Vivia, por isso, constantemente infeliz e insatisfeito. Na verdade, ele desejava ser o rei de tudo e não de quase tudo. Uma história bem contada sobre o comportamento humano e sua relação com o mundo a sua volta." 

Fonte: Global Editora.


Autor: Eliardo França.

Jul 10, 202002:11
Anos Atrás
Jul 08, 202001:38
A primeira mulher

A primeira mulher

A primeira mulher por Babi Dias.


Eu mãe de minhas filhas mãe,

Eu filha da minha mãe filha,

Eu igual a mulher que veio antes de mim e que me segue,

Eu forma, eu forno, eu força da vida,

Galeria de espelho, álbuns de retratos

De quantas mulheres se fazem a minha essência?


Autora: Marina Colasanti.

Jul 08, 202000:34
Esperemos
Jul 06, 202001:02
A Bailarina

A Bailarina

A Bailarina por Babi Dias.


Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá.

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta bem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.


Autora: Cecília Meireles.

Jul 05, 202000:52
De que Serve a Bondade

De que Serve a Bondade

De que Serve a Bondade por Babi Dias.


De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?

Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!

Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!


Autor: Bertold Brecht.

Jul 05, 202000:59
Poema em Linha Reta

Poema em Linha Reta

Poema em Linha Reta por Odilon Esteves.


Nunca conheci quem tivesse levado porrada
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita
Indesculpavelmente sujo

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, absurdo
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante
Que tenho sofrido enxovalhos e calado
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar
Eu, que quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Pra fora da possibilidade do soco
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia
Não, são todos o ideal, se os oiço e me falam
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil
Ó príncipes, meus irmãos

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado
Poderão ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Autor: Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=jz4_W2yfCWg

Jul 03, 202002:18
Levantado do chão

Levantado do chão

Levantado do chão por Babi Dias.


E é esse o grande defeito dos destinos, não fazem nada, põe se a espera, a ver.

E nós é que temos de fazer tudo, por exemplo, aprender a falar e aprender a calar.

Autor: José Saramago.

Jul 03, 202000:27
O ar e o vento

O ar e o vento

O ar e o vento por Babi Dias.


Pelos caminhos vou, como o burrinho de São Fernando, um pouquinho a pé e outro pouquinho andando. Às vezes me reconheço nos demais. Me reconheço nos que ficarão, nos amigos abrigos, loucos lindos de justiça e bichos voadores da beleza e demais vadios e mal cuidados que andam por ai e que por ai continuarão, como continuarão as estrelas da noite e as ondas do mar. Então, quando me reconheço neles, eu sou ar aprendendo a saber-me continuado no vento.

Acho que foi Vallejo, Cesar Vallejo, que disse que às vezes o vento muda de ar.

Quando eu já não estiver, o vento estará, continuara estando.


Autor: Eduardo Galeano.

Jul 01, 202000:55
Elogio do Aprendizado
Jun 30, 202001:12
A função da arte

A função da arte

A função da arte por Babi Dias.


Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.

Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.

Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.

E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:

– Me ajuda a olhar!


Autor: Eduardo Galeano.

Jun 29, 202000:52
Ao pé de sua criança

Ao pé de sua criança

Ao pé de sua criança por Babi Dias.


O pé da criança ainda não sabe que é pé,
e quer ser borboleta ou maçã.

Mas depois os vidros e as pedras,
as ruas, as escadas,
e os caminhos de terra dura
vão ensinando ao pé que não pode voar,
que não pode ser fruta redonda num ramo.

Então o pé da criança
foi derrotado, caiu
na batalha,
foi prisioneiro,
condenado a viver num sapato.

Pouco a pouco sem luz
foi conhecendo o mundo à sua maneira,
sem conhecer o outro pé, encerrado,
explorando a vida como um cego.


Autor: Pablo Neruda.

Jun 29, 202000:49
Namorada

Namorada

Namorada por Babi Dias.


Ela sorria na garupa da bicicleta

O amor se descuida.


Autor: João Carrascoso.

Jun 27, 202000:20